NAZISMO – O DOPS sabia da presença de Mengele no Brasil

Marcelo Godoy


O delegado José Paulo Bonchristiano é um arquivo vivo da historia do Departamento de Ordem Política e Social de São Paulo (DOPS-SP). Chefiou a Divisão de Ordem Política em uma época em que a outra divisão do departamento era comandada pelo delegado Sérgio Paranhos  Fleury, símbolo da repressão na ditadura militar. Foi ele quem apreendeu as famosas cadernetas mantidas pelo líder comunista Luiz Carlos Prestes, em 1964.

Bonchristiano também comandou a Operação Ibiuna, que pôd na cadeia a direção da UNE, entre os quais o ex-ministro José Dirceu (PT). Nesta entrevista ele conta os bastidores da ação do DOPS contra criminosos de guerra, como Franz Paul Stangl, chefe do segundo maior campo de extermínio nazista, e Josef Mengele. E afirma: O DOPS sabia da presença de Mengele no Brasil e só não o prendeu porque ninguém pediu.

Quais eram os alvos do DOPS na época?

Dizem que o DOPS só prendia comunista. Nós prendemos o carrasco nazista Franz Paul Stangl. Eu que fiz a prisão dele. Levei para Bonn, na Alemanha.

Não havia a preocupação ma época de que Israel tentasse fazer o que fez com o Adolf Elchmann na Argentina, tentasse sequestrá-lo aqui para julgá-lo em Israel?

Israel queria sequestrar, mas nós falamos: "Aqui não, aqui a polícia somos nós. Vocês são espectadores".

De onde veio a Informação de que ele estava aqui?

Veio daquele judeu que morava em Viena, o (Simon) Wiesenthal Então nós fomos para a Volkswagen, encostamos o carro e o pessoal deles ficou puto. Disseram: "Vocês conhecem nosso pessoal mais do que a gente". O cara ficou conosco e disse: "Ainda bem que eu fui entregue à polícia de São Paulo, se eu fosse entregue aos judeus estava perdido". Ele morreu depois que foi condenado na Alemanha. Ele ficou em um castelo lá e depois que o condenaram (à prisão perpétua), ele morreu (em 1971). O (Romeu) Tuma quis fazer a mesma coisa que eu fiz depois, mas não conseguiu.

Com o Mengele?

Com o Mengele.

Mas o DOPS não tinha informação de que ele estava no Brasil?

Tinha não. Ele passou pelo Brasil várias vezes.

Vocês nunca colocaram a mão nele?

Nunca, porque não quiseram por a mão nele. Se o DOPS quisesse teria prendido. Não houve interesse político.

A Alemanha não tinha informações sobre o Mengele, mas a polícia aqui tinha?    .

Nós tínhamos. Se a polícia fosse chamada para fazer antes do Tuma, nós teríamos feito.

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