Dia de Aviação de Caça – Parte 2

Dia de Aviação de Caça – Parte 1

Dia de Aviação de Caça – Parte  2

O mais longo dos dias da FAB na Segunda Guerra Mundial


Jornalista Roberto Caiafa
Enviado Especial Defesanet

“Só a visita ao hangar do Zeppelin já vale a viagem.” Com este pensamento, embarquei em um confortável E-Jet da Azul com destino a Campinas na noite de quinta feira, e após curto repouso, madruguei as 3:30 da manhã de uma sexta feira da paixão. Tudo para garantir que não perderia o voo saindo de Viracopos por volta de seis e meia da manhã, com destino a Base Aérea de Santa Cruz. Após fraternal recepção da imprensa pela equipe da Azul, liderada por Carolina Constantino e Panda Beting, embarquei no E-Jet PR-AYS, 19º Embraer E-195 da companhia.

Ali começava um dia muito especial, e o piloto em comando do jato que acabara de decolar tem muito a ver com esta história. Seu nome? Comandante Miguel Dau, Vice-Presidente Técnico-Operacional da Azul. Formado aviador militar pela FAB, Dau teve uma marcante passagem no 1º Grupo de Aviação de Caça, onde pilotou os jatos supersônicos Northrop F-5E Tiger II. Cada nova aeronave recebida pela Azul tem seu nome escolhido pelos funcionários da empresa em animadas rodas de sugestões. A idéia de Miguel para batizar o 19º E-Jet 195 da empresa emplacou na hora “Vamos batizá-lo como Jambock é Azul, no dia 22 de abril, na Base Aérea de Santa Cruz, e com a presença dos veteranos e atuais pilotos do Senta a Pua e da aviação de caça da FAB. Será uma homenagem que iremos prestar a estes valorosos soldados brasileiros do passado.” E assim foi.

INTERCEPTADOS!

De repente, meus pensamentos são interrompidos quando Dau avisa na fonia “2 Caças F-5EM. Tiger II do 1º GAvCa estão neste momento entrando em formação com o nosso avião sobre o litoral do Rio de Janeiro. A partir deste momento, está formada a esquadrilha JAMBOCK AZUL, e assim seguiremos com proa direta até a Base Aérea de Santa Cruz.” Foi um frenesi a bordo. Câmeras fotográficas, cinegrafistas, repórteres e convidados se alternaram entre os dois lados da cabine de passageiros, usando as janelas para registrar um belíssimo dia de sol que brindou a todos com imagens muito bonitas dos dois caças em formação cerrada com o PR-AYS. A chegada a BASC foi espetacular, duas passagens baixas em formação, e depois um pouso com o Hangar do Zeppelin enchendo as janelas da direita com seu enorme tamanho. Estávamos em Santa Cruz, lar do Senta a Pua!
 
Após rápido desembarque, visitamos as colossais instalações do hangar onde estavam expostos um caça F-5EM um Caravan C-98 e um P-95 Bandeirulha. Com a chegada de Juniti Saito (Comandante da Aeronáutica) e demais autoridades da FAB, além dos veteranos da FAB (Velhas Águias), teve início à tradicional cerimônia do P-47 (C-5), tendo a frente os Majores-Brigadeiros do Ar Rui Moreira Lima e José Rebelo Meira de Vasconcelos, veteranos combatentes da Segunda Guerra Mundial.

A leitura da ordem do dia, o acendimento da pira, os tiros da guarda de honra enquanto os nomes dos pilotos mortos em combate recebiam um uníssono “Presente” como resposta a cada citação, e a coroa de flores depositada no monumento dedicado a Nero Moura, eterno comandante do Senta a Pua, atingiram seu clímax quando Rui e Meira hastearam juntos o pavilhão do 1º Grupo de Aviação de Caça ao som de “Carnaval em Veneza”, paródia musical criada pelos pilotos durante a guerra, na Itália. Caças F-5EM passam voando baixo com seu estrondo característico exatamente neste momento. É difícil descrever o que sentem os presentes naqueles poucos minutos da cerimônia, mas é algo muito especial. A presença do War Dogs, grupo de reconstituição histórica, permitia aos presentes visualizar ao vivo como eram os uniformes, adereços e equipamentos dos pilotos brasileiros, americanos e ingleses, e das enfermeiras e soldados aliados, durante a 2º Guerra Mundial.

COMPROMISSO DE HERÓIS

Depois de sessenta e seis anos, o compromisso que todos assumiram antes de entrar em combate, serem uma família de brasileiros indivisíveis, mesmo que alguns não voltassem para casa, foi e continua sendo cumprido. E o exemplo do Brigadeiro Rui, presente e vibrante mesmo que amparado pelos seus colegas pilotos de caça, é algo que não me sairá da memória. O Senta a Pua na Itália foi um grupo de pilotos de combate, fazendo na guerra aquilo que deles se esperava, quando a hora do combate se apresentasse: lutar. E lutaram com bravura. Nada mais justo que a homenagem prestada pela Azul. Rui e Meira batizaram a aeronave PR-AYS, exibindo assim a bolacha do Senta Pua na fuselagem dianteira e o nome da aeronave, “Jambock é Azul”, grafado no nariz do jato. Como encerramento, tradicional desfile militar marcou o fim da cerimônia, contando inclusive com a participação do CVMARJ, Clube de Veículos Militares Antigos do Rio de Janeiro, que transportou os veteranos a bordo de jipes, caminhões GM e outras raridades da 2ª Guerra Mundial. Passagens de jatos F-5EM e A-1 AMX tiveram a companhia em solo do PR-AYS, agora oficialmente batizado como “Jambock é Azul”.
 
Às no Mergulho! Lançou! Bingo!

O 22 de Abril tem como tradição o emprego real de armamento (bombas e tiros canhão) após as cerimônias oficiais. E neste ano não foi diferente, exceto pelo fato de que somente as unidades de Santa Cruz, equipadas com caças F-5EM (dois) e A-1 AMX (dois), atuaram nas demonstrações. Três alvos dispostos no terreno ao redor da base receberam o especial tratamento de bombas de fabricação nacional BFRAG 230 (quatro por aeronave, 16 no total) e dos canhões DEFA 30mm dos A-1. O nível de acerto se mostrou bastante satisfatório, e os três alvos foram destruídos. Na evasiva, as aeronaves ainda efetuaram o lançamento de cartuchos de flares despitadores de mísseis infravermelhos, especialmente eficazes contra os mísseis do tipo MANPADS, muito perigosos nas baixas altitudes e portáveis por um homem apenas.

Era chegada à hora de encerrar o dia. Mas o piloto de caça que existe dentro do Comandante Miguel Dau mostrou-se presente também na despedida. Quando o E-Jet “Jambock é Azul” despejou potência de seus dois motores GE CF34-8E  e livrou a pista de Santa Cruz, recolhendo os trens de pouso rapidamente, Dau efetuou uma curva a direita que demonstrou, entre outras coisas, o excepcional desempenho de voo dos E-Jets da EMBRAER. Foi uma senhora manobra, efetuada com absoluta segurança, culminando com uma passagem baixa sobre o Cassino dos Oficiais da base, fazendo barulho na despedida. Naquele momento, o piloto de caça mais do que justificava o novo nome da aeronave.

Durante o voo de volta a Campinas, a emoção com que o executivo falou na fonia sobre o orgulho de trabalhar numa empresa como a Azul, que apoiou desde o início a idéia da homenagem, e a emoção do piloto de caça ao falar sobre pátria, amar o Brasil e cumprir seu dever, foi emocionante. Aliás, emocionante para três grandes pilotos, já que os Comandantes Kleber Marinho, co-piloto de Dau, e Augusto Nunes, outro co-piloto da missão, também são ex-caçadores e pilotos do Jambock. Nada mais adequado.
 

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