Ativistas de Belarus usam internet para pressionar regime Lukachenko

"Revolução através da Rede Social" é como se intitula o grupo que atualmente faz tremer nas bases o presidente bielorrusso, Alexander Lukachenko. A rede já conta 25 mil membros, e sua comunicação transcorre online através da plataforma vkontakte (em russo: "em contato"), uma versão russa do Facebook. Numa carta aberta ao "cidadão Lukachenko", os organizadores declararam guerra ao regime do odiado chefe de Estado. "Não lutamos por um pedaço de salsicha, ou por 20 dólares a mais, mas sim pela liberdade", rezava o documento.

Suas ações públicas organizadas passaram a acontecer a partir do início de junho último: sempre às quartas-feiras, sempre silenciosas, sempre pacíficas. Numa das mais recentes, calcula-se que em todo o país 5 mil pessoas foram às ruas. O regime interpretou o fato como uma provocação, prendendo centenas de manifestantes.
 
Sem slogans, nem faixas
 
Viatcheslav Dianov é administrador da rede Revolução através da Rede Social. Ele deixa claro que programas políticos não são o assunto da comunidade online. "Lutamos pela liberdade de nosso país. Nossa missão é cuidar para que o regime Lukachenko seja eliminado." Os cidadãos têm que decidir em eleições livres a quem cabe formar o Estado, reivindica.

Deste modo, a tarefa autoimposta dos ativistas online é avivar os cidadãos e organizar o protesto, a fim de alcançar amplas camadas da população, sobretudo a classe operária. Além disso, o protesto precisa, por assim dizer, passar do mundo virtual à esfera real.

O especialista em Belarus Ingo Petz não considera mero acaso o fato de revolucionários da internet estarem à frente do movimento de protesto. Como parte da onda de repressão iniciada após as eleições presidenciais de 2010, políticos da oposição foram aprisionados, condenados em processos de fachada e coagidos ao exílio. O resultado foi a neutralização total da oposição político-partidária. Agora, outros poderes da sociedade tomam o seu lugar, conclui Petz.

O "revolucionário" Dianov afirma pessoalmente não ter medo do contato com os oposicionistas. "Não importa quem vá às ruas: políticos da oposição, trabalhadores, estudantes. Importante é que apoiem a forma das ações: nada de slogans, nada de faixas ou coisas semelhantes. Se os partidos políticos estiverem prontos a adotar essa forma de protesto, vamos dar-lhes as boas-vindas."
 
Centenas de presos desde início de protestos
 
Para a sexta passeata da série, nesta quarta-feira (13/07), a Revolução através da Rede Social estabelecera um plano, devidamente divulgado pelo site da vkontakte. Os manifestantes deveriam se reunir em pequenos grupos em diferentes centros comerciais e, a uma hora determinada, partir para os pontos de encontro, para lá ficarem passeando.
 
Ao contrário de convocações anteriores, não havia a indicação de que aplaudissem e cantassem canções folclóricas. Na capital Minsk e em outras cidades menores, centenas de manifestantes programaram o alarme de seus telefones celulares para tocar às 8h, a fim de despertar Belarus, num gesto simbólico conjunto.
 
 
Apesar do pacifismo declarado, calculado para não dar margem a ação policial, os protestos em Minsk foram dissolvidos violentamente, e mais de cem participantes foram presos, a maioria sob a acusação de tomar parte em reunião pública não autorizada. Entre os detidos encontravam-se pelo menos dois jornalistas. Desde que os "protestos silenciosos" começaram, mais de 1.800 pessoas já foram encarceradas.

Compartilhar:

Leia também

Inscreva-se na nossa newsletter