Caso Snowden põe à prova relações entre China e EUA, diz imprensa

O caso do ex-técnico da CIA Edward Snowden, que está escondido em Hong Kong após denunciar o programa de espionagem dos EUA, põe à toda prova as relações entre Pequim e Washington, afirmou nesta quinta-feira a imprensa oficial chinesa.

O governo dos EUA acusou várias vezes Pequim de espionagem, mas em entrevista concedida ao jornal de Hong Kong "South China Morning Post", Snowden revelou que Washington faz o mesmo com China e Hong Kong há anos.

"A forma como o governo dos EUA vai conduzir este caso pode representar um desafio para a incipiente boa vontade entre Pequim e Washington, já que Snowden se encontra em território chinês e a relação China-EUA está em constante tensão na questão da cibersegurança", afirmou o China Daily, que citou alguns especialistas.

O jornal dedicou um editorial em sua edição de hoje ao escândalo e considera que os trabalhos de inteligência americanos são "injustificados", já que "as operações, que incluem a coleta de cerca de um bilhão de registros de informações por dia, são uma violação dos direitos civis".

O escândalo despertou um debate sobre as fronteiras entre a segurança e a privacidade que "pode ajudar povo e governo americanos a encontrar um melhor equilíbrio", já que, por outro lado, concluiu o editorial, fatos como os atentados da Maratona de Boston mostraram que estes esforços não estão surtindo efeito.

A agência Xinhua citou o investigador Li Haidong, da Universidade de Relações Exteriores da China, para afirmar que "durante meses Washington acusou à China de ciberespionagem e agora a maior ameaça à liberdade individual e à privacidade nos Estados Unidos é o poder de seu próprio governo".

Segundo Li, Washington se encontra em uma posição incômoda, pois terá que dar explicações aos seus cidadãos e aos de outros países.

Para o analista Zhang Tuosheng, da Fundação Chinesa para Estudos Internacionais e Estratégicos, o caso prova que "EUA e China, ao invés de se acusarem mutuamente (de espionagem na internet) deveriam trabalhar em conjunto para criar regras que sejam respeitadas".

Também destacou que os EUA deveriam abandonar sua política de buscar a "segurança absoluta para si mesmo, o que pode, às vezes, representar danos para os interesses de outras nações".

Outros meios oficiais chineses afirmaram que os Estados Unidos têm que encontrar um melhor equilíbrio entre segurança e privacidade.

O jornal Global Times, por exemplo, ressalta que "muita gente tem medo que suas comunicações privadas sejam violadas em um país (EUA) que sempre se orgulhou de sua liberdade".

A publicação destaca que a forma como o governo americano vai lidar com o escândalo vai redefinir as relações entre sociedades e nações, e que o futuro da internet "depende das decisões tomadas pelos Estados Unidos".

Até o artista chinês Ai Weiwei, o mais conhecido crítico do governo comunista, emitiu hoje opiniões sobre as revelações de Snowden, assinalando que, se forem verdade, podem ser usadas como desculpa pela China para aumentar a espionagem e o controle da população.

O artista, que durante anos criticou a falta de liberdade na China, criticou desta vez os Estados Unidos, destacando que ambos os países "não são muito diferentes quando se trata de invadir a privacidade de seus cidadãos".

China afirma não ter informação sobre Snowden

O governo da China afirmou nesta quinta-feira que não tem nenhuma informação a divulgar sobre o americano Edward Snowden, refugiado em Hong Kong, que revelou um programa de espionagem do governo americano na internet.

"Não tenho nenhuma informação a revelar", afirmou Hua Chunying, porta-voz da diplomacia chinesa, ao ser questionada diversas vezes sobre um possível pedido de asilo de Snowden ou sobre o paradeiro extado do americano.

Ela também respondeu da mesma maneira quando foi questionada se o governo dos Estados Unidos entrou em contato com a China para pedir a extradição, assim como sobre qual seria a postura da China caso Snowden solicitasse asilo em Hong Kong. Os jornalistas também perguntaram se o governo chinês ou a administração de Hong Kong extraditariam Snowden e Chunying respondeu com a mesma frase. 

A porta-voz reiterou a posição chinesa de que o país é vítima de ataques cibernéticos e "defende com fortemente a segurança cibernética". Também insistiu na posição chinesa de que a comunidade internacional deveria abrir um diálogo sobre a "manutenção da paz, da segurança, da abertura e da cooperação no ciberespaço".

Com agências AFP/EFE

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