Governo da Colômbia e guerrilha do ELN entram na quarta rodada de negociações em cenário de tensão

Nesta segunda-feira (14) tem início a quarta rodada de negociações entre o governo colombiano e a última guerrilha ativa do país, o Exército da Libertação Nacional (ELN). Um cessar-fogo histórico entre as duas partes foi instaurado no país no dia 3 deste mês. No entanto, a retomada das negociações ocorre em um contexto bastante tenso, com escândalos como a prisão de um dos filhos do presidente.

RFI

A retomada das negociações ocorre uma semana após um dos maiores escândalos políticos do país, a prisão do filho mais velho do presidente Gustavo Petro por lavagem de dinheiro. Além disso, houve ainda a divulgação de um plano de assassinato de um promotor, atribuído aos guerrilheiros do ELN.

Os dois eventos enfraquecem a imagem e a credibilidade, por um lado, do presidente da República e, por outro, da delegação guerrilheira, que se senta à mesa de negociações em Caracas nesta segunda-feira, já que a Venezuela faz a intermediação do processo de paz.

Cessar-fogo mantido

Apesar de tudo, o cessar-fogo bilateral de seis meses continua. Foram criadas comissões para acompanhar e avaliar o bom funcionamento da trégua, o que deve permitir diminuir as tensões e ajudar a abrir o diálogo para o fim definitivo do conflito armado.

É o que espera o presidente de esquerda Gustavo Petro, que aposta toda a sua estratégia de paz total no sucesso dessas negociações com os últimos guerrilheiros ativos no país. O ELN ainda teria milhares de homens e sua luta armada já dura quase 60 anos.

Colombianos estão cautelosos

Nas ruas de Medellín, as conversas sobre negociações com o ELN são discretas. Os colombianos sabem que o caminho será longo, mas a maioria quer acreditar.

Liliana Agudelo é enfermeira. Desde o início do cessar-fogo, ela se sente mais tranquila: “Os cidadãos ainda não se sentem seguros, principalmente com esses acontecimentos recentes com carros-bomba, sequestros. Portanto, ainda estamos ansiosos. Mas graças a esta notícia de cessar-fogo e negociações de paz, nos sentimos um pouco mais calmos.”

Brandon Guerrero também se mantém positivo. Esse nativo da região de Santander, uma das áreas mais afetadas pelo conflito com a guerrilha, prefere ver o copo meio cheio. “Em primeiro lugar, é importante fazer um trabalho interno para evitar que esses atos de violência se repitam”, diz. “Em segundo lugar, desarmar um grupo gera muitas mudanças, por exemplo, a redução do número de mortes, mantém a memória coletiva. Esses diálogos são muito importantes.”

Explosão de carro-bomba mata quatro policiais na Colômbia

Uma emboscada e a explosão de um carro-bomba atribuídos a dissidentes das Farc deixaram quatro policiais mortos no sudoeste da Colômbia neste fim de semana, em duas novas violações do cessar-fogo acordado pelas autoridades com os terroristas.

O carro-bomba foi detonado na madrugada de domingo (13), a cerca de 30 km do município de Morales, onde ocorreu a letal emboscada no sábado (12). A região é um bastião do Estado-Maior Central (EMC), o principal grupo de dissidentes do acordo de paz que desarmou a guerrilha Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) em 2017.

No final de maio, o presidente colombiano, Gustavo Petro, suspendeu em quatro departamentos do sul do país o acordo de cessar-fogo que havia sido feito com os rebeldes, após o assassinato de quatro menores. Manteve, no entanto, o cessar-fogo em Cauca, onde ocorreram dois ataques neste fim de semana. 

O Ministério da Defesa estabeleceu uma recompensa equivalente a 50 mil dólares (cerca de R$ 245,5 mil na cotação atual) por informações sobre o paradeiro de “Marlon Vásquez, líder da frente Jaime Martínez das dissidências, ou El Paisa, Samper e Martín”, que estariam por trás de ambas as ações.

Petro antecipou que amanhã terá uma reunião do conselho de segurança em Cauca, “em que medidas importantes serão tomadas”.

Sob a liderança de Iván Mordisco, o EMC faz parte dos grupos armados ilegais, com os quais Petro quer negociar e chegar a um acordo sobre o desarmamento no âmbito da chamada “Paz Total”.

A oposição denuncia, porém, que os grupos armados têm aproveitado essa política para se fortalecer e atacar as forças de segurança.

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