Gilberto Carvalho: Não tinha só elite branca no Itaquerão

BRASÍLIA – Com o Congresso Nacional e a imprensa na mira, o ministro da Secretaria Geral da Presidência, Gilberto Carvalho, passou duas horas nesta quarta-feira articulando com blogueiros, ativistas e jornalistas pró-governo estratégias para enfrentar nas redes sociais, instâncias governamentais e nas ruas a guerra pela aprovação do polêmico decreto da presidente Dilma Rousseff que cria conselhos de participação popular na formulação de políticas públicas. Durante a reunião, realizada no Palácio do Planalto e transmitida pela internet, houve muita cobrança para que o governo leve a frente projetos de regulação de mídia e redistribuição de verba publicitária, além de críticas aos partidos da base por não apoiar o decreto.

Nos discursos em que pediu apoio dos blogueiros e ativistas, Gilberto alertou que o governo enfrenta uma correlação de forças cada dia mais complicada e essa será a eleição mais dura para o PT. Ele admitiu que o governo não travou como devia o debate para responder a "pancadaria" da mídia, que segundo ele, resultaram nos ataques a Dilma no estádio do Itaquerão. Contrariando Lula, Carvalho disse que não tinha só "elite branca" entre os que xingaram a presidente . Ele reconheceu que as denúncias feitas pela imprensa sobre aparelhamento do governo e de não enfrentamento da corrupção, tiveram impacto não só na elite, mas também nas classes mais baixas.

– Não fizemos o debate na mídia para valer. Passamos esse tempo todo com uma pancadaria diária deu resultado. Essa pancadaria diária é o que resultou no palavrão para a presidente Dilma lá no Itaquerão. E me permitam pessoal! Lá no Itaquerão não tinha só elite branca lá não! Eu fui para o jogo, não no estádio, fiquei ali pertinho numa escola, para acompanhar os movimentos. Eu fui e voltei de metrô. Não tinha só elite no metrô não! Tinha muito moleque gritando palavrão dentro do metrô que não tinha nada a ver com elite branca – contou Carvalho, completando:

– A coisa desceu! Tá? Isso foi gotejando, água mole em pedra dura, esse cacete diário de que não enfrentamos a corrupção, que aparelhamos o estado, que nós somos um bando de aventureiros que veio aqui para se locupletar, essa história pegou! Na classe média, na elite da classe média e vai gotejando, vai descendo! Porque não demos combate, não conseguimos fazer o contraponto. Essa eleição agora vai ser a mais difícil de todas.

Na avaliação feita ao final do debate, Gilberto Carvalho alertou que os aliados não estão sabendo travar o debate nas redes sociais.

– Estamos no limiar de um novo tempo. Há uma mudança brutal nas formas de organização nas redes. Nós, sinceramente, não estamos preparados, ainda estamos tentando entender – disse.

Mas o tom do ministro Gilberto Carvalho, longe de parecer um recuo, era de partir para cima para aprovar de qualquer jeito o decreto dos conselhos populares. Disse que há uma onda propalada inicialmente pelos meios de comunicação para, nitidamente, travar uma guerra ideológica contra qualquer tentativa de democratização e uma enorme pressão sobre o Congresso Nacional. E citou os projetos de decreto legislativo apresentados pelo DEM, PPS e PSDB para anular o decreto de Dilma, que conta com o apoio do principal aliado do governo, o PMDB.

– A gente foi surpreendido e ficamos um pouco assustados com essa reação que não esperávamos, mas hoje avaliamos que esse é um bom combate, um debate que nos interessa. Nossa atitude agora não é de nos insurgir contra o Congresso, rivalizar com o Congresso, mas de propor ao Congresso transformar esse limão numa limonada, abrir um debate público sobre a participação popular no país. O decreto não tem que ser revogado, mas podemos pensar em um projeto de lei que avance nas questões, na linha de novas linguagens, que respondam ao que as ruas demandaram e continuam demandando discursou Carvalho.

– Há uma vigilância permanente por um conservadorismo muito marcado, que tem vindo muito acompanhado de um certo ódio e adjetivação absurda da esquerda, muito presente e que se expressa de uma forma muito forte, por razões óbvias, nos meios de comunicação. Isso nãos nos surpreende, pelo contrário, nos estimula a provocar esse debate. O que está em jogo é o debate pela hegemonia política nesse país que vai muito além do significado desse decreto. O decreto vale hoje mais pelo que significa, do que pelo que diz o seu texto. Temos de comprar essa briga! – conclamou Gilberto.

E todos prometeram se alinhar na "trincheira" para disputar com os opositores ao decreto. Começou com Marcelo Branco, ativista do Software Livre e responsável pelas redes sociais na primeira campanha da presidente Dilma, que prometeu estar junto na briga.

– Fiquei estarrecido! Com tudo que aconteceu nesse país, como ainda pode ter forças contra a participação popular nas decisões do governo? – protestou Marcelo Branco

Representando a Revista Forum, o jornalista Renato Rovai acusou a mídia tradicional de organizar setores da política contra os avanços propostos. E criticou o governo por não usar a TV Brasil, emissora pública, para defender a proposta dos conselhos.

– Eu sei que o senhor não é o dono da TV Brasil, mas a TV Brasil não entra em nada! É preciso que o governo assuma seus riscos para animar os que estão assumindo riscos do lado de cá – cobrou Rovai.

O ativista Pablo Capilé, do coletivo Fora do Eixo, avaliou que num momento em que Cuba e o bolivarianismo estão no centro da disputa ideológica, era mesmo muito fácil que a discussão do decreto de Dilma se transformasse numa ferramenta nas mãos da oposição. Disse que o governo Dilma falhou ao deixar que a grande imprensa fizesse a disputa como queria, e que falta um sistema público de comunicação para "empatar" e revidar as "porradas" da "mídia hegemônica".

Capilé disse ainda que Lula voltou a carga para aprovar a regulamentação da mídia, mas o governo não enfrentou esse debate e a mídia independente não tem financiamento nem uma política pública de comunicação para disputar com a grande mídia.

– Dos 413 deputados, 400 são de direita. Dos 83 senadores, 60 são de direita. Dos 27 governadores, 22 são de direita. O poder é de direita, como se governa desse jeito? Como estabelecer um equilíbrio para dar uma guinada para a esquerda? – discursou Capilé, dizendo ser fundamental a aprovação de um marco civil da organização social

Em sua fala Gilberto Carvalho disse que a reação ao decreto evidenciou que há na sociedade uma mudança importante: surgiu uma posição de direita militante que não tinha antes. E seguindo o padrão dos discursos do ex-presidente Lula, atribuiu aos meios de comunicação uma influência sobre a criação desse movimento.

– Há uma vigilância permanente por um conservadorismo muito marcado, que tem vindo muito acompanhado de um certo ódio e adjetivação absurda da esquerda, muito presente e que se expressa de uma forma muito forte, por razões óbvias, nos meios de comunicação. Isso nãos nos surpreende, pelo contrário, nos estimula a provocar esse debate. O que está em jogo é o debate pela hegemonia política nesse país que vai muito além do significado desse decreto. O decreto vale hoje mais pelo que significa, do que pelo que diz o seu texto. Temos de comprar essa briga! – conclamou Gilberto.

E todos prometeram se alinhar na "trincheira" para disputar com os opositores ao decreto. Começou com Marcelo Branco, ativista do Software Livre e responsável pelas redes sociais na primeira campanha da presidente Dilma, que prometeu estar junto na briga.

– Fiquei estarrecido! Com tudo que aconteceu nesse país, como ainda pode ter forças contra a participação popular nas decisões do governo? – protestou Marcelo Branco

Representando a Revista Forum, o jornalista Renato Rovai acusou a mídia tradicional de organizar setores da política contra os avanços propostos. E criticou o governo por não usar a TV Brasil, emissora pública, para defender a proposta dos conselhos.

– Eu sei que o senhor não é o dono da TV Brasil, mas a TV Brasil não entra em nada! É preciso que o governo assuma seus riscos para animar os que estão assumindo riscos do lado de cá – cobrou Rovai.

O ativista Pablo Capilé, do coletivo Fora do Eixo, avaliou que num momento em que Cuba e o bolivarianismo estão no centro da disputa ideológica, era mesmo muito fácil que a discussão do decreto de Dilma se transformasse numa ferramenta nas mãos da oposição. Disse que o governo Dilma falhou ao deixar que a grande imprensa fizesse a disputa como queria, e que falta um sistema público de comunicação para "empatar" e revidar as "porradas" da "mídia hegemônica".

Capilé disse ainda que Lula voltou a carga para aprovar a regulamentação da mídia, mas o governo não enfrentou esse debate e a mídia independente não tem financiamento nem uma política pública de comunicação para disputar com a grande mídia.

– Dos 413 deputados, 400 são de direita. Dos 83 senadores, 60 são de direita. Dos 27 governadores, 22 são de direita. O poder é de direita, como se governa desse jeito? Como estabelecer um equilíbrio para dar uma guinada para a esquerda? – discursou Capilé, dizendo ser fundamental a aprovação de um marco civil da organização social.

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