Cresce a aposta na pacificação da Colômbia

Visão do Correio


A esperança de paz está de volta à Colômbia, e isso não é pouco. Após cinco décadas de confrontos, que descambaram em guerra civil, as atuais negociações entre o governo e as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) apenas concluíram a fase preliminar, denominada "conversas exploratórias", e já conquistam a confiança da comunidade internacional — incluindo a dos Estados Unidos e a da União Europeia. Trata-se de um reconhecimento do realismo das tratativas. Ambos os lados em conflito preveem atropelos, ao mesmo tempo em que se manifestam dispostos a superá-los e otimistas quanto ao avanço do processo.

Sustentam a aura positiva que paira sobre as mesas de conversação a obstinação dos líderes que as conduzem e o reconhecimento mútuo da seriedade do diálogo. O presidente Juan Manuel Santos não descarta a hipótese de novos atentados nem abre mão de manter a intensidade das operações militares, avisando que não cederá terreno aos guerrilheiros. Pelas Farc, o comandante Mauricio Jaramillo afirma que o caminho é "árduo" mas "necessário" para a "paz estável e duradoura".

Outro líder insurgente, Rodrigo Londoño Echeverry, o Timochenko, até admite o horror vivido por "militares honestos, cidadãos que têm famílias e vivem com medo da morte e da invalidez", para acenar com a mão estendida "por uma reconciliação". É bom lembrar que, 14 anos atrás, a última tentativa de aproximação, no governo Andrés Pastrana, fracassou sob sequestros e ataques atribuídos às Farc, em cujas fileiras certamente não falta quem queira novamente boicotar o processo. Afinal, são múltiplos e poderosos os interesses em jogo.

Surgidas em meados dos anos 1960 como guerrilha de inspiração comunista, duas décadas depois as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia se rendiam ao envolvimento com o tráfico de drogas, como forma de financiar as operações. Logo eram vistas, interna e externamente, como organização terrorista. Daí que entre os pontos que servirão de alicerce para a construção do entendimento — sendo o principal deles o cessar-fogo — destaca-se a questão do narcotráfico. Áreas de cultivo de plantas destinadas à produção de alucinógenos deverão ser recuperadas, e um programa de prevenção do consumo posto em prática.

Um trunfo das Farc nas negociações é a garantia de distribuição de terras improdutivas, com seu preparo para a agricultura e o fomento da infraestrutura, espécie de reforma agrária que remonta às causas originais da formação da guerrilha. Outro, a reinserção política, econômica e social dos militantes.

O presidente Juan Manuel Santos revelou que o plano já desperta interesses no Exército de Libertação Nacional (ELN), segunda maior guerrilha do país. Que tenha o mais amplo alcance. E que as conversações não se prolonguem, se encerrando "em meses, não em anos", conforme a disposição do mandatário colombiano. A paz precisa voltar a reinar com rapidez na Colômbia — inclusive para facilitar o combate ao narcotráfico internacional. Portanto, todo êxito à próxima etapa, prevista para começar na primeira quinzena de outubro, na Noruega.

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