Atuação no Irã causou atrito entre Amorim e os militares

CLAUDIA ANTUNES
DO RIO

No período em que a diplomacia brasileira foi comandada pelo novo ministro da Defesa, Celso Amorim, ela divergiu dos militares em negociações internacionais importantes, mas também houve convergências.

A tentativa do Brasil de mediar o impasse em torno do programa nuclear do Irã gerou resistência não pela iniciativa em si, mas porque os militares temiam que esse envolvimento contaminasse a visão internacional sobre o projeto atômico brasileiro, cuja parte mais sensível é controlada pela Marinha.

Mas diplomatas e militares caminharam juntos ao tratar da participação do país nas forças de paz da ONU e da criação do Conselho de Defesa da Unasul (União de Nações Sul-Americanas), que reduz desconfianças geradas pela modernização militar do Brasil nos países vizinhos.

Amorim toma posse hoje. No sábado, ele se reuniu com a presidente Dilma Rousseff e teve seu primeiro contato com os comandantes das Forças Armadas, que são subordinados ao ministério.
Um exame dos embates travados pelo Itamaraty com a Defesa quando Amorim era o chanceler, considerados hoje superados, confirma as diferenças de abordagem entre a diplomacia, mais flexível, e a Defesa, mais dura.
"O sucesso de Amorim vai depender de os militares perceberem que é prestigiado pela presidente, e de sinalizar que o processo de modernização das Forças Armadas vai continuar", afirmou o professor João Roberto Martins Filho, da Universidade Federal de São Carlos.
A Defesa teve a palavra final em pelo menos duas disputas no período em que Amorim chefiou o Ministério das Relações Exteriores. Na primeira, o assunto era a adesão do país ao protocolo adicional do Tratado de Não Proliferação Nuclear, que permitiria inspeções mais abrangentes da AIEA (Agência Internacional de Energia Atômica) no Brasil.
Dividida, a diplomacia manteve-se aberta a negociações. Os militares foram contra, e selaram sua posição na Estratégia Nacional de Defesa, aprovada em 2008. O Brasil continuou sofrendo pressões para aderir ao protocolo, sobretudo dos EUA. Mas elas perderam força em junho, quando o Grupo de Fornecedores Nucleares -que regula a transferência de tecnologia atômica-, passou a considerar o acordo de salvaguardas entre Brasil e Argentina como "critério alternativo" ao protocolo.
O segundo choque ocorreu por causa da assinatura de um tratado de 2008 que proíbe a produção e o uso de bombas de cacho, que disseminam minas ao explodir. Os militares, que têm o armamento em seu arsenal, vetaram a adesão brasileira. O Itamaraty continua negociando o assunto na ONU.

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