Afeganistão suspende diálogo com EUA sobre acordo de segurança

Presidente Karzai cancela as conversas sobre o futuro das tropas americanas no país, irritado com novo escritório do Talibã no Catar, destinado às negociações de paz.

O presidente do Afeganistão, Hamid Karzai, anunciou nesta quarta-feira (19/6) a suspensão de importantes negociações de segurança com os Estados Unidos, irritado com a abertura de um novo escritório do Talibã no Catar, destinado a facilitar as negociações de paz.

Negociações sobre o Acordo Bilateral de Segurança (BSA, na sigla em inglês) começaram neste ano com objetivo de definir os detalhes da presença militar dos EUA nos próximos anos, após a retirada das forças da coalizão internacional liderada pela Otan, programada para o fim de 2014.

Na terça-feira, a Otan transferiu formalmente à polícia e ao Exército locais a responsabilidade pela segurança do país. Cerca de 100 mil soldados estrangeiros, 68 mil deles dos EUA, devem deixar a região.

A decisão de Karzai ameaça arruinar os esforços dos EUA para iniciar um diálogo com o Talibã, que o presidente Barack Obama havia definido como um importante passo para acabar com os 12 anos de conflito.

No Iraque, onde a violência aumentou, os esforços para se chegar a um acordo semelhante fracassaram, após Bagdá se recusar a conceder imunidade aos soldados americanos.

EUA negociam com o Talibã

"Considerando a contradição entre os atos e as declarações feitas pelos Estados Unidos da América em relação ao processo de paz, o governo afegão suspendeu as negociações atualmente em curso em Cabul", disse o comunicado de Karzai.

Analistas acreditam que Karzai não esteja satisfeito com o papel dos EUA nas negociações com o Talibã. O anúncio do rompimento acontece logo após os Estados Unidos terem anunciado que vão negociar diretamente com o Talibã no novo escritório em Doha.

O movimento insurgente também parece ignorar o governo afegão no processo. Ninguém da embaixada afegã foi informado ou convidado para a inauguração do escritório.

Embora o Talibã não rejeite mais categoricamente negociações com Karzai, como havia feito anteriormente, o movimento afirmou que vai conversar com "os afegãos num momento adequado".

Autoridades informaram que representantes dos EUA e dos talibãs devem se encontrar nesta quinta-feira. Não houve menção sobre se autoridades afegãs estarão presentes na reunião. O Talibã rompeu contato com os EUA no ano passado e sempre se recusou a negociar com Cabul. Na terça-feira, o movimento afirmou que o escritório no Catar iria "abrir o diálogo entre o Talibã e o mundo."

Talibãs continuam ataques

Karzai disse no passado que o Afeganistão não pode ser deixado de lado em quaisquer negociações de paz com os talibãs. Ele chegou a ordenar o retorno do embaixador afegão no Catar, irritado com a notícia da abertura do escritório talibã em Doha. O líder afegão disse nesta terça-feira que deseja que as negociações de paz mudem logo de Doha para Cabul.

Segundo o porta-voz de Karzai, Aimal Faizi, o presidente afegão se irritou com o nome dado ao escritório de Emirado Islâmico do Afeganistão, que era o nome formal do país durante o domínio talibã.

Na quarta-feira, o talibã assumiu responsabilidade por um ataque de foguetes que matou quatro soldados americanos na terça-feira, na base militar de Bagram, no leste do Afeganistão, a maior mantida pelos EUA no país.

Mohammed Sohail Shaheen, no novo escritório de representação do Talibã em Doha, declarou à emissora árabe Al Jazeera que o movimento insurgente pretende continuar com os ataques e atentados, paralelamente às conversas com os EUA.

MD/dpa/rtr/afp

 

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