“EUA mantêm estratégia no pós-Osama”

PATRICIA CAMPOS MELLO

Os EUA não farão "mudança dramática" no plano de defesa pós-Bin Laden, apesar das pressões políticas para reduzir logo a presença no Afeganistão agora que o terrorista está morto.


Segundo a subsecretária de Defesa dos EUA, Michèle Flournoy, a estratégia americana não muda enquanto não ficar claro que a morte levará o Taleban a negociar.

"Nós também estamos muito preocupados com alguns países sem governo ou subgovernados onde a Al Qaeda atua, particularmente o Iêmen", disse Michèle em entrevista exclusiva à Folha.

Ela veio ao Brasil anteontem para tratar da proposta dos EUA de vender seus caças da Boeing F-18 para a Força Aérea brasileira, em um negócio de US$ 10 bi que está em suspenso.

Folha – No novo mundo pós-Bin Laden, os EUA vão focar mais sua política de defesa em outras questões?
Michèle Flournoy – A morte de Bin Laden obviamente é um marco nos esforços para destruir a rede de terrorismo.

Nossa esperança é que leve alguns dos elementos que se alinhavam com a Al Qaeda a questionar esse posicionamento, ajudando em nossas tentativas de reconciliação no Afeganistão.

Mas nós não vamos fazer nenhuma mudança dramática em nossa política até que tenhamos evidências de que esse evento de fato alterou o cálculo do Taleban.

Nós também estamos muito preocupados com alguns países sem governo ou subgovernados onde a Al Qaeda atua, particularmente o Iêmen, que é um ponto de partida para várias tentativas de ataques contra os EUA e onde um de seus líderes [o clérigo Anwar al Awlaki] quer radicalizar pessoas que falam inglês.

A atuação dos EUA na Ásia vai mudar?
Historicamente, o papel dos EUA na Ásia tem sido o de um "equilibrador estratégico" e "principal parceiro de segurança" para muitos países na região. E isso vai se manter.

Nós apoiamos o crescimento de outras potências na região, como Índia e China, desde que elas mantenham a estabilidade e respeitem as leis internacionais.

Desde que todos concordem em não intimidar países menores. Todos os países continuam a buscar nos EUA um papel estabilizador.

O papel dos EUA na América Latina é semelhante?
Não, nós não servimos de contraponto a ninguém na América do Sul. O papel dos EUA na região mudou de forma dramática ao longo dos anos. A era de intervenção americana acabou.

Existe um certo ceticismo em relação ao compromisso dos EUA de transferirem tecnologia na venda dos caças F-18 ao Brasil. A sra. traz algo de novo na oferta?
O Congresso já aprovou previamente toda a transferência de tecnologia do pacote que oferecemos ao Brasil.

E quando olhamos para as licenças de exportação, 90% das vezes em que o Brasil pediu, nós autorizamos.

As pessoas costumam se lembrar do Super Tucano [em 2006, os EUA vetaram a venda de 24 unidades do avião brasileiro, que tem tecnologia americana, à Venezuela]…
Nós temos esse problema com todos os países, seja Reino Unido, Austrália… Precisamos de mecanismos de proteção para garantir que, quando a tecnologia for transferida para um terceiro país, estejamos de acordo.

O que a sra. acha de maior cooperação entre a Otan [aliança militar ocidental] e países do Atlântico Sul?
Desde os anos 90, a Otan usa o conceito de operações fora de área, que começou com os Bálcãs. Depois do 11 de Setembro, o conceito foi usado no Afeganistão.

Mas não haverá essa aplicação para o Atlântico Sul. Isso me lembra a peça de Shakespeare, é muito barulho por nada.

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