China – Expansão Militar e Tecnológica da China em Terra, no Mar e no Espaço

EXPANSÃO MILITAR E TECNOLÓGICA DA CHINA

EM TERRA, NO MAR E NO ESPAÇO

 

SERGIO DUARTE

Embaixador

 Presidente das Conferências Pugwash

 sobre Ciência e Assuntos Mundiais.

 

                     

Durante grande parte das décadas posteriores à Guerra Fria, a estabilidade estratégica prevaleceu na Ásia oriental, possibilitando relativa distensão e favorecendo o desenvolvimento da economia da região. Mais recentemente, porém, esse panorama vem-se modificando à medida que aumenta a rivalidade comercial e tecnológica entre os Estados Unidos e a China, trazendo à toma novas preocupações de segurança. Em consequência, a competição tecnológica e a corrida armamentista em que estão empenhadas as duas potências prosseguem aceleradamente, em especial na esfera naval e no domínio da exploração do espaço extraterrestre. 

Os avanços tecnológicos chineses acrescentam novos elementos à rivalidade e competição com os Estados Unidos, que veem sua hegemonia ameaçada em diversos aspectos, tanto nas águas dos oceanos Índico e Pacífico adjacentes à China quanto no domínio do espaço exterior.        

   

Capacidade de segundo ataque e poderio marítimo

Nos últimos meses surgiram relatos de desenvolvimento da capacidade chinesa de “segundo ataque” (second strike) por meio de uma frota de veículos terrestres que transportam mísseis balísticos Dongfeng 41, dotados de ogivas nucleares e capazes de atingir os Estados Unidos. Devido a seu grande número e ao fato de estarem sempre em movimento, dispersas pelo vasto território chinês, eliminar completamente essas forças seria tarefa quase impossível, pois muitos desses veículos sobreviveriam a um primeiro ataque nuclear.

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Capacidade chinesa de “segundo ataque” (second strike) por meio de uma frota de veículos terrestres que transportam mísseis balísticos Dongfeng 41

O arsenal nuclear chinês é relativamente reduzido em comparação com os das duas outras principais potências. Estima-se que a China possua aproximadamente 320 ogivas atômicas operacionais, em contraposição a 5.641 russas e 5.173 norte-americanas. Acredita-se que os chineses pretendam dobrar o total de suas armas nucleares ao longo dos próximos anos. 

 

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Type 094 SSBN Long March 18 incorporado à esquadra em 23 Abril 2021

Bolacha do Submarino Type 094 SSBN Long March 18

Ao mesmo tempo, a China atribui crescente importância a seu programa de ampliação e modernização do poderio militar marítimo. Sua Marinha de guerra já é a maior do mundo, com 350 unidades distribuídas em três frotas. Dois novos submarinos do tipo 094A, a propulsão nuclear acabam, de ser incorporados ao braço naval do Exército Popular de Libertação da China (EPL). Com isso, cresce para seis o total de submersíveis dessa categoria, capazes de disparar torpedos e mísseis com explosivos convencionais ou nucleares e dotados de sistemas de radar e sonar aperfeiçoados.

Observadores ocidentais informam que o EPL pretende construir no futuro mais seis desses submarinos, elevando o total para doze. Os submarinos do tipo 094A têm 137 metros de comprimento e estão equipados com doze tubos para lançamento de mísseis balísticos, cada qual equipado com três ogivas nucleares, cujo alcance permitiria atingir qualquer ponto do território continental norte-americano. Os submersíveis são integralmente construídos nos importantes estaleiros de Wuhan, a 840 quilômetros do oceano, cujo acesso é feito pelo rio Yangtze.

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Em 23 Abril 2021, a Marinha do PLA incorporou na esquadra:  1 Destroyer Type 055 DDG (OTAN Classe Renhai) , 1 Porta-HelicópterosType 075 LHD (OTAN Classe Yushen) e o submarino Type 094 SSBN (OTAN Classe Jin)

Entre outras aquisições recentes da Marinha chinesa estão o porta-aviões Shandong – o primeiro vaso de guerra desse tipo – e o destróier Tipo 055. No campo aeronáutico as novidades são o avião de caça J-15 baseado em porta-aviões e uma aeronave de patrulha anti-submarina.  

Rivalidade espacial

Além da expansão e modernização de sua frota militar marítima, a China vem ampliando suas atividades de exploração do espaço exterior. 15 anos depois de haver colocado em órbita terrestre o primeiro astronauta chinês, Pequim prossegue seus planos de conquista do espaço, emulando os esforços de seus antecessores, como a Rússia e os Estados Unidos.  Em 2019 pela primeira vez um engenho explorador pousou no lado oculto da Lua – o robô Chang’e-4.

Um dos principais programas chineses em curso é a construção da estação espacial Tiangong, cuja terceira fase foi completada com êxito no início de maio corrente com o lançamento do módulo central. A Tiangong ficará em órbita terrestre entre 340 e 450 km. Estima-se que a montagem final ocupará mais de um ano de trabalho e que a estação terá uma vida útil de 10 a 15 anos. A Estação Espacial Internacional (ISS), projeto multilateral de que participam diversos países, inclusive o Brasil, já se encontra em operação há mais de 20 anos e poderá ser desativada em futuro não muito distante.

Esse novo sucesso espacial chinês preocupa autoridades e comentaristas norte-americanos em assuntos militares, que consideram possível a integração de capacidades de reconhecimento, posicionamento e navegação por satélite com seu armamento nuclear e com os sistemas de comando e controle, o que reduziria a atual vantagem competitiva dos Estados Unidos no uso dessa tecnologia.

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Reprodução artística da descida do veículo explorador Zhurong da plataforma que o transportou  superfície de Marte (Foto CNSA à via AP)             

O segundo e mais espetacular feito da tecnologia espacial chinesa foi a entrada em órbita marciana, em fevereiro último, da missão Tianwen 1 lançada a bordo de um foguete Longa Marcha disparado em julho de 2020. Três meses depois a plataforma a que estava acoplado o veículo explorador Zhurong desprendeu-se da nave e aterrissou suavemente em Marte. Segundo fontes chinesas, o objetivo da missão é conduzir experiências destinadas a verificar a existência de gelo sob a superfície do planeta e a estudar a composição do solo e o clima marciano.

Os avanços tecnológicos chineses acrescentam novos elementos à rivalidade e competição com os Estados Unidos, que veem sua hegemonia ameaçada em diversos aspectos, tanto nas águas dos oceanos Índico e Pacífico adjacentes à China quanto no domínio do espaço exterior.          

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