Liga Árabe questiona ataque e abala coalizão de EUA e Europa

Fernanda Godoy

NOVA YORK. A coalizão formada para a operação militar na Líbia sofreu seu primeiro abalo ontem, quando o secretário-geral da Liga Árabe, Amr Moussa, criticou os ataques executados pelas forças europeias e americanas, e afirmou que convocará uma nova reunião para reconsiderar o apoio árabe à zona de exclusão aérea. A concordância da Liga Árabe foi considerada uma pré-condição para a aprovação da resolução do Conselho de Segurança da ONU na semana passada.

– O que aconteceu é diferente dos objetivos da zona de exclusão aérea. O que queremos é a proteção da população civil, não o bombardeio de mais civis – disse Moussa, no Cairo, de acordo com a agência oficial de notícias do Egito.

A participação da força aérea de países árabes também havia sido prometida na quarta e na quinta-feira passadas, na ONU, pelo embaixador do Líbano, Nawaf Salam, e pelos embaixadores do Reino Unido e dos Estados Unidos, mas até ontem nenhum país árabe havia cedido aviões para os ataques à Líbia.

A Liga Árabe havia pedido a imposição da zona de exclusão aérea em reunião no Cairo, no sábado, dia 22. Três dias depois, o Líbano e a França apresentaram uma proposta ao Conselho de Segurança da ONU, que depois foi modificada para incluir a permissão de uso de "todas as medidas necessárias" para a proteção dos civis, um sinal verde para ações militares, com exceção apenas de uma invasão terrestre.
A União Africana pediu ontem moderação. Estava prevista a ida de cinco líderes africanos a Trípoli para tentar um diálogo com o ditador Muamar Kadafi, mas a viagem foi cancelada.

A Rússia, que se absteve na votação – junto com Brasil, China, Índia e Alemanha -, ontem pediu à comunidade internacional que interrompa o "uso indiscriminado" da força na Líbia. Em declaração divulgada pelo Ministério das Relações Exteriores, o governo russo afirma que os ataques incluíram alvos não-militares e que 48 civis teriam morrido em consequência disso. O governo chinês lamentou os ataques, afirmando, em nota, que a China "sempre se opõe ao uso da força militar nas relações internacionais".

O presidente da Venezuela, Hugo Chávez, acusou as forças ocidentais de causar a morte de civis com "ataques indiscriminados". Em seu programa dominical na TV e no radio, Chávez chamou a intervenção militar de "loucura imperialista", e afirmou que os Estados Unidos, a França e o Reino Unido não têm o direito de interferir. Chávez, que tem fortes laços com Kadafi, foi acompanhado em suas críticas pelo presidente da Nicarágua, Daniel Ortega, e pelo ex-presidente de Cuba Fidel Castro.

Compartilhar:

Leia também

Inscreva-se na nossa newsletter