MISTRAL – Solução passaria pelo Brasil?

Nota DefesaNet

Em matéria da Agência Sputnik menciona o acerto entre os dois países confira
Rússia e França chegam a acordo sobre quebra de contrato de navios Mistral Link

O editor

Em artigo publicado na Gazeta Russa, reproduzido abaixo, a solução para o impasse sobre os navios classe mistral contruidos na França e não entregues aos Russos passaria pelo Brasil.

Porém, as autoridades navais brasileiras em comunicado oficial para a Sputnik Brasil, onde também reproduziu um artigo publicado em um site norte-americano com "mesma solução", esclareceu que “no âmbito da Marinha do Brasil não há qualquer estudo em andamento para aquisição de navios de guerra da classe ‘Mistral’”.

Fontes francesas haviam afirmado à Radio França Internaciona (RFI) que; "uma discussão amigável está em curso sobre as condições e o futuro do acordo", sem dar mais detalhes sobre avanços. Mas, em artigo publicado na Sputnik Brasil (20.07.2015) mostra que na nova rodada de negociação, a Rússia exigiu da França a devolução dos sistemas de comunicação dos navios Mistral, "na nova rodada de consultas, realizada esta semana em Moscou, foram discutidas questões de força maior relacionadas com o retorno para a Rússia de equipamentos já instalados a bordo dos navios".

Artigo publicado na Gazeta Russa (22 de julho de 2015):

O sonho brasileiro dos Mistral

 

Aleksandr Korolkov
Doutor em História.


País poderia ser receptor de navios que França não quer entregar à Rússia. Operação seria vantajosa para todas as partes, já que a França não ficaria com embarcações "encalhadas", Rússia teria certeza de que essas não cairiam nas mãos da Otan e Brasil estaria equipado à altura de suas ambições de liderança regional.

A história da relutância francesa em entregar os navios de assalto Mistral encomendados pela Rússia já dura quase um ano, mas parece ter evoluído um pouco.

No final das contas, o país não receberá os navios e será indenizado – o valor foi finalmente acertado.

Resta apenas definir a quem vender as embarcações, que foram construídas com  participação russa e levando em conta as exigências e necessidades da marinha do país.

Entre os possíveis compradores, a imprensa já citou China, Canadá e até Estados Unidos.

Na semana passada, no entanto, durante uma apresentação do analista militar Robert Farley, professor da Escola de Diplomacia Patterson, o Brasil também passou a integrar a lista de pretendentes.

Todos ganhariam com a ideia: o Brasil aumentaria substancialmente a capacidade de sua Marinha, a França poderia se livrar dos Mistral "encalhados" e a Rússia poderia assim equipar as embarcações brasileiras com armamentos e helicópteros.

Utopia benéfica

Atualmente, a frota militar de transporte brasileira não corresponde às ambições do país de liderança regional.

Após a retirada de uso, em 2012, do navio de desembarque de doca "NDD Rio de Janeiro", a Marinha do país ficou apenas com quatro navios de transporte, construídos nas décadas de 1950 e 1960.

O Mistral pode transportar, além de 16 helicópteros, cerca de 13 carros de combate, 50 veículos blindados e 450 fuzileiros navais. Um navio desses na Marinha brasileira aumentaria substancialmente sua capacidade não só para conduzir operações no Atlântico Sul, mais especificamente na proteção da plataforma continental e de seu setor na Antártica, mas também para desembarcar forças em qualquer lugar do mundo.

A exploração da moderna embarcação, com a instauração de um sistema de base portuária para ela e a possível transferência de tecnologia para sua manutenção, poderia ser útil ao Brasil concretizar os planos de construção de seu próprio porta-aviões, anunciados no ano passado pelo então ministro da Defesa, Celso Amorim.

O rumo dado às embarcações Mistral “russas” – que representaria um desafio significativo caso incorporados pela Marinha dos países da Otan – seria benéfica, caso essas fossem direcionadas ao Brasil.

Com o casco reforçado até a classe de embarcação quebra-gelo, os navios podem ser usados na Antártica, e as armas suplementares que transportam permitem reduzir o número de navios de escolta.

Dados os antecedentes do navio, a França, provavelmente, concordaria em reduzir o preço a um novo comprador e lhe propor um vantajoso sistema de financiamento para a concretização do negócio.

Caso o Brasil comprasse os navios da classe Mistral, precisaria equipá-los com helicópteros que pudessem dar apoio às tropas e impedir submarinos ou navios inimigos.

Nesse caso, o país poderia adquirir ainda o helicóptero coaxial russo Ka-52K, projetado justamente para uso em navios. E as embarcações Mistral “russas” foram modificadas serem usadas em conjunto com esses helicópteros.

Para tanto, aumentou-se a altura do ‘twin deck’, o espaço entre os conveses, e foram feitas alterações na abertura dos elevadores que conduzem os helicópteros para o convés superior.

Os helicópteros russos são menos compridos, porém mais altos. A altura dos helicópteros tradicionais é contabilizada pelas pás da hélice traseira – que podem ser montadas ou desmontadas na variante adaptada ao navio. Já a altura dos helicópteros coaxiais depende da estrutura que fixa as pás das hélices principais aos pratos oscilantes, os quais não podem ser reduzidos na sua "variante dobrada".

O Brasil já negocia com a Rússia a compra de helicópteros de ataque Mi-28NE ou Ka-52. Caso a escolha seja pelo último, o Brasil poderia obter o mesmo tipo de helicóptero para o Exército e a Marinha. A Rússia, por sua vez, ganharia um comprador e um parceiro tecnológico para o desenvolvimento do programa do Ka-52.

Resumindo, a transação seria vantajosa não apenas para França e Brasil, mas também para a Rússia.

Dura realidade

Seguindo o discurso Robert Farley, pode-se ficar com a impressão de que o obstáculo do preço é transponível.

Mas vale lembrar que o contrato para fornecimento dos navios Mistral à Rússia era da ordem de 1,2 bilhão de euros.

Além desse valor, seria necessário capital para a criação de infraestrutura (base portuária e oficina), para a aquisição de helicópteros, para a manutenção obrigatória etc.

Apenas os Ka-52K custam pelo menos US$ 20 milhões cada, e só o orçamento para aquisação de helicópteros significaria um acréscimo de mais de US$ 320 milhões.

A Rússia tem um orçamento militar quase três vezes maior que o do Brasil, e mesma para essa a compra dos navios Mistral era um fardo muito pesado.

Além disso, não é segredo que o orçamento militar do Brasil sofreu cortes que chegaram a levar a um atraso na assinatura do contrato para o fornecimento dos caças suecos Gripen.

Já os russos também não veem com grande otimismo a possibilidade dessa transação se efetuar, com a histórica dificuldade na questão da transferência de tecnologia e das operações de financiamento.

Como resultado, até o momento, o sucesso dos negociantes de armamento russo no Brasil resume-se à venda dos sistemas portáteis de lançamento de mísseis terra-ar Igla e um contrato de fornecimento de 12 helicópteros Mi-35M, que se mostra tortuoso devido ao longo período de execução.

As perspectivas do Pantsir-1S e de helicópteros de ataque são agora mais que vagas – isso sem contar os hipotéticos Ka-52K.

Assim, pode-se constatar que a venda dos navios Mistral ao Brasil não é nada mais que uma ideia – atraente, sim, porém utópica.
 

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