Israel trava guerra paralela nas redes sociais

Nas duas últimas semanas, mídias sociais como Facebook e Twitter vêm recebendo uma enxurrada de imagens sobre a ofensiva israelense na Faixa de Gaza. As fotos do banho de sangue aparecem de forma tão imediata, que mesmo aqueles que nunca foram a Israel e não têm qualquer ligação com os palestinos acabam se envolvendo emocionalmente.

Foi assim, por exemplo, na semana passada, quando quatro crianças palestinas foram mortas por um bombardeio israelense quando brincavam numa praia em Gaza. Outras três crianças foram levadas às pressas a uma varanda próxima ao hotel Al-Deira, onde jornalistas realizavam medidas de primeiros-socorros para tentar salvar a vida de uma delas, ferida por um estilhaço no peito.

Incidentes como esses, que aparentam ter as crianças com alvos indiscriminados, geram revolta em boa parte da opinião pública. Sabedor disso, Israel decidiu contra-atacar também na guerra da propaganda online, que, até o momento, parece estar sendo vencida pelos palestinos.

Conflito online

Em um campus tranquilo e arborizado, localizado em uma bucólica faixa do litoral do mar Mediterrâneo, está o acanhado laboratório de computação da universidade IDC Hertzliya. Dentro do edifício, ao norte de Tel Aviv, se encontra o centro de comando da nova contra-ofensiva nas mídias sociais promovida por Israel.

Um grupo de 400 estudantes trabalha para diminuir a crescente onda de simpatia pelos palestinos em Gaza, utilizando o hashtag #IsraelUnderFire ("Israel sob fogo"). Eles angariam apoio para uma guerra que entendem ser inevitável, provocada, segundo eles, unicamente pelos mísseis lançados pelos militantes do Hamas. A base da contra-ofensiva de mídia ficou conhecida como a "Sala Hasbara" – ou a "Sala das Explanações".

Do lado palestino, o hashtag #GazaUnderAttack ("Gaza sob ataque") perdeu credibilidade após a descoberta pela rede de notícias BBC de que algumas das imagens postadas eram de episódios mais antigos da violência entre palestinos e israelenses, ou ainda de outros locais de conflito no Oriente Médio, como Iraque e Síria.

Entretanto, o jornal americano New York Times denunciou que imagens divulgadas pela Sala Hasbara também teriam sido falsamente identificadas ou até forjadas.

"Uma das imagens mais postadas pelo #IsraelUnderFire mostra uma manifestante muçulmana segurando um cartaz com os dizeres: 'Parem com o terrorismo do Hamas em Israel' e 'Liberte Gaza do Hamas'. No entanto, essas imagens parecem ter sido forjadas digitalmente, através da manipulação de uma fotografia de um protesto de novembro de 2012 em Sarajevo", afirmou o diário nova-iorquino. (ver fotos acima)
 
A estudante de Relações Internacionais Chenli Pinchevskey, de 22 anos, mergulhou de cabeça na campanha, na qual trabalha em tempo integral. Ela administra os voluntários e a equipe da Sala Hasbara, que funciona através do financiamento de sua universidade e de doações.

"Hoje em dia, o mundo é dominado pela mídia, e o que se vê é o que se sabe. Nós aprendemos com o passar dos anos que o mundo não ouve Israel o suficiente e não conhece o nosso lado da história", afirma. "Toda história tem dois lados, e nós temos nossa própria história para contar. Passamos por tantas mentiras, discursos de ódio e propagandas, que sentimos que temos de fazer alguma coisa."

Os dois lados da história

Ela diz que o seu grupo não faz propaganda de guerra: "Penso que o que fazemos é contar a nossa história, do modo como a sentimos todos os dias. Estou contando ao mundo como é viver em Israel, como é não poder sair de casa em razão do medo de que as sirenes sejam acionadas."

Ao ser indagada se sente alguma simpatia pelos inocentes mortos ou feridos em Gaza, ela afirma: "Em Gaza as crianças tem tanto medo quanto meu irmãozinho; quero que o mundo saiba que o Hamas está fazendo isso com todos nós, e que pode e deve ser detido."

O presidente da União Nacional de Estudantes, Yarden Bem-Youssef, e o estudante Lidon Bar David criaram a Sala Hasbara há dois anos, durante a última investida de Israel na Faixa de Gaza.

Na época, os estudantes não foram convocados como reservistas do Exército para participar da operação contra o Hamas. Eles estimam que em 2012 suas mensagens atingiram em torno de 21 milhões de pessoas em todo o mundo. Recentemente, a dupla criou o website Israelunderfire.com. 

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