MindSet dos cadetes da AMAN

Ten Lilian de Paula Santos

Este artigo tem por objetivo compartilhar uma rica experiência obtida ao verificarmos algumas histórias dos cadetes da Academia Militar das Agulhas Negras (AMAN), em Resende (RJ). Trata-se de um aprendizado significativo, pois quando se atrelam essas informações aos conceitos de MindSet, descobrimos um campo fértil de conteúdo e crescimento intelectual por parte desses jovens com idades de 17 a 26 anos.

Ao recorrer à literatura, nos deparamos com o termo Mindset, cujo significado para o português pode ser traduzido por “configuração da mente”. É o que os psicanalistas chamam da predisposição de um indivíduo de desenvolver o conhecimento e de adaptar-se a diversas ações e padrões de comportamento com o objetivo de propor uma nova abordagem sobre um tema apresentado. A partir daí, ele obtém uma opinião sobre si mesmo e sobre o seu relacionamento com o mundo.

Verificamos, também, que o chamado MindSet Fixo estabelece uma relação imutável entre o cenário real e o que se acredita ter como personalidade. Nesse modelo mental, há o entendimento de que: “Desde pequeno, o indivíduo adota um padrão de demonstração de sua inteligência. Isso o faz acreditar plenamente naquela condição. Em certo momento de vida, esse mesmo indivíduo passa por alguma situação que sai de seu controle e testa sua intelectualidade de maneira distinta ao que sempre acostumou passar. Isso o faz desconfiar de sua perspicácia, pois ele não sabe lidar com o fracasso”.

Ainda na consulta aos livros, encontramos o conceito de MindSet de Crescimento, que se baseia na crença de que o ser é capaz de cultivar suas qualidades básicas por meio de seus esforços. Seus talentos e sua essência permanecem mutáveis, mas não se perdem diante dos desafios impostos na rotina cotidiana.

É nesse contexto que abordamos os cadetes da AMAN. A partir do momento em que ingressam na Escola Preparatória de Cadetes do Exército, em Campinas, também escolhem trocar a casa biológica pela nova casa, onde passarão mais de 1.800 dias, incluindo tardes e noites. A rotina acadêmica constitui o principal desafio desses jovens forjados para serem líderes. Um paradoxo diante de uma sociedade imediatista que prega, em muitas ocasiões, a tecnologia como regra para a agilidade. Mas o modelo pronto do “ser ágil” requer muito tempo de preparo, começando pela tomada de decisão sobre escolher essa carreira tão peculiar e de sacrifícios.

No caso das precursoras no curso de formação de oficial combatente de carreira na AMAN, esse tempo quase não existiu. O start de que abririam, pela primeira vez, vagas para mulheres foi amadurecido nos bastidores, mas lançado de maneira “ágil” ao público. Coube às jovens utilizarem seus MindSet de crescimento para encararem essa longa e prazerosa jornada.

Os motivos pelos quais algumas não prosseguiram têm a ver com suas escolhas pessoais, mas segundo a autora do livro “Mindset: a nova psicologia do sucesso”, Carol S. Dweck, cada indivíduo possui um talento nato que pode estar relacionado a diferentes profissões, sejam elas no esporte, na carreira artística, na área executiva etc.

Sendo assim, escolher a carreira militar requer entender a complexidade da profissão, a qual exige entrega; prontidão; dias e noites no quartel; mudanças de endereços; missões humanitárias e de combate na terra, na água e no ar; e a prazerosa convicção de que tudo é pelo cidadão brasileiro.

Para cada militar que decide ingressar no Exército Brasileiro, há também uma família orgulhosa por sua escolha. E não há como mensurar esse sentimento que toma conta e que leva cada vez mais pessoas à vida militar. No universo de cadetes que passam pela AMAN, um grande número ingressa pela influência de algum familiar que já era militar.

Seria até injusto trazer essa estatística para o texto, pois certamente poderíamos falhar com um ou com outro. Mas a observação é empírica, pois trata-se de uma coleta de depoimentos obtida em nossas redes sociais e em outras atividades diárias envolvendo o Corpo de Cadetes. Nas abordagens colhidas, as principais ideias-forças observadas são: exemplo militar na família; carreira de abnegações, mas de aprendizado; superação diária; espírito de corpo; e ganhos intelectuais e físicos inerentes à formação.

Em uma conversa informal, uma cadete de 25 anos afirma que a rotina acadêmica ensinou-a a ser mais ágil. E, nesse ponto, vale salientar que não passa despercebido aos olhos dos que avaliam os futuros oficiais as 19 competências necessárias para se forjar um líder, dentre elas a camaradagem, a rusticidade, a disciplina intelectual e a responsabilidade.

Em uma atividade de media trainning, outra cadete afirma ter adquirido o equilíbrio emocional para o enfrentamento das diversas missões.

Em 2020, dois cadetes, hoje aspirantes a oficial, afirmaram: “aprendi a amadurecer minha personalidade e meu controle financeiro para ajudar no orçamento de minha família”; um outro destacou que aprendeu a exercer a humildade e o controle emocional devido à formação e à atividade diferenciada praticada pela Seção de Instrução Especial (SIEsp), que trabalha o desenvolvimento atitudinal dos futuros oficiais.

Dessa forma, podemos depreender da fala dos cadetes alguns aspectos do conceito de MindSet de crescimento. A todo momento, eles se esforçam para vencer os desafios que lhes são impostos. Haverá momentos em que se sentirão incapazes; em outros, existirá a certeza da conquista de um atributo militar que lhes faltava. Em todos os momentos, o processo de crescimento vem sendo construído, permitindo-os moldá-lo, se necessário, diante de um contexto ambíguo, complexo e incerto.

Até mesmo um grande herói personificado na figura de um desses cadetes possui algum tipo de imperfeição. A diferença é que ele usa um uniforme que o rotula como perfeito. A perfeição ganha frutos no caminho da incerteza. O estereótipo negativo, tão comum em nossa sociedade, sofre alterações. Basta a prática contínua do seu Mindset de crescimento em todas as suas atividades.

Por fim, destaca-se, ainda, a coexistência entre diferentes gerações no contexto contemporâneo, possibilitado, em especial, uma maior qualidade de vida. Idosos estão vivendo mais e, por consequência, tendo mais contato com adultos, jovens e crianças. Essa troca mútua de experiências de vida permite conhecer e se reconhecer nos exemplos dados.

Os cadetes da Academia, em muitos relatos empíricos, são a realização do sonho dos pais e, até mesmo, de gerações mais jovens que se espelham nos militares. Todos esses personagens estão, cada um a seu modo, praticando o Mindset: basta verificar se estão dando asas para o de crescimento ou o fixo.


 

Fontes:

Dweck, Carol S. Mindset: a nova psicologia do sucesso. Carol Dweck; tradução S. Duarte. – 1ª ed. – São Paulo: Objetiva,2017

 

VILLAS, Boas S.; RAMOS, N.; AMADO, J.; OLIVEIRA, A.; MONTERO, I. A redução de estereótipos e atitudes negativas entre gerações – o contributo da educação intergeracional. Laplage em Revista (Sorocaba), vol.3, n.3, set.-dez. 2017, p.206-220.Disponível em < file:///C:/Users/USUARIO/Downloads/Dialnet-AReducaoDeEstereotiposEAtitudesNegativasEntreGerac-6192038.pdf>. Acesso em: 30, abril de 2021.

 

Redes Sociais da AMAN: Site, Vem Ser Cadete, Aman_oficial; e-mail corporativo;
 

Sobre o autor:

Ten Lilian de Paula Santos – Atualmente, é 2º Tenente do Exército Brasileiro, estando na Academia Militar das Agulhas Negras (AMAN) na Seção de Comunicação Social. Mestra em Ciências Ambientais pelo Programa de Pós-Graduação da UNITAU (2017). Pós-Graduada em Marketing e Redes Sociais pelo IBF (2018-2019). Pós-Graduada em Telejornalismo pela ESTÁCIO DE SÁ (2011) e em Assessoria, Gestão de Comunicação e Marketing pela UNITAU (2008). Capacitadora ambiental pela Câmara Técnica do Comitê de Bacias Hidrográficas do Rio Paraíba do Sul (2015).

Bacharel em Comunicação Social – habilitação em Jornalismo pela UNIFATEA (2004). Atuou na Rede Aparecida de Comunicação por 5 anos como repórter, redatora, produtora, apresentadora e editora nos jornais da Rádio e TV Aparecida. Período que compreende de outubro de 2005 a outubro de 2009. A partir de 2009, no Grupo Bandeirantes de Comunicação, como editora e apresentadora, com passagens pelos Jornais Band Cidade 1º e 2º edição e Acontece Regional. Sendo responsável pela produção e apresentação dos programas Semana Terra Viva e do Projeto Rio Vivo, com apresentações, produções e edições do programa Vale Ecologia, Expedição Rio e Boletins Dica Rio Vivo, este último na Rádio Band Vale.

Atuou na área de assessoria de imprensa do UNISAL, Unidade Lorena, sendo responsável pelo relacionamento com a mídia, pela comunicação interna, além de integrar a equipe do Plano Institucional de Sustentabilidade.

Membro Honorário do Instituto de Estudos Valeparaibanos. http://lattes.cnpq.br/5764061080307720

 

Compartilhar:

Leia também

Inscreva-se na nossa newsletter