Gen Ex Pinto Silva – BRASIL Poder Militar, Formas de Emprego. (Uma visão)

BRASIL PODER MILITAR, FORMAS DE EMPREGO (Uma visão)

Pinto Silva Carlos Alberto[1]

“Tríade extraordinária” composta por governo, forças armadas e povo. Uma teoria que ignore qualquer um desses três elementosentraria de tal maneira em conflito com a realidade que só por esse motivo ela se tornaria inteiramente inútil.”

                                             (Clausewitz)

1. CIRCUNSTÂNCIAS DE UM MOMENTO

As ameaças globais, na atual conjuntura, estão se alterando celeremente: guerra cibernética; guerra da informação; guerra psicológica e operações clandestinas; influência e interferência em eleições; armas de destruição em massa e sua proliferação; terrorismo, contra inteligência e tecnologias destrutivas; ameaças à competitividade econômica; e crimes transnacionais são apenas alguns dos recursos largamente empregados, de modo conjugado, como alternativas não militares, visando a complementar, apoiar, ampliar e, sobretudo, a evitar uma confrontação formal, e desgastar as forças políticas, econômicas, sociais, informação militar e a infraestrutura de comando e controle de forças opositoras. 

A Guerra de Nova Geração, que o mundo vive hoje, é caracterizada pela presença de Estados e grupos não estatais, pelo aumento considerável do poder de entidades pequenas, mas marcadas pela lealdade cega à sua causa, que extrapolam qualquer fronteira internacional e desafiam o poder das grandes nações. É calcada, primordialmente, na explosão tecnológica da era da informação, nos meios de comunicação em massa para o recrutamento de pessoal e disseminação de ideologias, e na biotecnologia[2]. Guerra que muitos chamam de Quinta Geração.

Partimos do conceito de que guerra e paz, na atual conjuntura, são parte do mesmo fluxo das relações internacionais.

O mundo, atualmente, está em um estado de luta incessante, a paz é relativa, não há inimigos e sim estados com ações hostis em defesa dos seus interesses.

O mundo vive, portanto, com a Guerra de Nova Geração ou de 5ª Geração (Guerra Híbrida), uma fase de guerra política permanente: informacional, sem frente de batalha e sem regras de engajamento. Apaga-se a linha divisória entre o estado de guerra e de paz. Emprega um conjunto de habilidades estratégicas (Ferramentas à disposição do Poder Nacional) para anular as vantagens do inimigo num conflito armado (Assimetria).

2. GERAÇÕES DA GUERRA MODERNA

“Em 1989, William S. Lind desenvolveu o conceito da Guerra de Quarta Geração, o qual não despertou atenção senão após o 11 de setembro. A 4WG foi concebida como uma forma de conflito complexa, de longo prazo, que inclui, além das operações convencionais, ações de guerrilha, adversários não estatais, e guerra psicológica. Segundo Lind, ela sucedia à Guerra de 3ª Geração, evidenciada pela Blitzkrieg. A Guerra de 1ª Geração foi caracterizada como a guerra de “linha e coluna”, das batalhas formais e campos de batalha ordenados dos séculos XVI ao XIX, e a Guerra de 2ª Geração marcada pelas batalhas da 1ª Guerra Mundial, onde a “artilharia conquistava” e a “infantaria ocupava”. Vivemos hoje a 5WG ´que é calcada primordialmente na explosão tecnológica da era da informação, nos meios de comunicação em massa para o recrutamento de pessoal e disseminação de ideologias e na biotecnologia.

3. FORMAS PROVÁVEIS DE EMPREGO

3.1. COMBATE CONVENCIONAL

Na preparação para a defesa da soberania deve receber a mais alta prioridade, mesmo que, nas hipóteses consideradas, seja estimada como remota, pois a eficiência operacional alcançada é a base para o desenvolvimento de qualquer outra preparação específica. A forma de combater estará sempre baseada no valor da preparação alcançada para emprego convencional.

Mesmo em situação de emprego como uma Força de Resistência, esta necessitará, primeiramente, do emprego de forças convencionais, uma vez que a reação inicial deve ser oferecida. Seja para avaliação do inimigo, seja para o fortalecimento do sentimento nacional, ambos essenciais para o suporte das ações irregulares.

É importante destacar que a existência de efetiva capacidade de emprego em operações convencionais constitui-se na ferramenta mais importante para a aplicação da Estratégia da Dissuasão, componente fundamental para a execução da Estratégia Indireta, preconizada por nosso país para a solução de possíveis conflitos.

3.2. COMBATE ASSIMÉTRICO – ENFRENTANDO A GUERRA DE RESISTÊNCIA (GUERRA CONVENCIONAL, 4ª E 5ª WG)4

O emprego do Exército contra oponente que tenha poder de combate inferior pode ser considerado em três situações distintas, com algumas similaridades.

Primeiramente, combatendo uma força irregular em outro espaço geográfico (de modo a garantir interesses nacionais ou segurança de brasileiros no exterior), após ações convencionais, onde se deve adequar os meios empregados com a forma de operar e de se organizar desse inimigo.

Como segunda possibilidade, podemos considerar o emprego do Exército nas ações de Manutenção da Paz, onde há grande possibilidade, como vivenciado no Haiti, de haver o combate a grupos armados que apresentem resistência à ação em curso.

Em uma terceira possibilidade, com a necessária adaptação, encontramos o emprego em operações de GLO, que pela categoria de terreno, armamento ou organização de grupos criminosos, seja necessário o emprego de ações bélicas para a normalização da situação em determinadas áreas de nosso país, resultado da incapacidade dos aparatos de segurança pública. Situação em que este tema poderá migrar da esfera da segurança para a esfera da defesa.

3.3. COMBATE ASSIMÉTRICO – EMPREGANDO ESTRATÉGIA DA RESISTÊNCIA (GUERRA CONVENCIONAL, 4ª E 5ª WG)

Em situação em que exista grande assimetria em favor de oponentes, que por motivos diversos agridam nossa soberania, teremos a capacidade de emprego da Estratégia da Resistência, passando a compor o rol de atividades dissuasórias de nossa Força.

Neste quadro, após a resistência inicial empregando meios e medidas de combate convencional, pelo imprescindível apoio da sociedade, passaremos a desenvolver de forma organizada e sistemática, de operações de pequenos efetivos, visando infligir o máximo de desgaste e perdas ao inimigo, buscando quebrar-lhe a vontade de permanecer em nosso território.

4. UMA CONCLUSÃO SUCINTA

Entendemos que existem princípios comuns de emprego na situação apresentada, com conceitos e aprendizados, que com a necessária e inteligente adaptação à nossa realidade, podem resultar em aperfeiçoamento em nossa doutrina e estrutura organizacional.


[1] Carlos Alberto Pinto Silva / General de Exército da reserva / Ex-comandante do Comando Militar do Oeste, do Comando Militar do Sul, do Comando de Operações Terrestres, Ex-comandante do 2º BIS e da 17ª Bda Inf Sl, Chefe do EM do CMA, Membro da Academia de Defesa e do CEBRES.

[2] http://jornalri.com.br/artigos/evolucao-da-arte-da-guerra-das-geracoes-da-guerra-moderna-aos-conflitos-assimetricos-6

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