O que BRASIL e ARGENTINA Precisam Entender

                                                                                                            Paulo Ricardo da Rocha Paiva
                                                                                                      Coronel de Infantaria e Estado-Maior


Ainda outro dia Tio Sam experimentou, cheio de razão, uma “bomba supersônica” interessante, o ex-presidente Sarney, quando se refere ao acordo nuclear celebrado entre Brasil e Argentina à época do seu governo, se ufana como tivesse sido o arauto maior da paz no subcontinente: -“Por que eu e meu colega Alfonsín fizemos e acontecemos…” Ledo engano, pura patacoada de “cucaracho sul-americano” que nunca enxergou nem um palmo à frente do nariz. E continua o crédulo de carteirinha: -“Ah, porque agora o futuro dos dois países, sem desconfianças mútuas, aponta um rumo seguro para manutenção do equilíbrio e da paz na sul-américa.” Infelizmente, a miopia estratégica parece ser um mal congênito da classe política.

Façamos de conta que, ao invés do Zé, tivéssemos então o JOSÉ, um presidente sagaz, com visão de estadista e intuição prospectiva, que fosse, o Barão do Rio Branco, sim, aquele mesmo que nunca escondeu quanto à necessidade de se escorar a “grande diplomacia” no princípio basilar da “nação armada”. Como teria sido a conversa dele com o chefe de estado portenho. Parece que estou vendo JOSÉ Maria da Silva Paranhos Júnior (Barão do Rio Branco), chegar-se para Raúl Ricardo Alfonsín e segredar-lhe no olvido: -“Não vamos fazer o que eles querem… Alfonsín, tome tenência, você já perdeu as Malvinas, mas eu preciso manter a Amazônia! Vamos conversar pois é conversando que a gente se entende.” Este é o diálogo do diplomata.

Continua o nosso Barão, agora falando como chefe de estado, comandante-em-chefe de nossas, naquele tempo, não tão Desarmadas Forças: -“Vamos celebrar um tratado que lhe dê condições de exigir a posse das suas ilhas, sem guerra, e que me viabilize evitar o sacrifício do soldado brasileiro na Amazônia. Eu tenho pena deles, coitados, sempre em adestramento diuturno de uma estratégia da resistência, ralando em terreno de selva, insalubre, perigoso e aterrador.” Alfonsín, meio que já assustado e naturalmente desconfiado, pergunta: -“Mas como, tu não estás a me passar a perna?” Rio Branco, apaziguador: -“Vamos estabelecer um acordo a duas mãos, um projeto nuclear binacional, defensivo, a ser desenvolvido em arsenais comuns, com vistoria e assistência recíprocas. – Mas, Rio Branco, como obrar desta forma sem levantar suspeitas, as nossas torcidas de futebol civilizadas como são vão entrar em transe!”

– “Alfonsín, pense bem meu caro, as armadas de flibusteiros anglo-saxônicos estão a navegar no Atlântico Sul como nos velhos tempos do Capitão Gancho, mostrando suas garras, sem que exista um poder capaz de confrontá-las. Eu, pelo menos, já estou farto de ouvir mensaleiro no Congresso vociferando cheio de não me toques quando eles vêm pescar lagosta no nosso litoral. Será que você está com medo de ser incluído no eixo do mal. Ora, vamos e convenhamos, nós não somos nenhum talibã incompetente para soltar bombas na cabeça dos outros por qualquer motivo. Aliás, quem vive treinando este tipo de tiro alvo são os que estão de olho nos meus recursos hídricos e os que teimam em permanecer esquiando nas suas ilhotas. Meuhermano, vamos deixar o futebol de lado e raciocinar com aquilo que te custou o sangue e que vai acabar por custar o meu. Mano, quem dissuade não luta!”

E continua o Barão: -“Alfonsín, mano a mano, acorda… lápis e papel na mão e vamos redigir pensando no futuro como o fazem os espertos, mas, sobretudo, competentes povos de língua inglesa. Vamos alinhavar um pacto latino indissolúvel, uma parceria tecnológica e militar na área nuclear, porque somente com este grau de discernimento poderemos caminhar juntos, seguros e confiantes quanto à plena posse dos recursos naturais que nos aproximam neste cenário incerto que nos descortina.” Alfonsín, mais do que convencido, aquiesce.

De repente um estrondo, acordei do meu sonho, um caça da nossa frota obsoleta tinha caído no meu quintal. É duro ter que voltar à realidade, os pensamentos morféticos retornam de roldão: o fuzil do Exército, simplesmente não dá para acreditar, ainda é o do ano de 1965; nossa Marinha sem navios que decidam uma parada; a Comissão de Defesa do Senado presidida por um “caçador de marajás aposentado”, justo o responsável maior pela criação do “Kozovo Yanomany”… meu Deus do céu… bye bye Brasil, bye bye.

Publicado originalmente no DIÁRIO POPULAR DE PELOTAS/RS 

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