
COBERTURA ESPECIAL - Modernização FAB - Aviação
Satélite de alta precisão reforça monitoramento da FAB durante Jogos Olímpicos
Imagens captadas diariamente alimentarão órgãos de inteligência nos próximos quatro meses
Tenente Jussara Peccini
Imagine conseguir identificar com precisão o número de pessoas dentro de um campo de futebol por meio de uma imagem de satélite. Essa é a capacidade do equipamento israelense de observação chamado EROS-B (Earth Remote Observation System-B). A nova ferramenta (antena e sala de recepção de imagens) instalada no Comando de Defesa Aeroespacial Brasileiro (COMDABRA), em Brasília (DF), nesta semana, estará à disposição dos órgãos de inteligência brasileiros nos próximos quatro meses e será utilizada para monitorar áreas de interesse durante os Jogos Olímpicos Rio 2016.
O satélite, de órbita baixa, fica a cerca de 520km distante da Terra, e tem resolução de 70 centímetros, medida usada para indicar a precisão do equipamento na identificação de alvos.
“Será uma ferramenta adicional extremamente poderosa para nos dar informação e prover segurança para os Jogos Olímpicos”, afirmou o ministro da Defesa, Raul Jungmann, na segunda-feira (20/06) após conhecer as capacidades do equipamento. “É uma tecnologia de ponta que vai nos permitir, em questão de minutos, deslocar de uma área para outra e tem uma faixa de cobertura que permite acompanhar qualquer movimento dentro daquilo que acontecer dentro dos jogos olímpicos”, complementou.
Até o final de setembro, o equipamento realizará 145 "voos" sobre o Brasil. A antena de apenas 1,5 metro permite receber imagens em tempo real produzidas quando o equipamento sobrevoa o País de Manaus ao Chuí. A câmera tem a capacidade de captar imagens dentro de uma faixa com largura de 7km e é capaz de produzir cerca de três vezes mais imagens, comparado a outros satélites. Isso se deve ao fato de o equipamento ser “extremamente manobrável”, como classifica o Comandante do Núcleo do Centro de Operações Principal (NuCOPE-P), Coronel Hélcio Vieira Junior.
“Por ser um satélite leve, é possível manobrar, apontar para o alvo e manobrar rapidamente para outro alvo. Como o satélite tem uma velocidade de 7,5km por segundo, quanto mais rápido for manobrado, mais tempo terá para registrar imagens de interesse”, explica o militar que coordenada o processo de implantação.
Uma equipe de técnicos israelenses acompanha a primeira semana da demonstração. Cerca de dez profissionais brasileiros, entre operadores e analistas de imagem, foram treinados em Israel.
Camada extra - O satélite atua como uma camada extra no sistema de monitoramento e vigilância do Brasil. Por meio das imagens, os órgãos de inteligência conseguirão direcionar outras ferramentas com mais objetividade e economia, como aeronaves de alerta em voo, veículos aéreos não tripulados, helicópteros ou câmeras. “Com as imagens de satélite é possível direcionar as demais capacidades de monitoramento com mais agilidade e precisão”, prevê o Coronel Hélcio.
O EROS-B é um satélite de alta precisão em órbita desde 2006. O Comando da Aeronáutica fez um acordo de cooperação com a empresa Imagesat, que opera o satélite, para uso do produto pelo período de quatro meses sem custos para o governo brasileiro. A instituição busca apoio em outros órgãos governamentais que possam ter nas imagens uma ferramenta imprescindível. Um único contrato de locação poderá beneficiar diversos órgãos governamentais e permitir que a tecnologia tenha uso dual, ou seja, além de atender a demandas de defesa, como identificação de pistas de pouso ou rotas clandestinas, pode ser usado para fornecer informações a outras áreas, como agricultura e pesca de precisão, ordenamento territorial, uso e ocupação do solo, dentre outros. “A ideia é que todos os órgãos que tenham interesse possam conhecer esta ferramenta que temos disponível”, afirma o Coronel Hélcio.
Neste acordo de cooperação, os militares brasileiros determinam quais áreas serão imageadas, planejam no software do satélite quais são possíveis de serem coletadas em cada “passe” do EROS-B (sempre procurando maximizar o número de coletas). Após o satélite imagear as áreas programadas, as imagens são descarregadas diretamente em território nacional. Com isto, todo o ciclo de planejamento, execução e posterior análise das imagens é encurtado de dias para horas. "Fazer o processo do recebimento do pedido até a produção do conhecimento ficar mais rápido é o grande gol deste empreendimento", afirma o Comandante do NuCOPE-P.
Em Brasília, ministro da Defesa conhece órgãos de controle e de defesa aérea
O ministro da Defesa, Raul Jungmann, conheceu na segunda-feira (20/06) organizações militares da Força Aérea Brasileira (FAB) que atuam no controle do espaço aéreo e na defesa aeroespacial brasileira. Acompanhado pelo Comandante da Aeronáutica, Tenente-Brigadeiro do Ar Nivaldo Luiz Rossato, ele conheceu duas unidades estratégicas e que terão, também, atuação direta durante os Jogos Olímpicos e Paralímpicos Rio 2016, no gerenciamento do espaço aéreo e na interceptação de aeronaves em voos irregulares.
"É importante dizer que temos, em relação a preparação, no que diz respeito a área aeroespacial, todo o dispositivo pronto e devidamente equipado para entrar em funcionamento com todos os protocolos definidos e devidamente consensualizados, além de um centro de controle 24h para acompanhar o desenvolvimento dos jogos”, afirmou Jungmann.
Também integraram a comitiva o Secretário Geral do Ministério da Defesa, General de Exército Joaquim Silva e Luna, e o Chefe do Estado-Maior Conjunto das Forças Armadas, Almirante de Esquadra Ademir Sobrinho, além de oficiais-generais da Aeronáutica.
No Primeiro Centro Integrado de Defesa Aérea e Controle de Tráfego Aéreo (CINDACTA I), a comitiva acompanhou o trabalho dos controladores de tráfego aéreo do Centro de Controle de Área (ACC) e do Centro de Operações Militares (COpM). O órgão, que completou 40 anos neste ano, abrange uma área de 1,5 milhão de km2 no centro do País e registrou, em 2015, 549 mil movimentos aéreos, com uma média de 1,6 mil por dia. “Trabalhamos de maneira ininterrupta. A gente não para, por isso temos que ter sistema de alta confiabilidade”, disse o Brigadeiro do Ar Gustavo Adolfo Camargo de Oliveira, comandante do CINDACTA I.
O oficial-general também apresentou a estrutura de controle de tráfego aéreo brasileiro e os serviços prestados, o que inclui busca e salvamento e meteorologia. Por tratados internacionais, o Brasil tem sob sua responsabilidade uma área de 22 milhões de Km2.
No COMDABRA, o Major-Brigadeiro do Ar Mário Luis da Silva Jordão, apresentou a estrutura que compõe o sistema defesa aeroespacial brasileiro, único comando conjunto permanentemente ativado. O oficial-general destacou as alterações recentes efetuadas no órgão, que centralizou a estrutura de comando e controle, que não precisam mais ser deslocadas a cada operação. “É um ganho em economia de recursos e em eficácia e eficiência operacional”, ressaltou o Comandante do COMDABRA.
Em relação aos Jogos Olímpicos, o oficial-general apresentou as áreas de exclusão aérea que serão ativadas durante as competições no Rio de Janeiro (áreas vermelha, amarela e branca) e como são efetuadas as medidas de policiamento aéreo.
Sistema integrado - Em 1976, a Aeronáutica tornou realidade uma das inovações mais marcantes da sua história. Entrava em operação o Primeiro Centro Integrado de Defesa Aérea e Controle de Tráfego Aéreo, o CINDACTA I. Foi a primeira organização de todo o planeta a integrar o controle de operações aéreas civis e militares.
Os estudos para tornar o Sistema Integrado de Controle do Espaço Aéreo começaram em 1969, ao mesmo tempo em que o Ministério da Aeronáutica buscava adquirir um caça supersônico para missões de interceptação aérea. Em 1972, chegava à cidade de Anápolis (GO) o primeiro jato Mirage III.
Uma das principais vantagens do sistema é a economia: uma mesma rede de radares e centros de controle espalhados geograficamente pelo território nacional fornecem, em tempo real, o posicionamento de todas as aeronaves voando no Brasil. “O sistema foi concebido integrado para obter economia de escala”, reforça o Brigadeiro Gustavo. "Além da economia, as vantagens incluem coordenação e segurança", complementa o Major-Brigadeiro Jordão.