Por DefesaNet Editorial
Em um movimento estratégico que reforça o apoio europeu à Ucrânia em meio ao prolongado conflito com a Rússia, o presidente Volodymyr Zelensky e seu homólogo francês Emmanuel Macron assinaram, nesta segunda-feira (17), uma carta de intenções para a aquisição de até 100 caças Dassault Rafale F4, além de sistemas de defesa aérea de nova geração, radares, munições e drones.
A cerimônia ocorreu na Base Aérea de Villacoublay, nos arredores de Paris, diante de um Rafale armado com mísseis SCALP-EG e bombas guiadas AASM Hammer – armamentos já fornecidos pela França a Kyiv.
Zelensky classificou o acordo como “histórico” e enfatizou que ele permitirá à Ucrânia construir “uma das maiores defesas aéreas do mundo”. Macron, por sua vez, destacou que os “100 Rafales” representam o volume necessário para a “regeneração das Forças Armadas ucranianas” no longo prazo, com entregas projetadas ao longo da próxima década, até 2035.
Embora ainda não se trate de um contrato firme de compra – mas de uma declaração política que abre caminho para negociações comerciais futuras –, o anúncio representa um salto qualitativo no apoio francês.
Até o momento, Paris havia fornecido caças Mirage 2000-5 (alguns já em operação na Ucrânia) e sistemas SAMP/T, mas o Rafale, joia da coroa da aviação de combate francesa, nunca havia sido oferecido a Kyiv.

Contexto Estratégico e Capacidades do Rafale
O Rafale F4 é um caça omnirole de 4,5ª geração, capaz de realizar missões de superioridade aérea, ataque ao solo, reconhecimento, guerra eletrônica e até dissuasão nuclear (na versão francesa).
Equipado com radar AESA RBE2, espectrômetro frontal, suíte de guerra eletrônica SPECTRA e motores Safran M88, o avião oferece alcance superior a 3.700 km, velocidade máxima de Mach 1,8 e capacidade para 14 hardpoints de armamento.
Sua integração de mísseis como o Meteor (alcance além de 150 km), MICA NG e SCALP-EG/Storm Shadow concede à Ucrânia uma vantagem decisiva em combates além do alcance visual (BVR) e em ataques de precisão em profundidade – capacidades hoje limitadas pela frota soviética remanescente (MiG-29, Su-27) e pelos F-16 e Mirage recebidos.
A transição de pilotos ucranianos já treinados em Mirage 2000 para o Rafale será significativamente mais rápida, reduzindo o tempo de adaptação em comparação com plataformas totalmente novas.
Produção Francesa e Impacto Industrial
A Dassault Aviation vive um ciclo virtuoso de exportações: mais de 530 Rafale encomendados desde o início do programa, com linha de montagem elevada para até quatro aviões por mês e nova fábrica inaugurada recentemente.
O modelo é quase integralmente produzido na França (Dassault, Thales, Safran), garantindo soberania tecnológica – atrativo adicional para Kyiv, que busca independência de suprimentos russos ou de terceiros.
O acordo também prevê possível coprodução futura de componentes ou drones interceptores na Ucrânia, fortalecendo a base industrial de defesa do país.

Uma Força Aérea Híbrida Europeia
Com esta carta de intenções, a Ucrânia avança para uma frota multi-fornecedor ocidental:
- Até 100 Rafale (França)
- Até 150 Gripen E/F (carta assinada com a Suécia em outubro)
- Cerca de 85 F-16 prometidos por países da OTAN
- Mirage 2000-5 já em operação
Caso se concretizem, esses números posicionariam a Força Aérea Ucraniana entre as mais modernas e numerosas da Europa pós-guerra, preparada não apenas para a defesa atual, mas para dissuadir qualquer ameaça futura russa após um eventual cessar-fogo.
Desafios Pendentes
Financiamento, treinamento extensivo (mínimo de 3 anos para novos pilotos) e logística complexa ainda precisam ser detalhados. Fontes francesas indicam uso de ativos russos congelados na Europa e mecanismos de empréstimo conjunto da UE – temas sensíveis que exigem consenso em Bruxelas.
O anúncio ocorre em momento crítico: intensificação de ataques russos com drones e mísseis contra infraestrutura energética ucraniana e avanços terrestres em Zaporizhzhia. Para Kyiv, reforçar o poder aéreo não é mais uma opção – é imperativo de sobrevivência.
A assinatura em Villacoublay envia mensagem clara a Moscou: a Europa, liderada pela França, assume protagonismo estratégico na sustentação da Ucrânia, preenchendo lacunas deixadas pela redução do apoio norte-americano no atual cenário político em Washington.
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