Empresários brasileiros preparam ofensiva para exportar mais à ONU

Daniel Rittner

Os empresários brasileiros organizam uma ofensiva para entrar em um mercado praticamente ignorado até hoje e que tem o tamanho de um pequeno país: as licitações da ONU. No ano passado, as Nações Unidas adquiriram quase US$ 3 bilhões em bens e serviços, por meio de concorrências públicas. A participação do Brasil foi irrelevante: só US$ 68 mil – o equivalente a 0,02% de todas as compras da organização.

Produtos têxteis, alimentos, vacinas, materiais farmacêuticos e sistemas de telecomunicações estão entre os alvos. "Há um desconhecimento muito grande sobre essa oportunidade", diz o gerente-executivo da unidade de comércio exterior da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Diego Bonomo. Os produtos e serviços comprados pela ONU são destinados, por exemplo, a missões de paz e campos de refugiados.

A Rússia é atualmente a maior fornecedora das Nações Unidas, com suas vendas de helicópteros e caminhões, mas todos os Brics superam o Brasil em volume exportado. Países com baixíssima representatividade no comércio internacional, como Sudão e Afeganistão, têm participação relativamente alta nas aquisições da entidade, porque atendem de forma local o suprimento de produtos básicos às missões da ONU.

"Como a ONU trabalha com muitas ações emergenciais, ela precisa sempre renovar seus estoques com relativa antecedência. Há um mundo de oportunidades, inclusive para empresas de médio porte", afirma o diretor de desenvolvimento industrial da CNI, Carlos Abijaodi. Para ele, o reposicionamento da taxa de câmbio deverá facilitar essa ofensiva. "A desvalorização recente do real já anima novamente os exportadores a procurar mercado."

A CNI pretende identificar essas oportunidades nas licitações e mapear os procedimentos que precisam ser cumpridos pelas empresas. Antes de apresentar propostas nas concorrências, é necessário entrar em um cadastro geral de fornecedores. "É um processo burocratizado, com documentos em inglês, mas vale a pena", ressalta Abijaodi. Segundo ele, mesmo perdendo eventualmente as primeiras licitações, os exportadores brasileiros devem continuar participando para abocanhar uma fatia do mercado de compras das Nações Unidas. "Tem que ir pegando a manha do negócio", afirma.

O diretor-superintendente da Associação Brasileira da Indústria Têxtil (Abit), Fernando Pimentel, concorda com o diagnóstico de que falta conhecimento às empresas nacionais sobre as licitações da ONU e avalia que há espaço para avançar. Ele aponta o contraste entre a participação geopolítica crescente do Brasil e a irrisória fatia do país nas compras do organismo internacional. "A ONU é um cliente importante e o nosso calcanhar de aquiles está no fornecimento de produtos para a entidade", diz.

A ofensiva da CNI, ao mapear as oportunidades nas concorrências das Nações Unidas, ocorre em um momento estratégico na área de comércio exterior da entidade empresarial. Na segunda-feira, ela assume a presidência do Brazil Industries Coalition (BIC), escritório em Washington, aberto em 2000, para defender os interesses do setor privado brasileiro nos Estados Unidos.

A CNI está de olho na renovação do Sistema Geral de Preferências (SGP), que dá descontos às tarifas de importação cobradas de produtos de determinados países, incluindo o Brasil. Os benefícios atuais perdem validade amanhã. Ainda está em aberto por quanto tempo o sistema será renovado e se continuará beneficiando produtos brasileiros.

Normalmente, o Congresso americano aprova a extensão do SGP de forma retroativa, devolvendo o imposto de importação pago a mais pelas empresas no período sem a concessão de preferências. A aposta de Diego Bonomo, gerente da CNI, é de que dessa vez a renovação ocorrerá por mais de um ano – prazo estabelecido da última vez.

Em meio às discussões envolvendo uma lei mais ampla de comércio exterior, que daria mandato à Casa Branca para seguir as negociações de acordos de livre comércio com a União Europeia e com 11 países da Parceria Transpacífica, Bonomo vê uma tendência de extensão do SGP por um prazo maior. Para ele, depois de um desgastante processo político para aprovar a nova lei, seria pouco realista a Casa Branca reabrir discussões com o Congresso para uma nova renovação do sistema de preferências no curto prazo – por isso, a aposta em um período de extensão maior agora, para resolver o assunto por mais tempo.

A CNI também promete fazer um acompanhamento minucioso sobre a ameaça de novas barreiras comerciais ao etanol brasileiro e lutar por preferências comerciais a produtos como o melão. Outra questão no radar é a nova lei agrícola americana. A atual expira em setembro e, em tese, é preciso encontrar uma solução para os subsídios ao algodão condenados pela OMC.

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