Tráfico internacional de drogas usa área como rota

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PONTA PORÃ (MS) Como o Assentamento Itamarati está localizado a menos de mil metros da fronteira com o Paraguai e a poucos quilômetros dos maiores produtores de maconha e cocaína do mundo, a área se transformou num entreposto da droga. Traficantes vem adquirindo lotes no interior do assentamento, utilizado como rota de transporte da droga paraguaia e boliviana que entra no Brasil pela fronteira seca de 700 km com o Mato Grosso do Sul. Os traficantes cortam as esburacadas e pouco conhecidas estradas vicinais para levar aos grandes centros não apenas drogas, mas pesado armamento e cigarros.

A Força Nacional chegou a instalar uma base no interior do assentamento, mas uma ação do Ministério Público Federal, que questionou a legalidade da ocupação militar, provocou a retirada dos soldados, aumentando ainda mais o clima de insegurança no coração do programa de reforma agrária.

A polícia descobriu no ano passado a existência de dois laboratórios de cocaína dentro da Itamarati, levando ao desencadeamento da "Operação Copo Sujo", com centenas de policiais e presença da Força Nacional. Atualmente, 18 moradores do assentamento estão presos por tráfico de drogas. O delegado Jorge André Santos Figueiredo, da Polícia Federal, tem informações de que muita gente transporta a droga até de bicicleta, ou dentro de sacos, no chamado tráfico formiguinha.

– A fronteira brasileira é de 16 mil km, dos quais 700 km de fronteira seca no Mato Grosso do Sul, inclusive Ponta Porã e no assentamento Itamarati. Como os traficantes colombianos, bolivianos e peruanos temem a lei do abate de seus aviões, estão levando a droga para o Paraguai, e de lá entrando com facilidade no Brasil. O assentamento é uma dessas rotas – garante o juiz Odilon Oliveira, que comanda a vara contra crimes financeiros e lavagem de dinheiro no estado.

 Desafio é geração de renda

O superintendente do Incra em Mato Grosso do Sul, Celso Cestari, admite problemas no Assentamento Itamarati e diz que o maior desafio ainda é o de melhorar a renda dos assentados. Confirma a existência de ilegalidades no local, mas diz que está trabalhando para retomar as atividades do órgão, paralisadas por causa da corrupção que dominou a administração anterior. Essa retomada, inclui a reabertura do escritório do Incra no interior do assentamento de Ponta Porã, um dos maiores do Brasil. Reconhece que houve erros na seleção dos assentados, nem sempre dispostos a ter a atividade agrícola como meio de vida, mas garante que o projeto vai dar certo e que em breve começará a titular as terras, desatando o nó da falta de financiamentos na rede bancária.

– Vamos fazer a reorganização social da produção no local. Estamos reunindo os movimentos sociais para discutir como retomaremos os projetos da reforma agrária. Temos que dar a mão a palmatória quanto à falta de financiamentos para os assentados. Muitos venderam os lotes, mas fizemos um levantamento nesse assentamento e verificamos que 80% das famílias permanecem com seus lotes regularmente – disse Cestari, para quem menos de 15% comercializaram ilegalmente os lotes obtidos para a reforma agrária.

Sobre o tráfico, diz:

– O problema é que o assentamento virou uma grande cidade. Atualmente tem mais gente lá do que muitas cidades brasileiras.

O órgão afirma que, só no assentamento, investiu R$ 192,8 milhões para financiar as moradias. O Pronaf já distribuiu R$ 47,7 milhões em crédito.

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