Emprego eficaz da Infantaria é decisivo para as operações da FAB

O Brigadeiro de Infantaria Rodolfo Freire de Rezende, Chefe da Subchefia de Segurança e Defesa do Comando-Geral de Operações Aéreas (COMGAR), em entrevista ao NOTAER, destalha os caminhos da Infantaria da Força Aérea Brasileira rumo ao futuro e os projetos que já estão em andamento. Leia mais:

NOTAER – Quais são os principais desafios da infantaria para o futuro?

Brigadeiro Rodolfo freire de Rezende – Diante da constante evolução das operações militares e o desenvolvimento do emprego do Poder Aeroespacial, especialmente no que tange aos conceitos de “Force Protection”, os maiores desafios para a Infantaria da Aeronáutica estão relacionados ao desenvolvimento de uma Doutrina caracterizada por soluções logisticamente viáveis e adequadas ao atendimento das demandas operacionais.

Os cenários e hipóteses formuladas nos níveis políticos e estratégicos dão conta de que a Força Aérea Brasileira pode ser engajada em conflitos de características simétricas e assimétricas. Portanto, o emprego da tropa de Infantaria da FAB depende diretamente do nível de ameaça, que pode ser classificada em função do ambiente, que pode ser visualizado em um cenário “aeroespacial” ou de “superfície”.

Em função da gama de armamentos disponíveis nos mercados internacionais e das vulnerabilidades conhecidas, compete a um planejador forjar capacidades defensivas eficazes e oportunas, consideradas em um contexto espacial, que muitas vezes extrapola a área das instalações aeronáuticas e os recursos alocados à proteção da Força Aérea.

Todavia, o foco da Força Aérea deve permanecer colimado no emprego do Poder Aeroespacial, de modo a possibilitar sua plena eficácia na condução da campanha aérea. Neste aspecto, a Infantaria pode prestar uma significativa contribuição, inclusive no lançamento preciso de armamentos guiados ar-solo, conforme relatos divulgados sobre a utilização de tropas Operações Especiais de Forças Aéreas dos países militarmente mais desenvolvidos.

Assim, todo um universo de desafios pode ser concebido para a Infantaria da Aeronáutica, com o objetivo de orientar o preparo da tropa em quatro áreas principais: Polícia da Aeronáutica, Autodefesa de Superfície, Autodefesa Antiaérea e Operações Especiais.

NOTAER – Quais conquistas recentes podem ser destacadas?

Brigadeiro RodolfoNos últimos anos, a Infantaria vem caminhando a passos firmes na busca de uma concepção para seu emprego operacional, sempre em prol dos interesses e dos condicionantes operacionais da Força Aérea Brasileira. Todavia, compete exemplificar algumas mudanças que conferiram maior notoriedade à Infantaria da Força Aérea.

Um destaque especial é dado à criação de uma vaga para oficial general após 65 anos de existência. Esta medida possibilitou reunir todas as frações da tropa terrestre sob a orientação de um órgão central sistêmico, de onde são emanadas concepções doutrinárias e logísticas, que permitem um eficaz preparo para o cumprimento de sua missão.

Dentre as conquistas operacionais, podemos citar a participação de pelotões nos dois últimos contingentes brasileiros junto à Missão de Paz no Haiti. Iniciado com a participação do Batalhão de Infantaria Especial (BINFAE) de Recife, no primeiro semestre de 2011, a atuação da Infantaria em Porto Príncipe comprova o profissionalismo e a dedicação que caracteriza os militares da Força Aérea.

Não se pode deixar de mencionar a implantação de uma Autodefesa Antiaérea orgânica da Força Aérea Brasileira, cujas Unidades se constituirão em elos permanentes do Sistema de Defesa Aérea Brasileiro. Materializando esta visão, prevê-se a ativação de um Primeiro Grupo na cidade de Canoas (RS), em janeiro de 2012. O planejamento contempla, ainda, a ativação de outras estruturas congêneres, culminando na criação de uma Brigada de Artilharia Antiaérea de Autodefesa, sendo em 2012 já ativada como núcleo.

Em termos de Autodefesa de Superfície, diversos exemplos também podem ser aludidos, incluindo o reequipamento dos Elos do Sistema de Segurança e Defesa (SISDE) e o Projeto Estratégico que prevê o aprestamento das atuais Companhias de Infantaria dos BINFAE, por intermédio da aquisição de viaturas blindadas e novos fuzis de assalto.

Por fim, convém destacar a reformulação do emprego do Esquadrão PARASAR, vocacionando-o para a condução de Operações Especiais, em proveito da campanha aérea, incluindo sua participação, também, nas ações necessárias de guiamento terminal de armamentos lançados a partir das aeronaves da FAB.

NOTAER – Atualmente, qual o principal foco na formação do futuro infante?

Brigadeiro Rodolfo – Hoje, o oficial de Infantaria é formado pela Academia da Força Aérea, em um curso que se estende por quatro anos e busca desenvolver, aperfeiçoar e avaliar os atributos militares, intelectuais e profissionais, além dos padrões éticos, morais, cívicos e sociais. Esta meta visa levar o futuro oficial a um nível de excelência em dois principais campos: o acadêmico e o técnico-especializado.

No campo acadêmico, o Curso de formação de Oficiais de Infantaria engloba diversas disciplinas relacionadas ao preparo do homem para atuar com “probidade e eficácia” na Administração Pública, sendo-lhe conferido o grau de bacharel ao término do curso. No campo técnico-especializado, aos cadetes são ministradas instruções teóricas e práticas, de maneira a habilitar o oficial na condução de tropas até o valor “companhia”. Alguns exercícios de campanha merecem destaque, tais como paraquedismo, operações helitransportadas, montanhismo militar, estágio de adaptação à selva, autodefesa antiaérea e emprego de viaturas blindadas, tudo em proveito da proteção dos recursos da Força Aérea.

Por sua vez, os sargentos são formados em um curso de dois anos na Escola de Especialistas da Aeronáutica, cujos objetivos educacionais reúnem, além dos atributos morais inerentes à profissão militar, os conhecimentos necessários para que o concludente possa conduzir grupos de combate em ações de Polícia da Aeronáutica e de Autodefesa de Superfície.

 Após o término do curso e dependendo das características da unidade de Infantaria na qual o sargento vier a servir, serão oferecidas oportunidades para especialização em diversas áreas, tais como Operações Especiais, Busca e Salvamento, Controle de Distúrbios, Autodefesa Antiaérea, entre outras.

Nossos cabos e soldados têm sua formação básica realizada nos Comandos Aéreos Regionais e dentro de suas próprias subunidades de destino, com um forte enfoque nas suas respectivas áreas de atuação. A formação especializada e sua atualização doutrinária ocorrem por intermédio de Programas de Instrução e Manutenção Operacional das Unidades de Aeronáutica.

NOTAER –  Em quais áreas (momentos) a atuação da Infantaria da FAB é decisiva?

Brigadeiro Rodolfo – Inicialmente, convém enfatizar que a Infantaria da Aeronáutica foi concebida no mesmo ano em que foi criado o ROYAL AIR FORCE REGIMENT, primeira tropa do mundo organizada para proteger especificamente aeródromos, pelo Primeiro Ministro inglês Winston S. Churchill. Nesse contexto, as primeiras companhias atuavam de modo a proteger as bases aéreas no litoral brasileiro contra possíveis ações adversas provocadas por sabotadores durante a Segunda Guerra Mundial.

Desde seu nascimento, a Infantaria sempre atuou em função das necessidades e interesses da Força Aérea. Assim, seus militares atuaram em diversas áreas operacionais e administrativas, contribuindo para a seleção e formação de pessoal, no gerenciamento dos serviços contra-incêndio nos aeródromos, na instrução e em diversas outras atividades não combatentes, porém de extrema importância para o funcionamento do então Ministério da Aeronáutica.

Depois de 1945, o mundo se bipolarizou e os combates convencionais foram superados, em termos numéricos, pelos chamados “conflitos assimétricos”. Principal exemplo dessa nova realidade, a Guerra do Vietnã sinalizou novas tendências no emprego do Poder Aeroespacial, demonstrando que as aeronaves e instalações norte-americanas encontravam-se extremamente vulneráveis a ação de grupos guerrilheiros, que a partir do solo causaram considerável prejuízo às operações.  

A concepção de emprego aludida anteriormente já havia sido prevista por Giullio Douhet que asseverava: “ser mais fácil e efetivo destruir o Poder Aéreo do Inimigo, atacando seus ninhos e ovos no chão do que caçar pássaros voando pelos céus.” Tal contexto pode se mais bem materializado quando se compara o preço de uma aeronave moderna com o de um projétil .50 disparado por um elemento infiltrado nas proximidades de uma base aérea.

Em função de suas necessidades, diversas Forças Aéreas procuraram melhorar continuamente suas defesas em superfície, resultando na atual filosofia conhecida como “Force Protection” e empregada com sucesso nas campanhas do Afeganistão e do Iraque. Deste modo, o eficaz emprego da Infantaria da Aeronáutica é decisivo para as operações da FAB e, embora demande considerável investimento, encontra plena justificativa para que nossas aeronaves possam “voar, combater e vencer”.

Fonte: Agência Força Aérea

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