Disputa em Nova York

Por Matias Spektor

Texto da Folha de S. Paulo

Uma disputa de bastidor ocupa a Assembleia Geral da ONU. Até a próxima segunda-feira, os países lá representados têm de decidir se levarão o tema da reforma do Conselho de Segurança à sessão de negociações que começa dois dias depois.

Os países mais empenhados em reformar o Conselho –Alemanha, Brasil, Índia e Japão– já marcaram um encontro de cúpula em Nova York para fazer barulho.

Eles enfrentam a oposição cerrada da China, que nos últimos dias operou para bloquear o assunto. Ela não quer saber de o Japão ganhar força. Os chineses contam para isso com o apoio dos russos.

Se a pauta da reforma atravessar os próximos dias incólume e chegar à Assembleia Geral, a negociação será árdua. Afinal, o Conselho de Segurança é essencialmente conservador. Em 70 anos de vida, reformou-se apenas uma vez –há 50 anos. Até hoje, mantém a formação original com cinco membros permanentes (China, Estados Unidos, França, Grã-Bretanha e Rússia).

A conjuntura atual não ajuda porque Barack Obama já está de saída. Será muito difícil, senão impossível, reformar o Conselho sem o empenho decidido da Casa Branca, principal centro de poder na estrutura da ONU.

De toda sorte, o Brasil tem todo interesse em que a reforma chegue à pauta na próxima semana. Isso acontece porque, se um dia o Conselho de Segurança for reformado, o país tem boas chances de emplacar um eventual assento permanente.

No entanto, se o tema da reforma chegar à pauta da Assembleia, o governo brasileiro também terá de lidar com novos problemas.

Primeiro, a mera discussão do assunto vai expor o Brasil, que perdeu o direito ao voto em agências do sistema ONU por falta de pagamento de suas contribuições obrigatórias.

Segundo, a reforma do Conselho sempre afeta a imagem presidencial, mesmo que a Presidência da República não tenha real influência sobre o tema. Se a reforma avançar, Dilma ganhará algum apoio. Se fracassar, ficará com parte do ônus.

Por fim, se a reforma chegar à agenda da semana que vem, a Argentina reagirá.

Na opinião de Buenos Aires, um Conselho de Segurança reformado com o Brasil como membro permanente traz mais custos que benefícios. Em pleno processo eleitoral, as autoridades argentinas serão sensíveis ao assunto.

É bom Dilma lembrar da experiência de FHC.

O então presidente preferia cozinhar o tema da reforma em fogo brando. Foi obrigado a aumentar a temperatura quando Carlos Menem, acuado pela possibilidade da reforma, decidiu atacar. 

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