Brasil não será potência forte sozinho, diz secretária da Unasul

CLAUDIA ANTUNES

Num mundo que caminha para a regionalização, o Brasil sabe que não poderá ser uma potência forte sem integração com os vizinhos, diz a colombiana María Emma Mejía, que assumiu em maio a secretaria-geral da União de Nações Sul-Americanas.

"Prevê-se que o Brasil será a quarta economia do mundo, e é claro que o país tem um peso. Mas temos que trabalhar juntos se queremos ser potência. O Brasil sozinho não é a mesma coisa que o Brasil com 12 juntos", afirmou ela à Folha.

Mejía dividirá o mandato de dois anos com o atual ministro de Energia da Venezuela, Ali Rodríguez. É prova, segundo ela, do "enorme êxito político" do bloco em desmontar crises regionais, como a que opôs seu país à Venezuela, acusada pelo ex-presidente Álvaro Uribe de apoiar a guerrilha das Farc.

Ministra da Educação e das Relações Exteriores nos anos 1990, Mejía dirigiu nos últimos oito anos a Pés Descalços, fundação educativa financiada pela cantora Shakira. Ela inaugurou ontem no Rio o Instituto Sul-Americano de Governo em Saúde, criado pela Unasul.

A colombiana destacou a tarefa de institucionalizar e dar "carne" ao bloco, criado em 2008 e cujo tratado acaba de entrar em vigor. Citou a organização de um secretariado "flexível, não burocrático e econômico", em Quito e a abertura, há duas semanas, do Centro de Estudos Estratégicos da Defesa, em Buenos Aires.

"É um tanque de pensamento [do inglês think-tank] para mostrar que podemos gerar nossa própria doutrina", disse, prevendo que a proteção dos recursos naturais será a principal tarefa dos militares da região "em algumas décadas".

A Unasul também acaba de incorporar a estrutura técnica da IIRSA (Iniciativa para a Integração da Infraestrutura Regional Sul-Americana), antes coordenada pelo BID.

Segundo Mejía, será proposto aos presidentes um "plano decenal" com 73 obras prioritárias -meta ambiciosa, já que, nos dez anos de IIRSA, 29 obras de grande porte foram concluídas.

Ela se disse entusiasmada com o Conselho de Defesa da Unasul, que busca "dar transparência ao gasto militar" e pode ser um "exemplo para o mundo", mas afirmou não ver uma "política unitária" sobre o Conselho Antidrogas.

Questionada sobre o lançamento por Colômbia, Peru, México e Chile da Área de Integração Profunda, tida como contraponto à hegemonia brasileira, Mejía disse que diferentes instâncias podem coexistir. "Não é um obstáculo nem concorre com o Brasil." A Unasul fará depois de amanhã uma cúpula paralela à posse do presidente peruano Ollanta Humala.

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