Setenta anos depois, Japão e EUA lembram a épica batalha de Iwo Jima

Quando Yoshitaka Shindo era um menino, ele não ouviu muito de sua família sobre seu avô Tadamichi Kuribayashi, comandante das tropas japonesas que lutaram e morreram na sangrenta batalha de Iwo Jima.

A batalha, em que cerca de 7.000 fuzileiros navais dos Estados Unidos e quase 22.000 japoneses morreram, ficou gravada na memória dos Estados Unidos por uma foto da Associated Press em que seis soldados levantam a bandeira norte-americana no monte Suribachi, na pequena ilha vulcânica de Iwo Jima.

Para muitos no Japão, porém, foi por muito tempo uma trágica derrota que era melhor esquecer.

"Os seres humanos não querem falar sobre o que é mais doloroso", disse Shindo, membro do conservador partido governista no Parlamento e ex-integrante do gabinete do primeiro-ministro Shinzo Abe, em uma entrevista à Reuters.

"Quando criança, disseram-me que o meu avô trabalhou diligentemente para o bem do país e que era uma pessoa muito gentil. Mas, quanto a detalhes, como o que aconteceu e quando, nem a minha avó nem minha mãe realmente falaram sobre isso."

O ministro da Defesa japonês, Gen Nakatani, e o ministro da Saúde, Yasuhisa Shiozaki, irão participar de uma cerimônia de recordação dos mortos com representantes dos Estados Unidos, no sábado, para marcar o 70º aniversário da épica batalha de 36 dias.

O cidadão comum no Japão está agora mais consciente da batalha -na qual apenas 1.083 japoneses que lutaram na defesa da ilha escaparam da morte- em parte por causa do filme "Cartas de Iwo Jima", de 2006, dirigido por Clint Eastwood e inspirado por cartas de Kuribayashi à sua família na véspera da batalha.

Mas os anos de silêncio deixaram uma lacuna que torna mais difícil transmitir as experiências da guerra aos japoneses mais jovens.

"Meu avô não gostava muito de falar sobre a guerra. À noite, ele gemia durante o sono. Ele gritava, por vezes, e eu achava que era por causa da guerra", disse Atsushi Hirano, de 22 anos, que já viajou a 11 campos de batalha, incluindo Iwo Jima, como parte de um grupo que recolhe os ossos de soldados caídos.

"Mas eu sempre pensei que não poderia perguntar sobre isso e, então, ele morreu há seis anos. Eu gostaria de ter lhe feito mais perguntas", disse Hirano, que estuda na universidade para se tornar professor.

A pequena ilha de Iwo Jima, que tem formato de uma lágrima, fica 1.000 km ao sul de Tóquio e foi o primeiro pedaço de solo nativo do Japão a ser invadido na Segunda Guerra Mundial. Os EUA queriam usá-la como base para caças de escolta dos bombardeiros B-29 que se dirigiam ao continente japonês.

Kuribayashi, que estudou em Harvard e serviu como adido militar nos Estados Unidos, tinha pouca esperança de vitória em um momento em que muitos líderes japoneses sabiam que a guerra estava perdida.

"A batalha se aproxima e, exceto quando estou cansado e dormindo, tudo o que eu penso é na luta feroz, em uma morte honrosa, e o que vai acontecer com você e as crianças depois disso", escreveu ele, que tinha três filhos.

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