Jerusalém e Gaza: por que a nova onda de violência era ‘inevitável’

A mais recente onda de violência a atingir o Oriente Médio segue se agravando. Nesta quarta-feira (12/05), Israel declarou estado de emergência na cidade central de Lod depois de protestos realizados por árabes israelenses.

Carros foram incendiados e um pai e uma filha — ambos árabes israelenses — morreram quando um foguete vindo de Gaza atingiu seu carro. Militantes palestinos dispararam centenas de foguetes contra Israel, enquanto Israel realizava pesados ataques aéreos contra Gaza.

Pelo menos 40 pessoas morreram até agora, nesta que é a maior escalada de violência dos últimos anos na região.

Os militares israelenses dizem que estão alvejando militantes em Gaza em resposta a ataques de foguetes contra Jerusalém e outras áreas.

Mais de mil foguetes foram disparados contra o centro e o sul de Israel por militantes palestinos desde a noite de segunda-feira, quando as hostilidades aumentaram repentinamente, disse o Exército israelense.

Os militantes palestinos disseram ter atacado a capital israelense, Tel Aviv, depois que um ataque aéreo de Israel demoliu um prédio na Faixa de Gaza, na terça-feira (11/05). Um segundo bloco da torre desabou após outro ataque israelense.

Os residentes foram avisados para evacuar a Torre al-Jawhara de 12 andares. No entanto, as autoridades de saúde dizem que ainda assim houve mortes de civis.

Mais de 200 foguetes foram disparados contra Tel Aviv e Beersheba após o ataque à torre, disseram militantes palestinos.

As bases do conflito

Uma nova onda de violência atinge Israel e a Faixa de Gaza, e a lógica permanece inalterada: o conflito não resolvido entre judeus e árabes que tem arruinado e acabado com as vidas de palestinos e israelenses por gerações.

É uma ferida aberta no coração do Oriente Médio e o fato de o conflito ter desaparecido das manchetes internacionais nos últimos anos não significa que ele tenha acabado. Os problemas não mudam, nem o ódio e a amargura que atravessam não apenas anos, mas gerações.

Por mais de um século, judeus e árabes lutam para dominar a faixa de terra entre o rio Jordão e o mar Mediterrâneo.

Israel infligiu uma série de derrotas esmagadoras aos palestinos desde que foi criado como Estado em 1948, mas ainda não pode se declarar vitorioso.

E enquanto o conflito continuar, nenhum dos lados estará seguro.

A única certeza é que de tempos em tempos, no mínimo, haverá uma crise grave e violenta.

O padrão dos últimos 15 anos frequentemente envolveu combates na área que separa Gaza de Israel.

O problema de Jerusalém

A explosão de violência desta vez tem sido um lembrete de que Jerusalém e seus locais sagrados têm uma capacidade incomparável de acirrar os ânimos.

A importância da cidade para cristãos, judeus e muçulmanos não é apenas uma questão religiosa.

Os locais sagrados judeus e muçulmanos também são símbolos nacionais. Geograficamente, eles estão literalmente lado a lado. A Igreja do Santo Sepulcro, venerada pelos cristãos palestinos, fica próxima a um posto de controle israelense.

O que há de novo agora

Os novos gatilhos para o mais recente confronto incluem ameaças de despejo de palestinos de suas casas em Sheikh Jarrah.

Trata-se de um bairro palestino fora dos muros da Cidade Velha, com terras e propriedades reivindicadas por grupos de colonos judeus em tribunais israelenses.

Isso é mais do que uma mera disputa por um punhado de casas. Ela acontece depois de anos de sucessivos governos israelenses perseguindo o objetivo estratégico de tornar Jerusalém mais judaica.

Grandes assentamentos para judeus foram construídos em terras ocupadas ao redor da cidade, em violação ao direito internacional.

Nos últimos anos, o governo e grupos de colonos trabalharam para estabelecer judeus israelenses em áreas palestinas próximas à murada Cidade Velha, de casa em casa.

O novo estopim

Somado a isso nas últimas semanas, houve a severa vigilância israelense dos palestinos durante o Ramadã, culminando no uso de spray de pimenta e granadas de choque dentro da Mesquita de Al-Aqsa, o lugar mais sagrado para os muçulmanos depois de Meca e Medina.

O Hamas deu o passo incomum de emitir um ultimato a Israel para retirar suas forças do complexo de Al-Aqsa e Sheikh Jarrah, e então disparou foguetes contra Jerusalém.

O primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, tuitou: "As organizações terroristas em Gaza cruzaram a linha vermelha … Israel responderá com grande força."

Outra combinação de eventos poderia ter terminado da mesma maneira. Eventos violentos assim acontecerão repetidamente enquanto o conflito não for resolvido.

O conflito tem solução?

Um apresentador da BBC me perguntou recentemente, quando a crise estava se agravando, quando foi a última vez que tive esperança de que os dois lados encontrariam uma maneira de coexistir em paz.

Morei em Jerusalém de 1995 a 2000 e voltei muitas vezes depois disso.

Achar uma resposta para essa pergunta foi difícil.

No auge do processo de paz de Oslo na década de 1990, houve um breve momento de esperança, mas apenas os residentes de Jerusalém na casa dos 40 anos terão lembrança daquele tempo.

Líderes de ambos os lados têm travado suas próprias batalhas políticas internas, concentrando-se em salvaguardar suas próprias posições, quando o maior problema para qualquer líder palestino ou israelense deveria ser obter a paz.

Esse desafio não foi abordado seriamente por anos.

Algumas novas ideias surgiram.

Dois conceituados think tanks, o Carnegie Endowment for International Peace e o US/Middle East Project acabam de publicar um relatório conjunto argumentando que a primeira prioridade deve ser direitos iguais e segurança igual para palestinos e israelenses.

Eles dizem que os EUA devem apoiar "a igualdade total e o direito de voto para todos os que residem no território sob controle israelense; não devem apoiar dois sistemas separados e desiguais".

Um novo pensamento é algo positivo. No entanto, as realidades desta semana, a retórica que soa familiar e a mais recente erupção de um conflito de um século estão abafando todo o resto.

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