Vivian Oswald
Quatro séculos depois do ciclo do ouro que encheu os olhos da Coroa Portuguesa e levou brasileiros e estrangeiros atrás do enriquecimento rápido, o Brasil está diante da maior corrida de todos os tempos pelo metal. Novos equipamentos sofisticados já permitem às gigantes estrangeiras que dominam o mercado nacional chegar ao que poderia ser chamado de "o pré-sal da mineração". No Centro-Oeste e no Norte, minas até então intocadas tornaram-se economicamente viáveis, assim como outras consideradas esgotadas em Minas Gerais e no Nordeste.
Tudo isso graças ao aumento, em todo o planeta, da demanda pelo ouro – cuja cotação deu um salto de 540% na última década – estimulada pelo crescimento econômico mundial, sobretudo da China, e pela necessidade dos países de acumular o metal, que é considerado um dos ativos financeiros mais confiáveis do mundo.
Metal é encontrado a 2.500m no Brasil
O entusiasmo é tanto que o Instituto Brasileiro de Mineração (Ibram) já estima investimentos de US$2,4 bilhões para o setor até 2015. Trata-se de praticamente o triplo da projeção anterior, de pouco mais de US$900 milhões. As empresas não disfarçam o otimismo e prometem novos projetos, enquanto as autoridades estimam que a produção do ouro também deve crescer de maneira expressiva, podendo dobrar nos próximos cinco anos. Só no Rio Grande Norte, sairá de 60 gramas para seis toneladas se todos os projetos em análise se concretizarem.
Existem hoje no país 2.819 garimpos legais em atividade. Mas o Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM) já concedeu 1.270 novas autorizações de pesquisa em áreas a serem exploradas, e analisa outros 1.173 pedidos encaminhados por empresas e cooperativas.
Se a crise financeira global de 2008 impôs um ritmo bem menos acelerado às economias desenvolvidas, o que, em tese, diminuiria a demanda pelo ouro, ela acabou por ajudar a desvalorizar o dólar e pressionar os preços do metal, considerado historicamente porto seguro pelos investidores. Os bancos centrais mundiais nunca compraram tanto ouro para manter em suas reservas internacionais desde a década de 80. A escalada dos preços viabilizou novos investimentos milionários em pesquisas e tecnologia.
No passado, o ouro brotava da terra, ou dos rios, e retirá-lo não exigia muito esforço. Hoje ele é encontrado em profundidades de até quatro mil metros na África do Sul, mas já está em 2.500 metros no Brasil. Máquinas sofisticadas são capazes de extrair menos de um grama de ouro de uma pedra de uma tonelada, ou seja, algo equivalente a um automóvel de passeio.
Isso explica o motivo de o Brasil, que já foi o maior produtor do mundo, mas perdeu posições no passado recente, ter voltado ao páreo e estar em 13º lugar na lista dos grandes globais. Em 2010, produziu 62 toneladas nos garimpos legais, o maior volume da década, e se prepara para dobrar a marca. O maior produtor do mundo é a China, com 341 toneladas/ano, seguida por Austrália (259 toneladas), Estados Unidos (240 toneladas) e África do Sul (192 toneladas).
A produção brasileira é muito pequena, apenas 12% de seu potencial. Considerando-se as reservas provadas em 2010, o Brasil tem a capacidade de extração anual de 503 toneladas do metal puro. A quantidade foi calculada com base em 1,3 bilhão de toneladas de rochas com o minério, com teor médio de 2,57 gramas por tonelada rochosa.
Tecnologia pode levar país ao topo
A expectativa do governo e de especialistas é que justamente a tecnologia deverá mudar este quadro e alçar o Brasil ao topo da lista novamente. Em vez dos tradicionais garimpos artesanais que enchiam de mercúrio os rios brasileiros, o país já tem 93,7% da sua produção feita de maneira industrial, segundo o DNPM. O minério de ferro continua sendo a principal vedete da balança comercial brasileira e corresponde a mais de 80% do que o país vende lá fora, mas o segundo metal é o ouro, com quase 5% do total.
Em Crixás, no Norte de Goiás, a Mineração Serra Grande, uma joint-venture da AngloGold Ashanti, da África do Sul, com a Kinross Gold Corporation, do Canadá, já trabalha a 700 metros, com túneis que, somados, chegam a 60 quilômetros de extensão.
A ambição da empresa, que detém as minas mais profundas do Brasil, ambas em Minas Gerais (Mina Cuiabá, em Sabará, com 1.000 metros, e Mina Grande, em Nova Lima, com 2.500), pode ser medida pelos seus planos de investimentos.
O diretor de Operações da empresa, Ricardo de Assis, afirma que US$1,1 bilhão será aplicado em novos projetos, ampliações e manutenção das minas que operam no país. A Anglo é a segunda maior produtora do Brasil e a terceira do mundo.
Não muito distante de Crixás, em Paracatu, está a maior mina de ouro a céu aberto do país, explorada pela canadense Kinross. Para chegar ao metal, a empresa precisou investir na tecnologia que a permite retirar a quantidade de 0,4 grama do mineral de uma tonelada de pedra. Nos últimos cinco anos, segundo o vice-presidente da companhia no Brasil, Antonio Carlos Marinho, a produção saltou de cinco para 15 toneladas.
Na Mina de São Francisco, no Rio Grande do Norte, a australiana Crusader está concluindo as pesquisas iniciadas há um ano e pretende produzir de três a cinco toneladas por ano neste lugar onde poucos viram potencial no passado. A expectativa é que o teor do ouro seja de 1,5 grama para cada tonelada, segundo o responsável pelas pesquisas, Rob Smakman, que vive no Brasil há alguns anos com a família e tem liderado os trabalhos da empresa no país.
– É uma região pouco explorada – disse Smakman.