Cúpula da UE deve buscar respostas sobre estratégia envolvendo EUA e China

Os 27 líderes da União Europeia buscarão uma nova abordagem em relação à China nesta terça-feira em sua primeira cúpula sobre estratégia sino-europeia desde que o bloco impôs sanções a Pequim, em março, e enfrentou retaliação, prejudicando um novo pacto de investimentos.

Junto com os Estados Unidos, Reino Unido e Canadá, a UE impôs sanções a autoridades chinesas em 22 de março por abusos de direitos humanos, o que Pequim nega. A China imediatamente atingiu a UE com sanções ao Parlamento Europeu, congelando a aprovação de um acordo de investimento UE-China recentemente alcançado.

Os líderes também vão discutir a ideia de criar uma reserva de gás da UE e desvincular os preços da eletricidade dos preços do gás, disse a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, nesta terça-feira, embora seja apenas um primeiro debate.

O encontro em Brdo, perto da capital da Eslovénia, Liubliana, terá início nesta terça-feira.

Autoridades e diplomatas seniores da UE também esperam que a reunião informal seja um momento de debate para o bloco se tornar mais independente dos Estados Unidos e desempenhar um papel na guinada da política externa de Washington para a Ásia.

China corre risco de crescimento lento sem mais concorrência no mercado, aponta estudo dos EUA

A China corre o risco de ter um crescimento mais lento se não fizer o suficiente para estimular a concorrência no mercado, permitindo que o setor privado desempenhe um papel maior na economia e um maior fluxo bidirecional nos investimentos internacionais, mostrou um relatório nesta terça-feira.

"Sem uma mudança orientada para o mercado, a China lutará para manter um potencial de crescimento superior a 3% ao ano até o meio desta década", disse um relatório divulgado pelo instituto norte-americano Atlantic Council e pela consultoria Rhodium Group.

O crescimento econômico da China diminuiu gradualmente de 2011 a 2020, expandindo na casa de um dígito em comparação com ganhos relativamente grandes nos anos logo após sua adesão à Organização Mundial do Comércio (OMC), no final de 2001. A China estabeleceu uma meta de crescimento para sua economia de pelo menos 6% em 2021, após conseguir um crescimento de 2,3% em 2020, ano em que a pandemia atingiu duramente a economia.

Embora a China tenha feito progressos em algumas áreas, como o comércio, onde cortou tarifas a um nível comparável ou inferior ao das economias da OCDE, os sinais recentes de política monetária não estão de acordo com um curso orientado para o mercado, disse o relatório.

A busca por uma estratégia chamada de "dupla circulação" para tornar a China menos dependente do mundo exterior, apoiada pelo presidente Xi Jinping, também corre o risco de retroceder em anos de integração econômica e interdependência mais rígidas, disse o relatório.

A competição inadequada de mercado e a ineficiência reduzirão a produtividade e, por sua vez, o Produto Interno Bruto (PIB) – "potencialmente em trilhões de dólares em cinco anos", alertou o relatório.

EUA diz buscar diálogo franco com a China sobre o comércio e mantém tarifas¹

Os Estados Unidos planejam iniciar em breve um diálogo franco com a China sobre o comércio, mas manterão as tarifas por enquanto, anunciou nesta segunda-feira (4) o governo de Joe Biden, que estima que Pequim tenha violado o acordo assinado em 2020.

A China assumiu compromissos que devem beneficiar algumas indústrias americanas, como a agricultura, que devemos fazer respeitar", afirmará Katherine Tai no Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais (CSIS), um "think tank" americano com sede em Washington.

"Pretendo ter conversas francas com meu homólogo chinês nos próximos dias", disse Tai, ressaltando que o objetivo "não é agravar as tensões comerciais com a China", mas defender "o máximo possível" os interesses econômicos dos Estados Unidos.

“E isso significa tomar todas as medidas necessárias para nos proteger contra as ondas de danos infligidos ao longo dos anos pela concorrência desleal”, afirmou.

Tai, que foi convidada por Biden em janeiro passado para realizar uma revisão abrangente da relação bilateral, observou que o acordo assinado em janeiro de 2020 entre Trump e o vice-primeiro-ministro e negociador-chefe da China, Liu He, "não respondeu de forma significativa às preocupações fundamentais" dos Estados Unidos sobre as práticas comerciais da China e "seu impacto adverso na economia dos Estados Unidos".

Após oito meses de trabalho, a representante comercial deu poucos detalhes sobre como resolveria esses problemas.

Antecipou, no entanto, que Washington decidiu manter as tarifas punitivas impostas pelo governo Trump, de 370 bilhões de dólares em produtos chineses anualmente, ao iniciar um procedimento de isenção para ajudar as pequenas e médias empresas americanas gravemente afetadas por essas sobretaxas.

“Começaremos o processo de eliminação de tarifas específicas. Asseguraremos que a estrutura de fiscalização existente atenda da melhor forma aos nossos interesses econômicos. Manteremos aberta a possibilidade de processos de remoção adicionais conforme justificado”, explicou.

As tarifas, adotadas em retaliação às práticas comerciais chinesas, são criticadas por muitas empresas americanas, algumas das quais têm poucas alternativas aos produtos chineses e, portanto, são obrigadas a pagar esses impostos.

No início de agosto, grandes grupos americanos pediram ao governo Biden a redução das tarifas.

Aliados e "abordagem pragmática"

Tai, que até agora fez apenas uma reunião com Liu He, nunca escondeu que esses direitos alfandegários serviram de alavanca nas discussões.

Como o governo anterior, a administração de Biden quer enfrentar problemas mais estruturais, como subsídios a empresas estatais chinesas ou "roubo" de propriedade intelectual.

No chamado acordo de "Fase Um", a China se comprometeu a comprar US$ 200 bilhões adicionais em produtos norte-americanos em dois anos, incluindo produtos agrícolas, energéticos e manufaturados, com o objetivo de reduzir o desequilíbrio comercial entre os dois países.

Esse acordo havia permitido uma trégua na guerra comercial entre os Estados Unidos e a China, que desacelerou seu crescimento. Tratava-se de reequilibrar o comércio bilateral, antes de uma segunda fase para tratar de problemas estruturais.

Tai, que viajará a Paris para discussões na OCDE, espera conseguir o apoio de aliados históricos dos Estados Unidos.

"No centro de nossa estratégia está o compromisso de garantir que trabalhemos com nossos parceiros para criar mercados justos e abertos", prometeu Tai.

Ela também destacou que as relações comerciais e econômicas entre as duas maiores potências econômicas do planeta têm “um impacto em todo o mundo e em bilhões de trabalhadores”.

Washington antecipa discussões difíceis com Pequim. Um alto funcionário do governo Biden criticou a "abordagem autoritária" de Pequim e disse que o governo chinês está ignorando às preocupações dos EUA em questões estruturais, como subsídios estatais.

"Sabemos que é improvável que a China faça reformas significativas, pelo menos por enquanto", admitiu o funcionário sob condição de anonimato.

"Precisamos ter uma estratégia que trate a China como ela é, ao invés do que gostaríamos que fosse", disse. "Devemos adotar uma nova abordagem holística e pragmática em nossas relações com a China", concluiu Tai.

¹com AFP

 

 

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