Exércitos de Brasil e Argentina fortalecem laços com treinamento conjunto

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Patrícia Comunello


Com base no sucesso dos dois exercícios conjuntos anteriores – Operações Yaguareté e Hermandad –, militares argentinos e brasileiros confirmaram participação em duas outras operações conjuntas em 2016, com o objetivo de fortalecer os laços de cooperação entre as duas forças.

“O ambiente internacional requer cada vez mais militares capazes de atuar em campanha, interagindo em um ambiente cooperativo com outras nações”, diz o Coronel Newton Cleo Bochi Luz, chefe do Centro de Coordenação de Operações do Comando Militar do Sul (CMS), com sede em Porto Alegre, no Rio Grande do Sul. “Um componente importante para gerar cooperação e estabilidade regional é o conhecimento mútuo entre as forças.”

O Cel Bochi Luz foi um dos coordenadores pelo CMS da Operação Hermandad, que ocorreu entre 16 e 20 de novembro em unidades do Exército Brasileiro (EB) em Santa Maria e Uruguaiana, localidades próximas à fronteira com a Argentina.

A Hermandad mobilizou principalmente 15 oficiais de cada força para a coordenação do planejamento e a realização de um Exercício de Posto de Comando para um Estado-Maior Combinado (EMCbn) de uma Grande Unidade de Combate de uma Divisão de Exército. Além dos seus 15 oficiais, 30 Sargentos brasileiros participaram da operação.

Para o treinamento, a Argentina enviou representantes da II Brigada Blindada General Justo José de Urquiza, ligada à 1ª Divisão de Exército, localizada em Paraná, província de Entre Ríos. A 2ª Brigada de Cavalaria Mecanizada (BdaCMec), em Uruguaiana e integrante da 3ª Divisão de Exército (3ª DE), participou pelo EB.

A execução ocorreu em ambiente de guerra simulada, utilizando as instalações do Centro de Aplicação de Simulação de Postos de Comando (CAS-PC), em Santa Maria, explica o General de Brigada Carlos Jorge Jorge da Costa, Comandante da BdaCMec.

A Operação Yaguareté, executada de 2 a 5 de novembro, consistiu de exercícios combinados de operações aeromóveis na província de Buenos Aires. Participaram 60 homens da 12ª Brigada de Infantaria Leve, de Caçapava (São Paulo), e tropas do Agrupamento de Artilharia Antiaérea 601 da 3ª Divisão de Exército, em Mar del Plata, província de Buenos Aires, informa o Centro de Comunicação Social do Exército. Autoridades militares dos dois países entraram em acordo sobre a operação durante a Conferência Bilateral de Estado-Maior Argentina-Brasil.

Fortalecimento dos laços de cooperação

Os comandos das duas Forças Armadas começaram a conceber a Hermandad em 2006, explica o Gen Brig Jorge da Costa. A primeira edição foi em 2014, de 17 a 21 de novembro em Paraná, na Argentina. As autoridades das Forças Armadas pretendem realizar a operação anualmente. A previsão é que a edição de 2016 seja organizada na unidade de Entre Ríos, mas a data ainda não foi determinada.

“O objetivo é consolidar os laços de união, cooperação e amizade entre os dois exércitos, além de um entendimento mútuo de procedimentos, métodos e técnicas a empregar”, diz o Gen Brig Jorge da Costa. O General de Brigada argentino Gustavo Fernando Booth, Comandante da II Brigada Blindada, acrescentou: “Também buscamos aumentar os conhecimentos profissionais e doutrinários que contribuam para a interoperabilidade entre os dois Exércitos.”

A operação foi realizada em Uruguaiana (16, 17 e 20 de novembro) e Santa Maria (18 e 19 de novembro), mas a cerimônia de encerramento foi feita na fronteira entre os dois países, com o cruzamento dos oficiais pela Ponte Internacional Uruguaiana-Paso de los Libres, sobre o rio Uruguai. O O CAS-PC sediou as atividades simuladas, realizadas com o programa Combater, e a verificação de resultados.

Os militares participaram de diversos exercícios durante a operação, incluindo coleta de inteligência, mobilização das tropas, logística, ações operacionais e temas civis, diz o Gen Brig Fernando Booth. “Simulamos a ação de um Estado-Maior Combinado de uma Grande Unidade Blindada que realiza uma operação defensiva no amplo espectro, com planejamento desde a exposição da diretriz pelo comandante (enunciado da missão) até a decisão”, afirma.

“Os exercícios estabelecem parâmetros comuns para resolver futuras possíveis necessidades de emprego das duas forças, principalmente na proteção a civis, ajuda humanitária, defesa e proteção de recursos naturais”, afirma o Gen Brig Fernando Booth. “A Hermandad foi um sucesso. Ao realizarmos um ano em cada país, vamos cimentando as bases certas com cumprir os objetivos.”

Batalha virtual

A Hermandad não exigiu que os soldados conduzissem ações em campo, nem que empregassem equipamentos bélicos. Em vez disso, eles empreenderam batalhas virtuais nas telas de computadores do CAS-PC em Santa Maria. O uso do software Combater, instalado no local, permitiu avaliar com maior credibilidade os resultados obtidos nas manobras empregadas pelo Estado-Maior, informa o Gen Brig Jorge da Costa.

“O grupo demonstrou iniciativa e flexibilidade para se adaptar a processos de planejamento conjunto, permitindo um trabalho harmônico e orientado à correta solução do problema militar simulado”, afirma. Antes da operação, um coronel do EB e outro da força argentina estiveram no centro para testar o software em cinco dias de visitas. O software Combater é considerado uma ferramenta e não o objetivo final da missão em andamento, informa a coordenação do CAS-PC.

“Na Hermandad, as duas forças armadas realizavam uma operação conjunta contra um inimigo comum fictício”, explica a coordenação do CAS-PC, que já recebeu comitivas do Uruguai, Chile, Colômbia e adidos militares de outros países. “O interesse é em ver como fazemos uso da ferramenta da simulação, planos de emprego e nível de tropas que pretendemos adestrar, além de detalhes técnicos e pedagógicos do seu funcionamento.”

“[As tecnologias disponíveis no CAS-PC] permitem treinamento profundo e preparação das tropas com custos menores do que se teria com uma operação em terreno”, diz o Gen Brig Fernando Booth, lembrando que seu país dispõe de um centro de simulação chamado Batalha Virtual, em Campo de Maio, na província de Buenos Aires. “Pode-se treinar as tropas de forma quase permanente e durante todo o ano.”

Exercícios futuros

Os laços de cooperação entre as duas Forças Armadas se refletem no crescente número de exercícios conjuntos. Além da terceira edição da Hermandad, o Exercício Guarani será realizado na Argentina de 10 a 23 de outubro. “A cooperação entre nossas forças se intensifica paulatina e sustentavelmente”, diz o Gen Brig Fernando Booth.

O Guarani envolve tropas da 1ª Brigada de Cavalaria Mecanizada de Santiago, da 3ª DE, no Rio Grande do Sul, e militares argentinos da 12ª Brigada de Montanha, localizada em Posadas, província de Misiones. Por sua vez, a Operação Saci-Duende reunirá tropas de paraquedistas do Brasil e Argentina com saltos nos dois países em 2016.

“O adestramento de alto nível da Hermandad possibilita ainda diálogo, conhecimento mútuo e que se trabalhe as diferenças culturais entre os militares”, diz o Cel Bochi Luz.

O Centro de Adestramento e Avaliação (CAA-Sul), em implantação em Santa Maria, no Rio Grande do Sul, engloba o CAS-PC e é uma frente estratégica para ampliar o número de exercícios combinados multinacionais e a cooperação com as nações da América do Sul e países fora da região, segundo o Cel Bochi Luz. “É um verdadeiro laboratório de lições aprendidas. Neste sentido, a simulação virtual pode ser uma poderosa aliada.”

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