O desafio da competitividade hoje vai além de reduzir custos e aumentar produtividade. Cada vez mais, são cobrados das empresas produtos e processos inovadores. Sabe-se que há grande preocupação com relação ao desenvolvimento nacional por meio de P&D e, principalmente, inovação. Recente exemplo é a adequação do antes Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT) para Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI). Não há Estado que se sustente em uma economia fraca, assim como uma economia sólida está diretamente relacionada a um ambiente produtor de ciência de ponta, capaz de influenciar de forma positiva todo o setor produtivo.
A Inovação entrou, definitivamente, para a agenda de prioridades do desenvolvimento. É indiscutível sua importância para a economia.
Entretanto, avaliando o posicionamento do Brasil nas últimas décadas, podemos concluir que não houve estímulos suficientes nesse sentido, tanto econômicos, como na gestão pública e do setor industrial, para que ocorressem investimentos em inovação. Com isso, hoje são implementadas medidas para tentar recuperar o tempo perdido.
O assunto ganhou força há alguns anos, através da elaboração de planos estratégicos e leis voltadas para ciência, tecnologia e inovação, desenvolvidas em sua maioria pelo então MCT
.
Na prática, no entanto, o resultado ainda é considerado aquém do desejado, e uma das explicações para tal situação é que o Sistema Nacional de Inovação (SNI) no Brasil é pouco articulado.
O SNI deve ser capaz de gerar o ambiente para que a inovação ocorra, ou seja, efetiva integração entre agências governamentais de fomento e financiamento, centros de Pesquisa e Desenvolvimento (P&D), universidades e empresas, permitindo assim ações mais concretas por parte, principalmente, das empresas. Nesse aspecto, são igualmente essenciais mais esforços para a conscientização da sociedade sobre os conceitos modernos de inovação.
Existem diversos outros fatores que bloqueiam as atividades de inovação. Esses fatores estão ligados a razões para não inovar, assim como fatores que atrapalham um processo inovador iniciado, inibindo resultados. Há fatores inibidores dentro das empresas, como a carência de capital humano qualificado, a mentalidade de apenas disputar participação no mercado existente – quando inovação trata de criar um novo mercado – e, ainda, uma tendência a não sair da zona de conforto.
Há também fatores econômicos, relacionados aos custos altos ou ausência de demandas e fatores resultantes de marcos legais, como regulações complexas, mal funcionamento de instituições que protegem a Propriedade Intelectual (marcas e patentes) e uma selva de regras tributárias que provocam insegurança jurídica.
Comparativamente aos investimentos em P&D praticados nos EUA e França, é possível notar a diferença de importância dada ao tema pela iniciativa privada brasileira.
Nos EUA e França a iniciativa privada investe em maior escala, enquanto no Brasil ocorre justamente o contrário. Em contrapartida o governo destes países respalda suas indústrias priorizando-as de forma absoluta quando das aquisições para o próprio país.
A capacidade de produção tecnológica no campo da defesa, em relação aos vários outros setores da economia, é das que melhor pode contribuir para o desenvolvimento nacional, tendo em vista a característica dos produtos deste mercado. Por essa razão, países economicamente desenvolvidos têm a preocupação em manter sua indústria de defesa fortalecida.
Nos EUA e França a iniciativa privada investe em maior escala, enquanto no Brasil ocorre justamente o contrário. Em contrapartida o governo destes países respalda suas indústrias priorizando-as de forma absoluta quando das aquisições para o próprio país.
A capacidade de produção tecnológica no campo da defesa, em relação aos vários outros setores da economia, é das que melhor pode contribuir para o desenvolvimento nacional, tendo em vista a característica dos produtos deste mercado. Por essa razão, países economicamente desenvolvidos têm a preocupação em manter sua indústria de defesa fortalecida.
O Brasil pretende, em curto prazo, ocupar a posição de 5ª maior potência econômica. Para que tal peso econômico seja acompanhado pelo devido peso político no cenário internacional, é imprescindível que as Forças Armadas brasileiras estejam devidamente equipadas e modernizadas, bem como preparadas no sentido de demandar a Indústria Nacional de Defesa (IND). O grande desafio é fazer com que a IND consiga participar de forma efetiva do contínuo processo de Reaparelhamento das Forças Armadas. Para isso, a IND deve estar capacitada a fornecer produtos e serviços condizentes com as necessidades do Estado.
Há também a preocupação com relação à demanda incerta, fato este que inibe principalmente a pequena e média indústria de iniciar um processo inovador. Já as grandes empresas têm melhores condições econômico financeiras de enfrentar o mesmo desafio.
Outras importantes questões a ressaltar são as ligadas às inflexibilidades organizacionais, como, postura gerencial e de pessoal com relação a mudanças; e incapacidade de direcionar os funcionários para as atividades de inovação em virtude das demandas diárias da produção.
O esforço do País em manter-se na fronteira tecnológica – ou próximo dela – requer geração e manutenção de tecnologias, e empresas capazes de implantar e manter uma cultura de inovação.
Comparando os mesmos países em relação ao investimento de seus governos em P&D nos setores civis, como um todo, e no setor de defesa, a disparidade em termos percentuais de investimento neste setor de alta tecnologia é ainda maior.
Como consequência, no Brasil não raro é usada a transferência de tecnologia como fator acelerador para iniciar grandes projetos nacionais, o que torna menos utilizada a base brasileira de pesquisadores e profissionais ligados às indústrias, universidades e Forças
Armadas, capazes de responder positivamente às demandas por produtos da IND.
Recentes exemplos de programas de sucesso são a Aeronave de Transporte Tático Militar KC-390; Helicóptero EC-725 e o Programa de Desenvolvimento de Submarinos (PROSUB), que certamente propiciarão ao Brasil absorção tecnológica de vital importância. Entretanto, é essencial que as políticas de fomento nos âmbitos tecnológico, econômico, social e institucional sejam mais efetivas, a fim de superar os desafios enfrentados pelo País quanto a inovação.
As indústrias de defesa brasileiras, comprometidas com o fortalecimento da base industrial e com a conquista de mercado interno e externo, precisam desenvolver internamente novas políticas e ações que contribuam para o resultado inovador. Esperar políticas de fomento à inovação por parte do governo, certamente é necessário, mas não é suficiente. É importante ressaltar que produtos nacionais precisam ser desenvolvidos e produzidos, em primeiro lugar, para o próprio País. Uma vez que o cliente da Indústria Nacional de Defesa é o governo, este deve ser o agente de fomento e pioneiro na aquisição de tais produtos. Sem isso, dificilmente um setor industrial tão complexo como o de defesa conseguirá estabelecer-se com fortes alicerces no mercado internacional.
No caso do Brasil esse cenário se agrava, visto que nossa política de aquisição atualmente favorece a compra de produtos importados. Um passo importante para superar muitos problemas da IND foi dado pela Medida Provisória nº5441, ora tramitando no Congresso Nacional. Com sua entrada em vigor, o cenário atual tende a ser revertido, favorecendo a indústria nacional e tornando-a competidora igualitária no aspecto tributário com indústrias estrangeiras.
O investimento em inovação é rentável para as empresas, que agregam maior valor aos produtos, ganham competitividade e retorno financeiro. É também para o País, uma vez que inovação e desenvolvimento tecnológico são fatores determinantes para sua economia . Portanto, tais investimentos são muito importantes como parte da estratégia nacional, assim como de qualquer empresa.
Abaixo alguns dos objetivos e efeitos da inovação. Ver Figura 4
Na indústria de defesa, devido às incertezas na demanda em razão de um comprador único, o Governo, o investimento resulta em um risco maior. Portanto, é essencial o apoio governamental, mesmo que parcial, para compensação desse risco, no desenvolvimento conjunto com as indústrias.
Importância significativa tem também a garantia de compras em volume que viabilize os investimentos. Dessa forma, assim como ocorre em países economicamente mais fortes, o governo apoia o desenvolvimento da indústria e esta responde fortalecendo o país.
É evidente que empresas de grande porte possuem maior facilidade para inovar – considerando o necessário dispêndio de recursos financeiros – assim como é fato que a indústria de defesa por si só não sobrevive. Neste ponto deve ser chamada a atenção de todos para as indústrias duais. São indústrias que tem linha de produtos normalmente fabricados para usos civis, mas que possuem tecnologia e processos dominados e implantados em suas fábricas, que poderiam ser utilizados para produtos de uso militar.
Tecnologias de aplicação dual permitem, não apenas a sobrevivência da IND, como o fortalecimento dessas indústrias quando do desenvolvimento de produtos. Há exemplos como os Veículos Aéreos Não Tripulados (VANTS), sistemas de radares e satélites, entre outros, que contribuem para a entrada do Brasil no mercado internacional, ganhando força e contribuindo para a soberania nacional.
Por fim, deve-se compreender que a inovação e geração de conhecimento não estão exclusivamente atreladas ao desenvolvimento tecnológico. A inovação tem início na mudança cultural no interior das organizações, iniciando-se na sua mais alta direção. A partir disso, permeia produtos e processos, que são os casos de Inovação Tecnológica. Deve-se procurar inovar também na gestão, no marketing e no modelo de negócio da empresa.
Existe forte correlação entre a inovação, empreendedorismo e o desenvolvimento econômico, desempenho organizacional e produtividade. Dessa forma, as organizações que pretendem permanecer competitivas, devem incorporar a cultura da inovação e estimular seus colaboradores quanto às suas capacidades de gerar, difundir e executar suas ideias em prol do aperfeiçoamento de seus produtos e de sua operação.
1 MP nº544: estabelece normas especiais para as compras, as contratações de produtos, de sistemas de defesa, e de desenvolvimento de produtos e de sistemas de defesa, e dispõe sobre regras de incentivo à área estratégica de defesa e dá outras providências
DEPARTAMENTO DA INDÚSTRIA DE DEFESA
COMDEFESA
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