COB nega polêmica e minimiza continência de atletas em Toronto


Marcio Dolzan, Nathalia Garcia e Paulo Favero
Enviados especiais a Toronto
Colaborou Jamil Chade

 

Atletas brasileiros estão gerando polêmica nos Jogos Pan-Americanos de Toronto ao baterem continência no pódio, durante a cerimônia de premiação. Eles são contratados pelas Forças Armadas do Brasil e, portanto, recebem apoio financeiro das Forças Armadas. Mayra Aguiar, Luciano Corrêa e outros judocas fizeram o gesto, assim como atletas da natação e de outras modalidades.
 
Eles afirmam que não são obrigados a fazer isso, mas revelam que houve uma recomendação para que o fizessem. "Prestar continência para a bandeira é uma recomendação. Pediram para a gente fazer, mas não somos obrigados", conta Mayra, que ganhou a medalha de prata no judô.

Ela explica que é terceiro sargento da Marinha e que se sentiu à vontade para fazer o gesto. "Para mim é um orgulho. Existe uma filosofia em ser militar, de respeitar as regras. E eu respeito a saudação", continua a judoca, que participou de treinos com o Exército antes do Pan de Toronto. "Até aprendi a atirar", afirma.

Luciano Corrêa também fez a continência no pódio e não vê polêmica no gesto. "Estou no Exército desde 2009 e logo no início da temporada fizemos um período de atividades onde fomos para a Escola de Oficiais. Aprendemos o que é o Exército brasileiro. Temos orgulho de representar nosso País", comentou.

Os atletas fazem o gesto no momento do Hino Nacional. Alguns enxergam o momento como uma manifestação política, o que o Comitê Olímpico Internacional (COI) proíbe. Também não se pode mostrar seus patrocinadores e nem apoiadores. Então, tanto do ponto de vista ideológico quanto do comercial, há interpretações de que a regra está sendo infringida.

Para Ricardo Leyser, secretário-executivo do Ministério do Esporte, o gesto não é um problema, mas poderia ser evitado. "Esse desempenho do Brasil é fruto do trabalho e do investimento de vários atores, como o governo federal, Comitê Olímpico [do Brasil], confederações, patrocinadores e militares. O que cria um incômodo é que nesses momentos do pódio alguém pode achar que um dos parceiros está se sobressaindo mais", diz.

Estima-se que 123 atletas do Pan têm relação com o Exército, Marinha ou Aeronáutica. A tendência é que o gesto se repita mais vezes em Toronto, com atletas que ainda vão disputar suas medalhas. Para o Comitê Olímpico do Brasil, é uma demonstração de patriotismo, sem qualquer conotação política. "O militar da ativa deve, em ocasiões solenes, prestar continência à Bandeira e ao Hino Nacional Brasileiro e de países amigos. É bom notar que esses atletas não são militares apenas quando estão fardados, mas sim, todo o tempo", disse a entidade, em nota.

O COI, que costuma se manifestar sobre polêmicas deste tipo nas Olimpíadas, preferiu não se manifestar sobre os episódios e jogou a responsabilidade para a organização do Pan de Toronto, que também não quis se manifestar. Para Leonardo de Deus, que ganhou ouro na natação, o gesto é feito em sinal de respeito. "Sempre quando o hino toca, por respeito, o militar tem que prestar continência, tem que ficar na forma de sentido. Isso é uma forma de respeito pela minha bandeira, pelo meu País, como militar."

ESQUECIMENTO

A judoca Érika Miranda é 3º sargento da Marinha, ganha um salário militar de quase R$ 3 mil e conquistou o primeiro ouro do Brasil no Pan. Só que, na hora do pódio, ela esqueceu de bater a continência. "Não foi decisão minha. Nas outras competições eu sempre faço. Eu me deixei levar pela emoção e esqueci. Sempre procuro fazer, somos militares, não é nenhuma obrigação, a gente se sente à vontade para fazer e os militares apoiam a gente em todas as competições que a gente participa."

Ela garante que não levou qualquer tipo de bronca pelo esquecimento e promete repetir a dose sempre que puder. "Depois falei: ''Meu Deus, eu esqueci''. A gente não pode utilizar os nossos patrocinadores, não pode falar do clube, então aqui temos de dar prioridade para o Time Brasil. É um gesto tão pequeno, mas esqueci de fazer. Não tomei bronca, mas foi bom, porque depois que esqueci, todos os outros lembraram. Vão ter outros pódios e muitas outras continências."

 

Confira a nota oficial do COB sobre a continência de atletas brasileiros subindo ao pódio nos Jogos Pan-Americanos de Toronto:

O projeto de parceria das Forças Armadas (FA) com o Comitê Olímpico do Brasil (COB) teve início em 2009. Naquela ocasião, o Brasil fora escolhido para sediar os V Jogos Mundiais Militares e precisava formar uma equipe de militares capaz de representar com sucesso o anfitrião do evento. Por outro lado, o COB entendeu que o apoio das FA seria de grande valia na preparação de nossos atletas de alto rendimento.

Para avaliar o desafio, uma equipe do Ministério da Defesa e do COB viajou à Europa e verificou como isso funcionava em países como Alemanha, França, Itália, Hungria, etc. A Marinha e o Exército decidiram então publicar editais com as condições para seleção e admissão dos candidatos. Concretizava-se um sonho antigo daqueles que acreditavam que o exemplo de outras nações tinha tudo para dar certo no nosso país. Recentemente, a Força Aérea aderiu ao programa. Ministério da Defesa, Ministério do Esporte e Comitê Olímpico do Brasil uniram ações e recursos para que todas as dificuldades fossem superadas.

O indiscutível sucesso dessa iniciativa se reflete em números altamente positivos. Os atletas foram criteriosamente selecionados e passaram por treinamentos duros e períodos de adaptação à nova situação profissional. Hoje, mais de trezentos deles  ganharam direitos e deveres da profissão militar. Com isso, se sentem ainda mais amparados para se superar a cada dia, em busca de vitórias que projetam o nome do Brasil. Dezenas de medalhas foram conquistadas por eles em competições internacionais de diferentes níveis.

Sobre o assunto que motivou essa introdução:

1- O Regulamento de Continências, Honras e Sinais de Respeito prevê que a "continência é a saudação do militar". É um sinal de respeito que deve ser prestado, estando ou não com a cabeça coberta. Reza ainda que o militar da ativa deve, em ocasiões solenes, prestar continência à Bandeira e Hino Nacional Brasileiro e de países amigos. É bom notar que esses atletas não são militares apenas quando estão fardados, mas sim, todo o tempo.  

2 – O COB entende, portanto, que a continência, além de regulamentar, quando prestada de forma espontânea e não obrigatória, é uma demonstração de patriotismo, sem qualquer conotação política, perfeitamente compatível com a emoção do atleta ao subir no pódio e se saber vencedor. Segundo muitos deles, representa também um reconhecimento pelo apoio que recebem das Forças Armadas e uma manifestação do orgulho que têm em representar o país.   
 
Atenciosamente,
Comitê Olímpico do Brasil

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