Jobim por Alon Feurwerker

Alon Feurwerker


Políticos costumam enfrentar dissabores inesperados quando baixam a guarda diante de jornalistas. Um caso célebre foi o ministro da Fazenda Rubens Ricupero, o das antenas parabólicas.

Não sabia que elas estavam captando, então vangloriou-se de conseguir esconder as notícias ruins e só deixar aparecer as boas. Caiu.

E caiu no meio de uma campanha presidencial. Foi um detalhe infeliz, porque no balanço de acertos e erros Ricupero, peça importante do Plano Real, ganhava de goleada. Mas a política não funciona assim, na base da aritmética.

É um pouco como o serviço de goleiro. Se fizer dez defesaças durante o jogo mas tomar um frango no final será execrado, principalmente se o time perder.

Nélson Jobim deu uma de Diego Hypólito em Pequim. Antes de errar no último salto vinha fazendo tudo certo. Há alguma polêmica sobre se o então ainda ministro da Defesa errou de propósito, o que a cronologia não autoriza concluir.

Pareceu mais um colar de imprudências. Mas agora é irrelevante, pois Inês já era.

Jobim foi um bom ministro para Luiz Inácio Lula da Silva. Antes já havia sido um bom presidente no Supremo Tribunal Federal. Era um vetor de equilíbrio.

Na crise de 2005, por exemplo, tentou introduzir elementos de racionalidade nos processos desencadeados pelas entrevistas de Roberto Jefferson. Era algo que exigia coragem.

Tempos depois saiu do STF, de olho na política. Tentou comandar o PMDB, e o noticiário dizia que Jobim tinha o suporte de Lula para a pretensão.

Provou então o sabor das situações em que a imprensa relata o apoio de Lula a alguém mas a realidade evidencia-se diferente.

Na época chegou a desabafar que não mais iria fazer política com o então presidente, mas depois topou assumir o Ministério da Defesa, desde que com autonomia. Lula aceitou e houve acordo.

E a partir daí talvez Jobim tenha sido um dos melhores ministros da coleção. Pois resolvia problemas, inclusive e principalmente os que o próprio Lula se encarregava de criar.

Como a confusão em torno do Programa Nacional de Direitos Humanos, na sua terceira versão, petista. O documento pareceu ter sido elaborado para criar atritos com todo mundo. Mas todo mundo mesmo.

Uma revolução de papel.

Jobim criou uma minicrise e evitou que o governo e a candidata do governo fossem tragados por uma crise maior.

Pagou um preço, mas os fatos acabaram dando-lhe razão. Os pontos polêmicos do PNDH-3 repusam silenciosamente em alguma prateleira do Palácio do Planalto, abandonados, sem que os donos se animem a buscá-los.

O petismo não os sustentou na campanha eleitoral, muito menos neste decolar de governo Dilma.

O dobro

A ver o que fará na nova função o ministro Celso Amorim. O maior desafio é recuperar a capacidade operacional das Forças Armadas. E aí volta a discussão sobre a renovação da frota de caças.

O tempo que o Brasil já levou para decidir sobre a compra de um punhado de aviões corresponde, grosso modo, a pelo menos o dobro da duração da Segunda Guerra Mundial.

O que há, afinal, de tão complicado nisso? Está na hora de alguém explicar.

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