Míssil BVR Meteor +F-39E Gripen elevam o poder aéreo brasileiro com lançamento histórico

Em um cenário desafiador e com perfis de disparo complexos, a aeronave e o armamento mais avançados do arsenal da FAB ampliaram de forma significativa o poder dissuasório e a capacidade defensiva do país

Fonte: Agência Força Aérea
Tenente Myrea Calazans
Edição: Agência Força Aérea
Fotos: Sargentos Frutuoso/ DCTA e Müller Marin/ CECOMSAER
Video: Sargento Neris/ CECOMSAER

A Força Aérea Brasileira (FAB) marcou um significativo avanço para a soberania e o desenvolvimento tecnológico do país ao realizar, em novembro deste ano, o Exercício Técnico (EXTEC) BVR-X, em Natal (RN).

“A escolha por Natal é pelo fato de a região ser emblemática historicamente, por exemplo, devido a sua geografia por ser próxima ao mar e por proporcionar tanto uma área segura para o emprego do armamento, quanto à condição meteorológica, que tem uma tendência de ter céu claro nesta época do ano”, pontuou o Comandante da Base Aérea de Natal (BANT), Brigadeiro do Ar Breno Diogenes Gonçalves.

Com o objetivo principal de desenvolver e aperfeiçoar as capacidades operacionais da Força no emprego de armamentos além do alcance visual (BVR, do inglês, Beyond-Visual-Range), a atividade central do Exercício consistiu em dois disparos reais do míssil Meteor, a partir da aeronave F-39E Gripen contra alvos aéreos manobráveis Mirach 100/5. Os alvos simularam perfis de voo de caças em alta velocidade e altitude, garantindo um cenário desafiador para avaliar a precisão do míssil. O sucesso do EXTEC confirmou que o binômio F-39 Gripen e o Meteor é o pilar fundamental para que a FAB cumpra sua missão de defesa da pátria.

Planejamento e Execução de Alto Nível

As equipes do Primeiro Grupo de Defesa Aérea (1º GDA) – Jaguar – participaram do Exercício com quatro aeronaves F-39E Gripen e o Grupo Logístico de Anápolis (GLOG-AN) ficou responsável por toda a preparação técnica e logística antes e depois dos voos.

“A preparação dos pilotos do 1ª GDA para a campanha de lançamento real do míssil do Exercício Técnico BVR-X já iniciou com um treinamento fornecido pela Empresa SAAB, fabricante dos caças. A partir disso, tivemos diversos treinamentos operacionais e de emprego do míssil Meteor e, com a proximidade da BVR-X, realizamos uma preparação específica, utilizando a principal ferramenta de simulação do Gripen, o mission trainer, que temos em Anápolis, para treinarmos nos cenários propostos para o Exercício”, ressaltou o Major Aviador Gregor Gaspar, do 1º GDA.

Além disso, para que a FAB pudesse planejar, executar, e avaliar um exercício tão complexo, a Empresa MBDA, fabricante do míssil, forneceu suporte e conhecimentos especializados para o Instituto de Aplicações Operacionais (IAOp). O envolvimento da MBDA na transmissão de conhecimentos essenciais à operação do armamento, permitindo a evolução doutrinária da FAB é parte do acordo de compensação (offset) preconizado no contrato de aquisição do armamento. Um acordo de compensação é uma negociação entre um país e um fornecedor estrangeiro, geralmente em grandes compras como defesa, para gerar benefícios industriais, comerciais e tecnológicos no país comprador, como a transferência de tecnologia. Este é um exemplo de como o programa Gripen e a aquisição de seus armamentos não trazem apenas equipamentos de ponta, mas também transferência de tecnologia, que é vital para o desenvolvimento técnico e científico do Brasil.

Meteor e sua superioridade

O Meteor é um míssil BVR, que significa além do alcance visual e oferece capacidade contra alvos a longa distância, como caças, Veículos Aéreos Remotamente Pilotados (drones) e mísseis de cruzeiro, em um ambiente com maciça interferência de contramedidas eletrônicas. Diferentemente dos mísseis convencionais, o Meteor conta com um motor “ramjet”, capaz de modular a velocidade e consumo de combustível durante o voo, acelerando na parte final, quando o alvo se encontra sem a possibilidade de escapar (no escape zone).

Além disso, o míssil conta com um link de dados bidirecional que permite que a aeronave de caça forneça atualizações de destino no meio do curso ou redirecionamento, se necessário, incluindo dados de outras aeronaves. O míssil pode, inclusive, ser lançado sem emitir sinais de seu radar até chegar mais próximo do alvo, dificultando sobremaneira a detecção e aplicação de contramedidas por aeronaves adversárias.

Por esses motivos, o Meteor é um dos mísseis mais letais da atualidade e o mais avançado no cenário sulamericano. Dentre os países que já operam com o míssil, estão a França, Reino Unido, Alemanha, Itália, Espanha, Suécia e Índia.

“O míssil Meteor é o resultado de um dos mais exitosos programas de cooperação industrial da Europa em termos de defesa e, o que o torna um dos mais avançados do mundo é graças à propulsão, porque ele tem um motor Ramjet de empuxo variável, ou seja, significa que ao ser lançado, ele acelera e, ao contrário dos mísseis convencionais, pode continuar acelerando ou manter a velocidade durante toda a trajetória até o impacto com o alvo. Essa característica do motor do Meteor faz com que seja muito difícil o alvo escapar do míssil, então, aumenta muito a sua efetividade contra os alvos. Além disso, há um sistema de enlace de dados bidirecional, que permite em tempo real, que o avião pode se comunicar com o míssil, corrigir a sua trajetória e, inclusive, redirecioná-lo para outro alvo”, destacou o Executivo Regional de Vendas da MBDA para o Brasil, Ricardo Mantovani.

Esquadrões e Organizações Militares

Para a plena realização do EXTEC, diversos vetores também foram empregados de forma coordenada. Entre as ações, aeronaves A-1M, do Primeiro Esquadrão do Décimo Grupo de Aviação (1º/10º GAV) – Esquadrão Poker – fizeram o papel de agressor, permitindo que as tripulações praticassem todos os procedimentos operacionais como em um combate aéreo.

Além disso, a área de interdição aérea foi continuamente monitorada pelo Terceiro Centro de Operações Aéreas Militares (COpM-III) e pela aeronave E-99, do Segundo Esquadrão do Sexto Grupo de Aviação (2º/6º GAV) – Esquadrão Guardião -, enquanto aeronaves A-29 Super Tucano, do Segundo Esquadrão do Quinto Grupo de Aviação (2º/5º GAV) – Esquadrão Joker – permaneceram em alerta para coibir eventuais tráfegos aéreos não controlados.

O tráfego naval, por sua vez, foi monitorado com apoio da aeronave P-3AM, do Primeiro Esquadrão do Sétimo Grupo de Aviação (1º/7º GAV) – Esquadrão Orungan – e a aeronave P-95BM, do Terceiro Esquadrão do Sétimo Grupo de Aviação (3º/7º GAV) – Esquadrão Netuno. Esses meios de patrulha marítima, com seus radares e sensores eletro-ópticos embarcados, foram empregados na identificação e abordagem de embarcações que eventualmente desrespeitassem a área de exclusão estabelecida no Exercício.

Ademais, durante todo o treinamento, o Primeiro Esquadrão do Oitavo Grupo de Aviação (1º/8º GAV) – Esquadrão Falcão -, permaneceu em alerta, com o H-36 Caracal para realizar missões de Busca e Salvamento, caso fosse necessário.

A BANT executou o papel de Direção e serviu como a Sede do Exercício Técnico, reafirmando sua capacidade logística e operacional na condução de grandes eventos. Paralelamente, sob coordenação da Direção do Exercício, os alvos Mirach 100/5 foram lançados e acompanhados por intermédio de telemetria em tempo real a partir do Centro de Lançamento da Barreira do Inferno (CLBI), unidade subordinada ao Departamento de Ciência e Tecnologia Aeroespacial (DCTA). O acompanhamento com telemetria foi essencial para assegurar o rigor na coleta de dados e a confirmação do abate, fator indispensável para o sucesso e avaliação detalhada das atividades.

Vale ressaltar, ainda, que toda a coordenação do Exercício foi realizada pelo Comando de Preparo (COMPREP) e o suporte veio do Comando-Geral de Apoio (COMGAP), com a Diretoria de Material Aeronáutico e Bélico (DIRMAB), o Parque de Material Aeronáutico de São Paulo (PAMA-SP) e o Parque de Material Bélico de Aeronáutica do Rio de Janeiro (PAMB-RJ).

O Instituto de Aplicações Operacionais

Com papel central nesse EXTEC, o Instituto de Aplicações Operacionais tem por função gerar conhecimento operacional por meio da condução de Avaliações Operacionais (AVAOP) de sistemas de armas, aeronaves, sensores e doutrinas. Subordinado ao Comando de Preparo (COMPREP), o IAOP garante a eficiência e a adequabilidade operacional dos meios da FAB, funcionando como um elo crucial entre a pesquisa científica e tecnológica, desenvolvida principalmente no DCTA, e a aplicação prática, essencial para o aprimoramento contínuo do preparo e do emprego eficaz da Força Aérea em suas missões.

No planejamento do Exercício, o IAOP foi o órgão técnico responsável por garantir que os perfis de lançamento do Meteor sejam adequados para avaliar o cumprimento dos requisitos operacionais sob condições táticas realistas. O Instituto define os parâmetros de teste, supervisiona a integração do míssil com a aeronave Gripen e, com os dados coletados, analisa detalhadamente o desempenho e a precisão do armamento. Esse processo é vital para o desenvolvimento doutrinário da FAB, pois os resultados geram o conhecimento operacional necessário para atualizar e criar novas táticas, técnicas e procedimentos para o combate aéreo.

No aspecto técnico, o trabalho do IAOP identifica as reais capacidades e limitações do sistema, informando o ciclo de gestão de sistemas de armas e influenciando diretamente futuras decisões de aquisição, modernização ou desenvolvimento de requisitos tecnológicos para a Força Aérea.

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