O MI-17 russo, helicóptero “eterno” do Afeganistão

Os EUA precisarão de dois anos para substituir os MI-17 afegãos por helicópteros estadunidenses. As compras de helicópteros para o Exército afegão na Rússia provocaram um violenta reação nos EUA. Ao mesmo tempo, o MI-17 é caraterizado como o aparelho mais adaptado às condições do Afeganistão.

O contrato para a compra de helicópteros MI-17 para as Forças Armadas do Afeganistão, assinado em 2011 entre a Rússia e os EUA, provocou uma reação violenta em ambos os países. E se na Rússia as afirmações sobre a “inadmissibilidade do apoio do bloco agressivo da OTAN” soaram, basicamente, no seio dos círculos que não tomam decisões, nos EUA o contrato por $900 milhões, prevendo o fornecimento e a manutenção técnica de 21 helicópteros novos MI-17 à custa dos contribuintes estadunidenses, pôs em movimento forças muito mais sérias.

A opinião dessas forças era sonorizada por congressistas e senadores, lobbistas dos interesses da indústria bélica estadunidense. Mas os argumentos “a favor” do MI-17 resultaram suficientemente válidos para que o Pentágono (e, naturalmente, a Casa Branca) se pronunciassem a favor da compra de helicópteros russos.

Como parece, estes argumentos, por ordem de importância, são:

Em primeiro lugar, a necessidade de pôr, o mais depressa possível, o Exército afegão em estado combativo, visando aliviar o peso que recái sobre os contingentes militares estadunidense e “aliado”, da “força internacional”. Esta exigência prevê automaticamente o fornecimento do material bélico russo (novo) ou soviético (usado), o melhor conhecido por militares afegãos.

Em segundo lugar, a necessidade de ter as armas melhor adaptadas às condições do Afeganistão. O MI-17 (que é a versão exportável do principal helicópero soviético MI-8) é o candidato praticamente ideal. A favor do MI-17 estão também a simpliciade de manutenção, a capacidade de suportar uma exploração duradoura com um mínimo de manutenção, uma elevada “reparabilidade” e excelente adaptação às condições de deserto e montanha.

Sendo comparável, o preço dos helicópteros russos e norte-americanos com equipamento-base (cerca de $20 milhões por 1 aparelho), o custo da manutenção dos aparelhos estadunidenses é sensivelmente mais alto. Neste contexto, o valor do contrato para a venda ao Afeganistão dum número análogo de aparelhos UH-60, com sua posterior manutenção, seria muito superior a $900 milhões.

Finalmente, de argumento importante para a celebração do mencionado contrato serviu a necessidade ( para os EUA) de manter boas relações com a Rússia, de cuja posição depende criticamente a possibilidade de garantir um apoio logístico normal às forças dos EUA e de seus aliados, no Afeganistão.

Hoje em dia, a Força Aérea afegã compreende, basicamente, aviões de transporte leves, assim como aviões de instrução ou de instrução e combate e helicópteros de diversas finalidades. A “divisão de transporte”, da Força Aérea afegã, dispõe de aparelhos italianos C-27A Spartan (14 unidades) e norte-americanos “Cessna 208 Caravan” (8 unidades).

A instrução de pilotos da Força Aérea afegã efetua-se nos aviões L-39C comprados à antiga Checoslováquia ainda na década de 70 (são operáveis entre 3 e 5 unidades). Os L-39 podem ser utilizados também como aviões de assalto leves. Para a instrução inicial dos cadetes utilizam-se os Cessna 182 norte-americanos (6 unidades).

Finalmente, o parque de helicópteros da Força Aérea afegã compreende os aparelhos soviéticos MI-8/17 (mais de 60 unidades) e MI-24/35 (12 unidades), tanto fornecidos pela URSS ainda nos anos 80 como comprados a diversos países durante a invasão estadunidense de 2001-2011, no âmbito da ajuda militar estadunidense ao Afeganistão. Entre eles, figuram também os helicópteros comprados à Rússia, de acordo com o contrato de 2011. 9 deles já foram fornecidos, outros 12 serão entregues no ano corrente. O número de aparelhos estadunidenses é insignificante; por agora, são 6 helicópteros ligeiros MD-500 Defender, utilizados como aparelhos de instrução.

De acordo com os planos de aumento da Força Aérea do Afeganistão, formulados por militares norte-americanos já nos meados da década de 2000, continua presente o apoio nos helicópteros russos. Entretanto, depois da cancelação dos aparelhos MI-24, que deverá realizar-se em 2015-2016, as missões de combate estarão a cargo dos aviões de instrução e combate Super Tucano e dos norte-americanos AT-6 Texan II. Mas os aparelhos MI-8/17 (60 unidades, nas versões de transporte e de combate) continuarão a constituir a base do parque de helicópteros.

Estes planos de atividades reais são, ao que tudo indica, a melhor prova de que por agora não adianta preocupar-se pela sorte dos helicópteros russos no Afeganistão. Debates sérios acerca da substituição dos helicópteros MI-17 só poderão surgir depois que tais planos forem corrigidos.

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