Tempestades severas podem levar o Brasil a adotar alerta de tornados


Júlio Ottoboni
Especial para DefesaNet

 

Com a potencialização do El Niño e a presença constante de extremos climáticos, as tempestades que estão atingindo o Sul e o Sudeste do Brasil estão cada vez mais proporcionando a formação de tornados. O fenômeno é considerado o mais violento dentro da meteorologia e tem alto poder de destruição.

 

Nos últimos meses foi registrado o fenômeno também nos litorais de Alagoas, Santa Catarina e no interior do Paraná, São Paulo e de Minas Gerais, inclusive em áreas do Norte do país onde se imaginava ser raro esse tipo de formação. As zonas de impacto das ondas de calor com as massas de ar frio estão intensificando a formação de extremos climáticos, com chuvas com altos índices pluviométricos, volumes recordes de descargas elétricas atmosféricas, rajadas de ventos intensas além da precipitação de granizos.
 
O Centro Nacional de Monitoramento de Desastres Naturais (Cemaden), que se encontra no Centro de Previsão do Tempo e Estudos Climáticos (Cptec), do Instituto Nacional de Pesquisas Espacias (Inpe), em Cachoeira Paulista (SP),e instalado no Parque Tecnológico de São José dos Campos estuda essas alterações no comportamento climático do país e já estuda a criação de um sistema de alerta de tornados para o Brasil.

 

 
Segundo o secretário de Políticas de Pesquisas do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação, Carlos Nobre, essa é uma segunda etapa a ser seguida pelo novo órgão que terá função de prever catástrofes em regiões habitadas. O interior de São Paulo tem hoje a maior incidência deste tipo de fenômeno.
 
O Brasil, segundo recentes estudos da Unicamp, está classificado como o segundo maior em volume de tornados no mundo. Entretanto, como é um fenômeno que até meados dos anos 90 era desconsiderado por grande maioria dos meteorologistas do país, nunca teve a atenção necessária. O poder de destruição, medido pela Escala Fujita, ainda é timidamente aplicado em território nacional. Um dos problemas é a falta de radares doppler.
 
"Por mais que o país tenha um clima que propicie esse tipo de fenômeno, nossas estatísticas são poucas. Isto não exime que os tornados sejam passados despercebidos, embora não tenhamos nada semelhante a violência do que ocorre nos Estados Unidos", ressaltou Nobre.
 
Para ele isto será feito num segundo momento, pois há questões climáticas que geram problemas mais sérios como deslizamentos e grandes tempestades em áreas urbanas.
 
Para o cientista, as observações da própria população serão fundamentais para auxiliar neste futuro sistema de alerta de tornados. As pessoas terão cargas informativas maiores para identificar não só o fenômeno como tempestades que possam vir gera-los. "Isto deverá ocorrer, mas não agora, pois ainda temos poucas informações para criarmos um sistema de alerta. Mas a tendência é caminharmos para isto, mesmo que os eventos daqui sejam bem menos intensos que os existentes nos Estados Unidos, por exemplo".
 
Um estudo da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) recuperou registros desse fenômeno natural no país desde 1990. A conclusão é que nos últimos 20 anos ocorreram mais de 200 tornados no País. No Brasil inexiste ainda um sistema de detecção e os registros oficiais são inexpressivos diante do volume potencial. O Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) documentou apenas 10 tornados durante toda a década de 1990, mesmo com forte resistência por parte dos próprios meteorologistas que não admitiam esse evento em território nacional.
 
A pesquisa da Unicamp recorreu também a registros em jornais e sites e blogs na internet sobre meteorologia que tinham fotos e vídeos feitos por leigos. Um dos resultados foi o aumento no número de casos de tornados nos 10 últimos anos. Para o geógrafo, funcionário do Cemaden e autor do estudo, Daniel Henrique Candido, não é possível dizer se essa é uma estatística que retrata a realidade ou surgiu com a melhoria nos registros.
 
"Muito provavelmente, o que temos é um aumento dos registros. Hoje, todo mundo tem um celular com câmera filmadora e fotográfica para registrar o evento e disponibilizar na internet", comentou o pesquisador da Unicamp. O levantamento mostra que São Paulo é o estado mais atingido por tornados, seguido por Rio Grande do Sul e Santa Catarina.
 
A liderança de São Paulo foi recebida com surpresa, pois as condições climáticas e o relevo natural dos estados do Sul, que é mais plano, estão mais propensos a formação de tornados, já que recebem frentes carregadas de muito energia vindas da Argentina, da zona das grandes tempestades.
 
Em São Paulo, as regiões com maior incidência e potencial para a formação de um tornado são o Vale do Paraíba, Campinas, Indaiatuba e Itu. Nestas áreas a probabilidade é de cerca de 25% ao ano. Embora a área potencial dentro do Estado seja bem maior, abrangendo diversas cidades.
 
Candido observou que a grande incidência de tornados em São Paulo se deve a questões antrópicas, como à urbanização. As construções de concreto, asfalto e o crescimento da poluição na baixa troposfera favorecem a formação de ilhas de calor, e ainda conta com grandes áreas de represamento dos rios, que gera mais umidade no ar e potencializa em muito o fenômeno.
 
Nos Estados Unidos, os tornados são eventos característicos de meia estação. Em São Paulo, o ápice de ocorrência é em maio, quando massas de ar quente do verão se encontram com o ar frio vindo do Sul, podendo dar origem a tempestades severas com tornados. Entretanto, com o verão seco e muito quente, as características atípicas modificaram o comportamento padrão das chuvas e possibilitaram a formação de tornados. Já no Sul, o fenômeno acontece desde a primavera, em outubro, até o fim do verão.
 
Os tornados, também conhecidos como Twistters, se formam quando se forma uma tempestade severa em áreas planas. As massas de ar quentes e frias começam a trocar rapidamente de lugar a baixa atmosfera, gerando diferentes pressões, e acaba por propiciar a nuvem em gancho, de onde sai os ventos em forma de cone até atingir o solo. A escala de medição dos tornados é a Fujita e vai de F0 até F5. No Brasil já foi registrado um fenômeno F3, que detém um alto poder de destruição.
 
Atualmente há páginas dedicadas ao assunto no Facebook, principalmente de meteorologistas profissionais e amadores para relatar casos de tornados. O volume de  relatos, vários deles seguidos por fotos e vídeos, é impressionante. Como a Tornados no Brasil ou as postagens de Wagner Onuczak. Uma foto publicada no Tornados do Brasil mostra que no último dia 25 de outubro, domingo, um nuvem funil foi registrada na cidade de Andradas em Minas Gerais.

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