Plano de paz dos EUA para o Oriente Médio recebe duras críticas palestinas

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, revelou nesta terça-feira (28) seu plano de paz para o Oriente Médio com base em uma solução de "dois Estados", no qual ele atribui a Israel uma série de garantias, que provocaram duras críticas palestinas.

"Minha visão apresenta (…) uma solução realista de dois Estados", disse Trump, dando garantias sem precedentes ao seu "amigo", o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, que disse que este era "um dia histórico".

Otimista, o presidente americano avaliou que sua iniciativa permitiria dar "um grande passo rumo à paz".

Mas o movimento Hamas, o primeiro a reagir no campo palestino, o repudiou de imediato.

"Não passará", disse o presidente da Autoridade Palestina, Mahmud Abbas, após reunião em Ramallah entre as facções palestinas, incluindo o Hamas. Abbas já havia considerado a proposta "morta" antes de conhecê-la.

Pelo menos treze palestinos ficaram feridos em confrontos com as forças israelenses durante os protestos na Cisjordânia contra o plano de paz de Trump.

Trump enfatizou sua convicção de que os palestinos merecem "uma vida melhor", mas dirigiu a eles uma advertência.

Disse que havia enviado uma carta ao presidente Mahmud Abbas, exortando-o a aproveitar "uma oportunidade histórica", talvez "a última", para conseguir um Estado independente.

"Expliquei-lhe que o território atribuído ao seu novo Estado permanecerá aberto e sem desenvolver (com colônias israelenses) por um período de quatro anos", disse.

Fronteiras

O futuro Estado palestino só verá a luz do dia sob várias "condições", incluindo "um claro repúdio ao terrorismo", destacou Trump ao explicar seu plano "muito detalhado" de 80 páginas.

A Casa Branca informou que o plano propõe um Estado palestino "desmilitarizado".

Publicou, ainda, um mapa com as futuras fronteiras que contém 15 assentamentos israelenses, ligados à área da Faixa de Gaza por um único túnel. Isto tecnicamente cumpriria com a promessa de Trump de um Estado palestino contíguo.

Jerusalém continuaria sendo "a capital indivisível de Israel", afirmou, embora também tenha proposto criar uma capital do Estado palestino em Jerusalém oriental, sem explicar como as duas coisas serão conciliadas.

Os palestinos querem fazer de Jerusalém oriental, parte da cidade ocupada desde 1967 por Israel e em seguida anexada, a capital do futuro Estado a que aspiram.

Após tomar conhecimento do projeto, a ONU anunciou sua adesão às resoluções que já adotou e aos acordos bilaterais sobre a criação de dois estados, Israel e Palestina ", que convivam em paz e segurança dentro das fronteiras reconhecidas, com base nas linhas definidas. em 1967 ".

O primeiro-ministro israelense, por sua vez, enfatizou que o plano da Casa Branca daria a Israel soberania sobre o Vale do Jordão, uma vasta área estratégica da Cisjordânia ocupada, onde o exército israelense acaba de fortalecer sua presença.

De fato, ele pedirá no domingo aos ministros no que aprovem a anexação de partes da Cisjordânia ocupada, disseram autoridades israelenses à AFP.

A União Europeia (UE) reafirmou sua disposição de trabalhar por uma solução de dois estados e disse que a iniciativa dos americanos "oferece a oportunidade de relançar os esforços urgentemente necessários para alcançar uma solução negociada e viável para o conflito israelense-palestino", declarou a chefe da diplomacia europeia, Josep Borrell.

Já a Rússia pediu a israelenses e palestinos a iniciar "negociações diretas".

Os Emirados Árabes Unidos, enquanto isso, chamaram o plano de "um importante ponto de partida", enquanto o Irã o considerou "a traição do século".

 "Apoio inquebrantável" saudita

O rei Salman, da Arábia Saudita, afirmou seu apoio "inquebrantável" aos direitos dos palestinos durante uma entrevista por telefone com o presidente palestino, Mahmud Abbas, informou nesta quarta a agência pública saudita (SPA).

O rei está do lado dos palestinos e apoia "suas escolhas e o que representa suas esperanças e aspirações", destacou a SPA.

Mais cedo, o ministério saudita das Relações Exteriores informou que a Arábia Saudita apreciava os esforços dos Estados Unidos para consolidar um plano de paz no Oriente Médio, e pediu negociações diretas entre israelenses e palestinos.

Qualquer desavença com o plano americano deve ser resolvida mediante a negociação "para avançar no processo de paz com vistas a lançar um acordo que reconheça os direitos legítimos do povo palestino", destacou o ministério em um comunicado.

Israel reforça tropas na Cisjordânia após anúncio do plano de paz de Trump

O Exército israelense reforçou sua presença na Cisjordânia e nas proximidades de Gaza nesta quarta-feira (29), um dia depois do anúncio do plano de paz proposto por Donald Trump para o Oriente Médio. Embora a iniciativa americana tenha sido aceita de forma positiva por Israel, na Palestina tem profunda rejeição.

Esta noite, pouco depois do anúncio sobre os reforços militares, foi registrado o disparo de um míssil contra Israel procedente da Faixa de Gaza, segundo informações do exército israelense.

Em resposta, o exército de Israel, por sua vez, anunciou que "caças (israelenses) atacaram vários alvos terrestres do Hamas no sul da Faixa de Gaza".

Novos protestos contra o plano de paz ocorreram nesta quarta-feira na Cisjordânia e na Faixa de Gaza, deixando vários feridos. Os líderes palestinos consideram que a proposta de Washington favorece os interesses israelenses.

O presidente palestino Mahmud Abbas, que rejeitou propostas de diálogo com o Estados Unidos nos últimos meses, declarou que o plano "não acontecerá".

Abas deve explicar diante do Conselho de Segurança da ONU em até duas semanas sobre a recusa ao plano, anunciou nesta quarta-feira o embaixador palestino nas Nações Unidas, Riyad Mansur.

O plano da Casa Branca daria a Israel a soberania sobre o Vale do rio Jordão, uma grande área estratégica da Cisjordânia ocupada desde 1967. É nesse local que o exército israelense acaba de fortalecer a sua presença e deve se tornar a nova fronteira oriental do país.

Com uma bandeira palestina em mãos, Thabit Atiya, de 52 anos, participou de uma manifestação nesta quarta-feira em Tubas, situada no vale.

"Estou aqui para expressar minha oposição contra o plano de Trump", contou à AFP. "Queremos mostrar que a Palestina não está vazia e que seus habitantes continuam aqui".

"Oportunidade única"

De acordo com o plano, Jerusalém continuará sendo "a capital indivisível de Israel". Além disso, há a proposta de criação de uma capital do Estado palestino nas proximidades da parte leste de Israel. Em resposta, a Palestina considera que trata-se de uma proposta inaceitável.

"É impossível para qualquer criança, árabe ou palestina, aceitar que Jerusalém não seja considerada como capital" de um Estado palestino, disse Abas, cujo posicionamento coincide com o do movimento islâmico Hamas, que controla a Faixa de Gaza, enclave geograficamente separado da Cisjordânia.

"O acordo americano de paz para o Oriente Médio apenas copiou o plano de Netanyahu", criticou Saëb Erekat, secretário-geral da Organização para a Libertação da Palestina (OLP).

"Esse plano não trará nenhuma solução e aumentará não somente as tensões, mas provavelmente a violência e o derramamento de sangue", afirmaram as Igrejas Católicas da Terra Santa, em comunicado conjunto oficial.

Da parte israelense, as reações foram diferentes.

"A história bateu em nossa porta ontem à noite e nos deu a oportunidade única de aplicar a lei israelense em todas as colônias na Judeia e Samaria (nome dado pelas autoridades de Israel à Cisjordânia) e no vale do rio Jordão", parabenizou o ministro de Defesa, Naftali Bennett.

No entanto, há membros da direita radical, aliados a Netanyahu, que se mostraram contra alguns pontos do plano americano que propõe a criação de um Estado palestino desmilitarizado.

"Não deixaremos que a segurança de locais como Judeia e Samaria seja ameaçada", afirmou Ysrael Gantz, uma das autoridades à frente das colônias no setor de Ramala, na Cisjordânia.

Benny Gantz, principal rival de Netanyahu nas próximas eleições, solicitou nesta quarta-feira à noite que o parlamento israelense vote "sobre o conjunto" de propostas existentes no plano.

"Traição do século"

No mundo, o plano de paz foi recebido de forma cautelosa. Apenas Ankara e o Irã reagiram imediatamente, mostrando-se contrários à proposta. O Irã intitulou a iniciativa como "a traição do século".

A ONU, por sua vez, respondeu que continuará reconhecendo as fronteiras definidas em 1967, assim como afirmou a Jordânia.

O Egito, que possui acordo de paz com Israel, tomou uma posição prudente ao sugerir que as partes envolvidas examinem atentamente as propostas do acordo de paz.

Nesta quarta-feira, a França chamou a atenção para a necessidade de uma solução que respeite o direito internacional para todas as partes envolvidas.

A Arábia Saudita disse que aprecia os esforços de Trump e sugeriu que Israel e Palestina negociem diretamente. O reino, no entanto, reafirmou o seu compromisso inquebrável com os palestinos.

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