PsyOps – Operações Psicológicas no Brasil: narrativas, estratégias e impactos

Por Ricardo Fan – Defesanet

O que são (visão geral) – Operações psicológicas — ou psyops — são ações planejadas para influenciar atitudes, emoções e comportamentos de públicos-alvo (adversários, neutros ou próprios) por meio de informação e comunicação. Podem ser levadas a cabo por forças militares, serviços de inteligência, governos, grupos políticos ou atores não-estatais.

Categorias gerais (conceito, não tática)

  • White: mensagens cuja origem é identificada e que usam informações verdadeiras/legítimas.
  • Gray: origem ou veracidade ambíguas.
  • Black: mensagens que escondem ou falsificam a origem — frequentemente desinformação.

Objetivos típicos

  • Moldar percepções e narrativas.
  • Reduzir o apoio a um adversário.
  • Incentivar comportamentos favoráveis (ex.: rendição, cooperação).
  • Desestabilizar ou confundir um público inimigo.

Contextos históricos (exemplos de alto nível)

  • Uso de propaganda estatal durante guerras (ex.: Segunda Guerra Mundial).
  • Campanhas de influência durante a Guerra Fria (rádio, imprensa, operações culturais).
  • Atividades contemporâneas com uso de redes sociais e mídia digital para influenciar eleições e movimentos sociais (casos públicos geraram debate sobre desinformação).

Narrativas Políticas no Brasil

Nos últimos anos, o debate sobre influência política e manipulação de narrativas ganhou centralidade no Brasil, especialmente em ambientes digitais. Desde a redemocratização, o país tem experimentado o uso estratégico da comunicação política para consolidar percepções públicas e manter protagonismo de determinados grupos políticos.

Contexto histórico

Setores políticos de diversas orientações aprenderam a utilizar a mídia e as narrativas públicas como ferramenta de influência. A esquerda, por meio de partidos majoritários e alianças políticas, demonstrou grande capacidade de mobilização digital e controle narrativo, mantendo protagonismo político por longos períodos. Essa estratégia incluiu a construção de percepções favoráveis sobre políticas públicas e engajamento de setores historicamente receptivos a discursos de inclusão social.

O papel do “gramscismo” na política brasileira

O chamado gramscismo — referência às ideias de Antonio Gramsci, especialmente sobre hegemonia cultural — tem sido apontado por analistas como uma influência na forma como setores da esquerda buscam moldar o consenso social no Brasil. Gramsci defendia que o controle cultural e ideológico era tão ou mais importante que o controle político direto. Inspirados por essa abordagem, agentes políticos e movimentos sociais no país têm buscado:

  • Influenciar instituições culturais e educacionais: escolas, universidades e mídia como arenas para disseminar ideias e valores alinhados à narrativa dominante.
  • Conduzir narrativas digitais e midiáticas: mensagens emocionais, repetição de conceitos e memes que reforçam o pensamento coletivo.
  • Construir consenso social gradual: ao invés de mudanças abruptas, há um processo contínuo de moldar percepções, atitudes e valores.

Narrativas, repetição e polarização

A comunicação política frequentemente se estruturou em torno de contrastes, com a apresentação de adversários como contrapontos a uma agenda positiva de governo. Esse fenômeno gerou, ao longo do tempo, a percepção de uma “falsa polarização”, na qual partidos de “oposição”, como PSDB e PMDB, são tratados como alternativos, mas sem desestruturar a narrativa dominante.

Nas redes sociais — WhatsApp, X e YouTube — há debates sobre o impacto do conteúdo digital na formação de opinião. No entanto, esse questionamento não é incentivado pelo poder político dominante; ao contrário, quem questiona pode enfrentar resistência, perseguição midiática ou social.

Um exemplo visível dessa manipulação narrativa é o uso repetitivo de termos ideológicos distorcidos, como “fascismo” e “anarquismo”. Muitos usuários repetem essas palavras como sinônimos de “direita autoritária” ou “desordem”, sem compreender suas origens históricas.

Curiosamente, o fascismo, em sua gênese na Itália do início do século XX, tinha forte componente socialista e corporativista, mas a repetição constante da narrativa dominante cria a percepção de que todos compartilham do mesmo entendimento, reforçando o controle sobre o pensamento coletivo.

Papel da mídia tradicional

Outro elemento importante é a relação entre governos e mídia tradicional. Jornalistas e veículos de imprensa podem ser influenciados, direta ou indiretamente, por incentivos institucionais, alinhamento editorial ou pressões econômicas. Essa percepção de uma “mão invisível” do poder gera desconfiança e aumenta o consumo de informações alternativas, mas também contribui para o reforço das narrativas digitais dominantes.

Estratégias de influência

  1. Construção de narrativas emocionais: Mensagens que apelam à empatia, justiça social e combate à desigualdade são amplamente disseminadas.
  2. Mobilização de influenciadores: Líderes políticos e apoiadores usam canais digitais para amplificar mensagens e reforçar engajamento.
  3. Uniformização do discurso: Repetição constante de termos, slogans e conceitos distorcidos que moldam o pensamento coletivo, como no exemplo do fascismo.
  4. Deslegitimação de críticos: Questionamentos sobre a narrativa dominante são frequentemente desvalorizados ou perseguidos, mantendo o controle sobre o debate público.

Impactos observados

  • Polarização social: A repetição de narrativas simplificadas e polarizadoras aprofunda divisões e dificulta o diálogo.
  • Desinformação generalizada: Conteúdos distorcidos ou seletivos afetam a confiança nas instituições e na imprensa.
  • Controle do pensamento coletivo: A uniformização do discurso limita a reflexão crítica, criando consenso artificial sobre determinados temas.
  • Tensão sobre liberdade de expressão: Questionar o discurso dominante pode gerar censura, marginalização ou perseguição social.

Considerações finais

O cenário brasileiro evidencia como operações psicológicas, mobilização digital e estratégias narrativas — inspiradas em conceitos gramscistas de hegemonia cultural — se entrelaçam com processos democráticos. O poder político, ao controlar repetição, interpretação de conceitos e instituições culturais, molda percepções e limita questionamentos.

Fortalecer alfabetização midiática, educação crítica e diversidade de fontes confiáveis é essencial para reduzir os efeitos da uniformização do pensamento e da manipulação de narrativas digitais.

Para preservar a integridade do debate público, é essencial fortalecer alfabetização midiática, educação crítica sobre história e ideologias, e incentivo à diversidade de fontes confiáveis — estratégias que podem reduzir os efeitos da uniformização do pensamento e da manipulação das narrativas digitais.

Ao mesmo tempo, o debate sobre regulamentação de redes sociais reflete a tensão entre liberdade de expressão, transparência e mecanismos de mitigação da manipulação informacional.

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