Júlio Ottoboni
Especial DefesaNet
No mês passado (Agosto), dois técnicos do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) seguiram para a China e conseguiram decodificar as primeiras imagens do CBERS 4 das câmeras estratégicas para o acompanhamento do desmatamento da Amazônia. Apesar de já ter mais de um terço de sua vida útil gasta, o satélite sino-brasileiro funciona perfeitamente, inclusive enviando as imagens para as torres de recepção do INPE. No entanto, a direção do instituto não tem o software para decodificação das imagens.
O custo do CBERS 4 foi de US$ 125 milhões e produzido sob o argumento que ajudaria na fiscalização, monitoramento e nas políticas de redução do desmatamento criminoso da Amazônia. Mas tudo está paralisado neste sentido pela falta do software, que é de uma empresa brasileira, a AMS Kepler. O contrato foi encerrado com o fim das atividades do CBERS 2B. De lá para cá, nada de renovação e nem perspectiva disto.
O proprietário, Antônio Machado e Silva, um ex-servidor do INPE, explicou que o contrato terminou em dezembro de 2011, e sua participação efetiva no processamento dos dados foi concluída em dezembro de 2013. Ou seja, um ano antes do lançamento do CBERS 4. Um verdadeiro fiasco até agora sem explicações satisfatórias, pois neste período o desmatamento amazônico explodiu como o maior da história e as imagens da maior reserva florestal e hídrica na faixa tropical do planeta estão somente de posse dos chineses, parceiros no projeto do satélite de sensoriamento remoto. Mas que por sua vez, não as repassam ao Brasil e nem fornecem o software para rodar nos computadores brasileiros.
O pior de tudo, essas imagens eram tidas como estratégicas para os planos de defesa da região. O planejamento da missão previa que, três meses depois do lançamento, o ajuste dos parâmetros das quatro câmeras a bordo, duas delas de fabricação brasileira (a MUX, mais complexa e de melhor resolução espacial, e a WFI), produzidas pela empresa OPTO (empresa Estartégica de Defesa, atualmente em recuperação judicial), estaria concluído. Com isso, um novo acervo de imagens do satélite entraria em operação para garantir ao Brasil autonomia no monitoramento do desmatamento da floresta amazônica; da crise hídrica do Sudeste; do crescimento urbano; e das áreas agrícolas país afora.
Para o desespero dos pesquisadores do departamento de Observação da Terra, do INPE, a missão CBERS 4 está 70% completa e os 30% mais importantes, que são as imagens produzidas, apenas uma parte está sob domínio do Brasil. Chineses e brasileiros estão se omitindo em relação a este ponto, tido como crucial para a sucesso da missão. Na tentativa de minimizar o problema, os pesquisadores do INPE estão usando imagens de outros satélites, inclusive de um indiano, mas que são deficientes na cobertura da floresta.
Não bastasse a falha grotesca, a direção do INPE quer agir de maneira compensatória aos mais de 70 mil usuários de imagens ambientais e obter mais detalhados da cobertura vegetal da região para abastecer o Sistema Brasileiro de Detecção de Desmatamento em Tempo Real (DETER), responsável pelo acionamento da Polícia Federal, Ibama e órgãos estaduais de meio ambiente quanto aos crimes ambientais ocorridos na faixa amazônica.
O próximo satélite da família, o CBERS 4A, será lançado em 2018 na China, pelo foguete Longa Marcha. Na realidade um backup, com peças redundantes que não foram utilizadas na construção do CBERS 4 e serão usados para evitar num novo intervalo por falta de planejamento e projetos para a continuidade da parceria. Para lançar esse novo equipamento os custos estimados superam a casa dos R$ 250 milhões, pois o Laboratório de Integração e Testes ( LIT) terá que ser ampliado.
Nota DefesaNet
Na edição, de 28 Setembro de 2015, o jornal Valor publicou a matéria "Satélite vai monitorar desmatamento na Amazônia".
Com informações do INPE a jornalista da matéria detalha fatos que simplesmente são fantasiosos.
Complementa com esta pérola:
“Outra ideia, que está sendo amadurecida, é a possibilidade de o satélite ser transportado para a China pela aeronave KC390, novo jato de transporte militar da Força Aérea Brasileira (FAB), que está sendo produzido pela Embraer. "Vamos trabalhar nessa possibilidade, até porque teríamos que pagar pelo transporte do satélite para a China e fazer isso com uma aeronave brasileira seria uma oportunidade muito interessante".”