ECOS II Guerra Mundial – Catarinenses procuram Lobo Solitário, abatido por americanos durante Segunda Guerra

Publicado Diário Catarinense
02 Julho 2011

 

Mauricio Frighetto


O mar estava calmo naquele 19 de julho de 1943. Da Baía Norte de Governador Celso Ramos, o hidroavião americano decola no início da manhã. Só no meio da tarde surge um ponto no radar. É o U-513, o submarino nazista Lobo Solitário, que tinha a missão de abater os navios dos aliados na costa do Atlântico Sul. O submarino já havia afundado três embarcações na costa brasileira. Bombas são jogadas do céu, acertam o alvo e o inimigo afunda. — Anota as coordenadas do local do naufrágio e a hora do ataque — ordena o piloto Roy Seldon Witcomb.

Informações como essa e outras retiradas de documentos pesquisados no Brasil, EUA e Alemanha, servirão de base para uma força-tarefa catarinense caçar o submarino nazista no fundo do mar. E o capitão do barco que irá procurá-lo tem experiências em aventuras: Vilfredo, 62 anos, o patriarca da família Schürmann.

Vilfredo, que junto com a família já deu duas voltas ao mundo com o veleiro Aysso, participava de uma regata, em 2002, quando ouviu a história pouco conhecida do submarino alemão afundado em Governador Celso Ramos durante a Segunda Guerra Mundial. Sugeriram que o catarinense o procurasse.

— Sou um velejador. Aí, pensei: como vou caçar um submarino? Mas aquilo ficou martelando na minha cabeça — conta Vilfredo.

Expedição submarina começa em julho

Aos poucos, a história foi mexendo com o capitão e sua família. E, após uma longa pesquisa, inclusive com viagens ao exterior, as buscas começaram no ano passado. A partir do dia nove desse mês, a equipe volta ao mar. A expectativa é de que, até agosto, o U-513 possa ser encontrado.

Tanto pela história do submarino quanto como pela da família Schürmann, outros voluntários começaram a se juntar à expedição, formando uma espécie de força-tarefa. Um deles é o oceanógrafo Rafael Medeiros Sperb, professor da Univali. Sperb ajudou a definir a área onde será feita a pesquisa em alto mar, a 83 quilômetros a leste da Ilha do Arvoredo. Foram usado subsídios como as coordenadas do ataque e a rota do navio USS Barnegat, que saiu da Baía Norte para resgatar os sobreviventes. E informações dos pescadores ajudam.

— Poder vivenciar isso é fantástico. É um livro sendo escrito — diz o professor.

Adesão acadêmica

Na semana passada houve uma nova adesão, oficializada em acordo entre o Instituto Kat Schürmann, responsável pela missão, e a Univali. A universidade disponibiliza equipamentos e mão de obra. E os estudantes de Oceanografia participarão da aventura. Outra novidade é um equipamento: o magnetômetro de césio, da empresa CPE Coastal Planning e Enginnering do Brasil, com sede em Santo Antônio de Lisboa e que presta serviços para empresas como a Petrobras. Ele detecta metal no fundo do mar e permitirá que a caçada seja feita com mais rapidez.

— Quando me contaram a história, fiquei maluco para procurar o submarino — conta o oceanógrafo Thomáz Tessler, da CPE Brasil.

Tessler vai operar o equipamento em alto-mar. Mas o que fazer com as 760 toneladas de metal que estão a 100 metros no fundo do oceano? Na verdade, já está sendo feito. Durante as buscas, tanto em terra quanto no mar, os Schürmann gravam um documentário. Deve ser veiculado na Rede Globo e em uma emissora internacional.

Registros históricos

Já os catarinenses terão mais uma história em evidência ligada ao mar — vale lembrar que, há duas semanas, foi encontrada uma pedra de cerca de 800 quilos na Praia de Naufragados, na Capital, que pode ser um dos mais antigos registro sde naufrágio ocorrido na América no século 16.

— A ideia é fazer uma réplica do submarino e colocar em um museu em Florianópolis. O visitante poderia entrar na proa e sair na popa. Transformaríamos o episódio em uma atração turística para SC — planeja Vilfredo, que procura patrocinadores para a expedição, que deve custar de R$ 2 milhões a R$ 3 milhões — sem os voluntários, este valor poderia pular para R$ 5 milhões ou R$ 6 milhões.

Durante a Segunda Guerra, pelo menos 10 submarinos alemães afundaram na costa brasileira. Nenhum foi achado. O primeiro pode ser o Lobo Solitário, do capitão Friedrich Fritz Guggenberger, condecorado por Adolf Hitler com a Cruz de Ferro por ter abatido um porta-aviões inglês — e capturado pelos aliados justamente em Santa Catarina.

Nota DefesaNet

Com dados obtidos do livro U-Boat Mergulhando na História, de Nestor Magalhães, há 10 submarinos alemães  afundados nas costas brasileiras e um italiano.

Os submarinos alemães são os de número: U-164, U-507, U-128, U-590, U-513, U-662, U-598, U-591, U-199 e o U-161.  Submarino italiano é o Archimede, afundado nas proximidades do arquipélago de Fernando de Noronha.

Há uma estatítica interessante. A Força Expedicionário Brasileira (FEB) teve 465 mortos e 16 desaparecidos, mas a nossa Marinha Mercante e de Guerra contabilizou 1.080 mortos entre tripulantes e passageiros.  

Contatos com o autor Nestor Magalhães pode ser feito através do e-mail

Nestor Magalhães [ulissess18@yahoo.com.br]

O Editor

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