Comunistas crescem à sombra do poder

DefesaNet

O Partdo Comunista do Brasil (PC do B) conduziu a guerrilha do Araguaia. Ação que para muitos analistas, incluindo muiliantes, foi deslocada e uma verdadeira missão de suicídio para os envolvidos. sem planejamento e tentando aplicar os processos maoístas, ataques e extermínio de autoridades, o que levou à forte reação do governo de então.

Pouco esclarecida é a relação, na época e até os dias atuais, do PC do B com a República Popular da China.
 

O Editor

Sérgio Roxo
O Globo

SÃO PAULO. Na sombra do PT, o PCdoB – que está no centro das denúncias de mais um escândalo de desvio de dinheiro público – cresceu e enriqueceu desde que os aliados assumiram o poder no governo federal, em 2003, com a eleição do ex-presidente Lula. A legenda manteve, no período, o domínio absoluto do movimento estudantil, que comanda há 20 anos, e conseguiu expandir o espaço político com o controle do Ministério do Esporte, hoje alvo de denúncias de corrupção.

A transformação da sigla se traduz em números. Em 2010, ano eleitoral, o "partido do socialismo" recebeu R$6,9 milhões em doações de empresas, segundo balanço no site do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). A quantidade de filiados também aumentou. Em 2001, 33.948 participaram dos congressos do PCdoB. Em 2009, foram 102.332.

Antes de partilhar o poder com o PT, os comunistas sobreviveram ancorados no movimento estudantil. O primeiro presidente da União Nacional dos Estudantes (UNE) do PCdoB, Rui César Costa Silva, foi eleito em 1979, ainda na ditadura militar. No ano seguinte, Aldo Rebelo, hoje principal liderança do partido, acabou escolhido para comandar a entidade.

– Nos anos 70, o PCdoB colocava quadros do partido, chamados estudantes profissionais, para recrutar novos elementos no interior da universidade – afirma o historiador Marco Antonio Villa, professor da Universidade Federal de São Carlos (UFScar).

Depois de breves interrupções, os comunistas retomaram o comando da UNE, com Patricia de Angelis, em 1991, e não largaram o posto até hoje.

– Hoje, o movimento estudantil significa ter controle de entidades. Com a participação é muito pequena, se você tem um grupo de militantes numa universidade, de uns oito a dez, passa a ter o controle do diretório central. Basta um pouco de organização que o partido rapidamente consegue o controle político – afirma Villa.

Entre os ocupantes do posto nesse período, esteve o atual ministro do Esporte, Orlando Silva, entre 1995 e 1997 – agora acusado de desviar dinheiro do ministério. A deputada federal Manuela D"Ávila, pré-candidata à prefeitura de Porto Alegre e um dos principais nomes da legenda hoje, foi vice-presidente da entidade, em 2003.

– A UNE tem em sua diretoria representantes de todos os partidos. No último congresso, 1,5 milhão de universitários participaram. É um processo amplamente democrático. É através do trabalho do nosso partido com a juventude que a gente tem conseguido eleger presidentes da UNE que são identificados com as nossas ideias – rebate Augusto Chagas, militante do PCdoB, que presidiu a entidade estudantil até a metade deste ano.

A ligação dos comunistas com o esporte nasceu ainda no governo Fernando Henrique Cardoso (PSDB), quando Aldo Rebelo propôs e presidiu a CPI que investigou o contrato da empresa de material esportivo Nike com a Confederação Brasileira de Futebol (CBF). O posto rendeu exposição ao parlamentar, que era chamado para participar de mesas-redondas sobre futebol na TV e acabou virando presidente da Câmara.

Em 2001, na divisão de cargos da prefeitura petista de Marta Suplicy, a comunista Nádia Campeão ficou com a Secretaria de Esporte. Dois anos depois, o modelo de divisão se repetiu no governo Luiz Inácio Lula da Silva, com Agnelo Queiroz (hoje governador do Distrito Federal pelo PT) sendo escolhido para o ministério da área, na época uma pasta pequena e de pouco interesse para os demais aliados. O cargo era compatível com o tamanho da legenda que saiu das eleições com apenas 12 deputados.
– Deixou de ser um partido do trabalho e passou quase a ser um partido do lazer – avalia Villa, ao falar do foco dos comunistas no esporte.

Com a chave do cofre do Ministério do Esporte na mão, o PCdoB implantou um modelo de gestão que previa a realização de programas em parcerias com ONGs, a maioria sob controle de quadros do partido. As transferências de dinheiro abriram caminho para irregularidades. A Controladoria Geral da União (CGU) pede a devolução de R$49 milhões repassados pela pasta para entidades. Muitas das entidades do Segundo Tempo são ligadas ao partido.

Em 2008, O GLOBO denunciou o uso político do programa Segundo Tempo, que oferece atividades esportivas para crianças, por um candidato a vereador pelo PCdoB.
O acesso ao dinheiro não trouxe, porém, aumento substancial da bancada na Câmara. No ano passado, foram eleitos 14 deputados da legenda, apenas dois a mais que em 2002. Na tentativa de ganhar corpo, o PCdoB deixou a ideologia de lado e convidou celebridades, como o cantor Netinho de Paula, hoje vereador em São Paulo pela legenda, e chegou a ter entre os seus filiados o então senador Leomar Quintanilha, que havia sido filiado no passado à Arena, o partido da ditadura militar. Quintanilha disputou pela sigla comunista o governo do Tocantins. As terras que hoje fazem parte do estado (na época pertenciam a Goiás) foram palco, nas décadas de 60 e 70, da Guerrilha da Araguaia, o movimento armado do PCdoB para combater o governo miliar. Pelo menos 61 comunistas foram mortos nos combates.

Mesmo sem fazer crescer bancadas de parlamentares, o partido ampliou a sua estrutura. Em 2008, comprou a primeira sede própria de sua história. O prédio de R$3,3 milhões no Centro de São Paulo tem oito andares. Dos R$875 mil recebidos um ano antes em doações de empresas que ajudaram a pagar a nova sede, R$603 mil vieram da STB (Student Travel Bureau), operadora de turismo cultural para jovens. A empresa tinha contrato com a UNE para produzir a carteira de estudante que dá desconto em eventos esportivos e culturais. A entidade e a empresa negaram, na época, que o compromisso tenha relação com a doação de recursos.

No Congresso, o PCdoB batalha junto com os ruralistas pela aprovação do novo Código Florestal, que tem Aldo Rebelo como relator. No governo, além do Ministério do Esporte, comanda a Embratur, com Flávio Dino, e a Agência Nacional do Petróleo (ANP), com Haroldo Lima.

Os resquícios ideológicos do partido se limitam hoje ao discurso. O PCdoB surgiu de uma cisão do PCB na década de 60.

 
 

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