Alerta de que brasileiro estivesse planejando atentado terrorista era falso, diz governo francês

Tânia Monteiro

O governo francês encaminhou ao Ministério da Defesa do Brasil um documento no qual reconhece ser “falsa” a informação que constava do alerta dado sobre a possibilidade de ocorrência de um atentado terrorista contra a delegação da França, durante a realização dos Jogos Olímpicos, que serão realizados de cinco a 21 de agosto, no Rio de Janeiro. O alerta veio a público no dia 12 de julho, mas havia sido divulgado no dia 26 de maio pelo chefe da Direção de Informação Militar (DRM) – um dos serviços secretos da França -, o general Christophe Gomart, à Comissão Parlamentar de Inquérito que investigou os atentados de 13 de novembro em Paris e Saint-Denis.

Segundo as informações divulgadas aos parlamentares, naquela época, o ataque seria cometido por um brasileiro, em nome do grupo jihadista Estado Islâmico, que teria como o alvo a delegação francesa. Em nota, o Palácio do Planalto informou que o diretor de Inteligência Militar da França justificou que “não é verdadeira” a informação de que “um brasileiro, supostamente vinculado ao Estado Islâmico, estaria planejando um atentado contra a delegação francesa durante os Jogos Rio 2016”.

Segundo informações repassadas ao Brasil pela embaixada francesa, o Diretor de Inteligência Militar da França não chegou transmitir aos serviços de inteligência brasileiros a possibilidade do ataque terrorista porque investigaram os dados recebidos e checaram a informação junto com as demais agências francesas, verificando que ela era “falsa”.

Mais tarde, a Agência Brasileira de Inteligência (Abin) também distribuiu uma nota informando que “todas as ameaças relacionadas aos Jogos Rio 2016 estão sendo minuciosamente apuradas, em particular as relacionadas ao terrorismo”. A Abin informou ainda que, na análise das informações recebidas em relação a ameaças, “muitas são descartadas” e “as que merecem atenção são exaustivamente investigadas”. De acordo com a agência, “devido à sensibilidade do tema, as ameaças são tratadas, de forma integrada, pelas unidades especializadas de enfrentamento ao terrorismo dos três eixos responsáveis pela Segurança dos Jogos Rio 2016 – Inteligência, Segurança Pública e Defesa”.

A intenção da divulgação da nota da Abin, pelo Planalto, é tentar tranquilizar atletas, turistas, demais países que estarão presentes com suas delegações no Brasil, além da população em geral, sobre o empenho do governo brasileiro na avaliação de todo e qualquer risco e demonstrar o reforço que foi dado ao setor. “Os órgãos responsáveis pelo planejamento dos Jogos Olímpicos e Paralímpicos reafirmam seu compromisso com a garantia integral da segurança de todos os presentes ao grande evento”, prossegue a nota da Abin.

No entanto, na área militar há uma grave preocupação, já transmitida ao Planalto, com a parte referente aos trabalhos que estão sob a responsabilidade da Secretaria de Grandes Eventos (Sesge). Os alertas transmitidos ao Planalto há um mês, por conta da Secretaria não ter conseguido levar para o Rio de Janeiro os 9,6 mil homens da Força Nacional para atuarem na segurança nas arenas e locais de disputa dos jogos. Até agora, apenas 3,5 mil policiais militares estariam chegando ao Rio. Para suprir esta lacuna, a Secretaria decidiu uma licitação para contratar cinco mil pessoas para fazerem o trabalho de operação de raio X e de detectores de metais. Eles estão sendo recrutados pela empresa Artel Recursos Humanos, de Itajaí, Santa Catarina, que ganhou a licitação ao preço de R$ 17,3 milhões para contratá-los e não tem qualquer experiência neste tipo de trabalho.

Para os militares “há um risco muito grande neste tipo de contratação” não só pela forma como está sendo feito, como pelo escasso tempo de treinamento deste pessoal, aliado com a impossibilidade de se fazerem checagens de cinco mil pessoas, que ainda não existem. A Secretaria rebate a informação dizendo que já dispõe deste pessoal e que os nomes deles já foram checados, embora a contratação ainda esteja sendo realizada.

A Sesge diz que “os profissionais do Departamento Penitenciário Nacional (Depen) atuarão no monitoramento e avaliação da operação de todos os equipamentos utilizados e que equipes do Departamento da Força Nacional de Segurança Pública (DFNSP) atuarão na supervisão da operação de segurança de controle do acesso às instalações, realizando, entre outras atividades, as revistas pessoais quando necessárias, além da checagem das credenciais e demais exigências de acesso às instalações”. A nota da Sesge diz ainda que “a empresa vencedora submeteu para avaliação de antecedentes cerca de 30 mil candidatos aptos à contratação”. Segundo informações obtidas pelo Estado, os órgãos de inteligência do governo não foram consultados sobre estas contratações e estão preocupados em relação a quando os nomes serão submetidos. Na Copa do Mundo, um grupo de pessoas que entraria em campo na cerimônia de abertura da competição, seja de voluntários, seja de contratados convocados pela Fifa eram ligados ao tráfico ou tinham condenações já na Justiça.

Outra grande preocupação dos militares é que, até agora, não foram instaladas as câmeras que iriam entregar o circuito integrado de TV, previstos para compor a segurança das áreas de competição. Estas câmeras de monitoramento teriam de funcionar permanentemente tanto na periferia quanto no interior das áreas dos jogos em Deodoro não ainda não foram colocadas. Há ainda problema com as frágeis cercas instaladas nas áreas de competição, que teriam de ser duplas e só há uma fileira.

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