Dominó Árabe – Prisão de líder amplia pressão sobre Irmandade Muçulmana no Egito

A prisão nesta terça-feira do principal líder do movimento islâmico egípcio Irmandade Muçulmana, Mohammed Badie, ampliou a pressão sobre a organização, que tem apoiado protestos nas ruas do país desde que o presidente Mohammed Morsi foi afastado do poder em um golpe militar no mês passado.

Badie, de 70 anos, que era procurado pela polícia sob acusações de assassinato e incitação à violência, foi temporariamente substituído de sua função de guia supremo da Irmandade Muçulmana por Mahmoud Ezzat.

Segundo o correspondente da BBC no Cairo Kevin Connolly, as autoridades interinas egípcias rapidamente divulgaram na TV imagens de Badie após a prisão, e esperam que as imagens mostrem a escala da vitória dos militares sobre o movimento, ao qual é ligado Morsi.

Os militares também esperam que a humilhação de ver seu líder aprisionado enfraqueça “a voz da Irmandade Muçulmana em qualquer negociação política futura”.

O movimento “está sob imensa pressão do governo militar, e sua habilidade de funcionar como uma organização popular clandestina passará agora por um duro teste”, disse Connolly.

Novo guia supremo

Centenas de membros da Irmandade Muçulmana foram detidos, inclusive o vice de Badie, Khairat al-Shatir, preso dias depois da deposição de Morsi em 3 de julho.

Badie começou a se esconder depois que o governo interino ordenou às forças de segurança que desmobilizassem dois acampamentos de simpatizantes de Morsi na capital egípcia, na quarta-feira passada, deixando centenas de mortos.

Um filho de Badie, Ammar, de 38 anos, morreu nos confrontos entre a polícia e os manifestantes. O líder da Irmandade Muçulmana está sendo acusado pelas autoridades de ter incitado a violência e de ter envolvimento nas mortes de oito manifestantes contrários à Irmandade Muçulmana do lado de fora da sede do movimento em junho.

Membros do governo interino dizem que ele foi detido em um apartamento no bairro de Cidade Nasr, no nordeste do Cairo, perto do lugar onde um acampamento do movimento foi atacado de forma violenta por forças de segurança na semana passada.

Em uma entrevista à rede de TV ABC, dos Estados Unidos, o primeiro-ministro interino do Egito, Hazem el-Beblawi, disse Badie será tratado de acordo com a lei do país. Não é a primeira vez que Badie é preso. A primeira ocorreu na década de 1960.

Condenação

A Irmandade Muçulmana condenou a prisão e afirmou que ela faz parte de uma conspiração contra a revolução de 2011 que derrubou o ex-presidente Hosni Mubarack.

"Ele é de grande valor para nós e estamos machucados. Mas a Irmandade opera como uma coalisão em todos os níveis da sociedade e essa prisão não vai afetar nossas operações e nosso direito de protestar pacificamente" disse Khaled Hanafi, um membro do Partido Liberdade e Justiça, o braço político do movimento.

Também no Egito, o ex-vice-presidente Mohamed ElBaradei, deve ser julgado pela acusação de violar a confiança nacional depois de renunciar na semana passada.

Ao menos 900 pessoas foram mortas no país desde a última quarta-feira. Entre elas 36 manifestantes islâmicos que morreram dentro de um veículo de transporte de presos no Cairo no domingo.

A agência de Direitos Humanos da ONU disse que as mortes dos detidos são "profundamente preocupantes e devem ser totalmente investigadas".

A porta-voz do órgão Elizabeth Throssell disse que os presos devem ser "tratados de forma humana" e de acordo com leis internacionais. Ela pediu que o Egito permita que funcionários do órgão tenham o acesso liberado a lugares relacionados ao episódio.

O Egito está em estado de emergência enquanto seus líderes interinos, apoiados pelos militares do país, reprimem manifestantes islâmicos contrários à deposição do presidente Mohammed Morsi. Os chanceleres da União Europeia devem se encontrar na quarta-feira para decidir se devem cortar parte dos bilhões de euros em ajuda prometida ao Egito.

Mubarak

O Egito está respeitando oficialmente três dias de luto pelas mortes de 25 policiais. Eles foram assassinados na segunda-feira por militantes islâmicos perto de Rafah, na fronteira com Gaza, na península do Sinai. Esse foi um dos ataques mais violentos contra forças de segurança em muitos anos.

A região serve de abrigo para muitos grupos diferentes de militantes, alguns ligados à al-Qaeda. Segundo o correspndente da BBC Jeremy Bowen, a mídia estatal não culpou a Irmandade Muçulmana pelos assassinatos.

Ataques de militantes islâmicos contra forças de segurança egípcias tem acontecido no norte da península desde 2011, mas se tornaram quase diários nas últimas semanas.

Enquanto isso, promotores egípcios acrescentaram mais 15 dias ao período de detenção de Morsi. Eles afirmaram que estão investigando novas alegações contra o ex-presidente.

Ele teria sido acusado de cumplicidade em atos de violência contra manifestantes contrários a seu governo próximo ao palácio presidencial em dezembro.

Seu período de detenção já havia sido extendido em 30 dias na última quinta-feira. Já o ex-presidente Hosni Mubarak poderia ser liberado em breve, segundo seus advogados. Eles afirmaram que Mubarak pode ser inocentado de acusações de corrupção.

O ex-presidente está enfrentando um novo julgamento por corrupção e por supostos assassinatos de manifestantes em 2011 durante a revolta que derrubou seu governo.

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