Hawker tenta manter disputa com Embraer

Virgínia Silveira

A americana Hawker Beechcraft já começou a se movimentar politicamente para tentar reverter a sua exclusão do fornecimento de 20 aeronaves de treinamento militar para o programa Light Air Support (LAS), da Força Aérea dos Estados Unidos (USAF). Segundo um especialista do setor de defesa no Brasil, a empresa americana aproveitará o ambiente de cortes no orçamento do governo do seu país para fortalecer o argumento de que este contrato é fundamental para a manutenção de 1400 empregos em sua fábrica, na cidade de Wichita, no Estado do Kansas.

Em nota divulgada logo após o anúncio da sua eliminação, dia 18 de novembro, a Hawker informou que já havia solicitado à USAF um relatório sobre os motivos de ter sido retirada do processo e ressalta que já investiu mais de US$ 100 milhões no desenvolvimento do seu avião, o AT-6, para atender aos requisitos da concorrência.

"Acompanhei de perto todas as concorrências que o Super Tucano e outros aviões de defesa da Embraer participaram nos Estados Unidos e em todas ficou muito claro que o lobby político não consegue mudar a decisão técnica, mas ele pode sim cancelar o programa", afirmou a fonte, que trabalhou na Embraer por 20 anos.

A Embraer prefere não fazer comentários. Ela está cautelosa com a situação. Segundo um executivo da área de defesa da empresa, o fato de a Embraer ser a única finalista no processo não garante a vitória. As decisões no mercado de defesa, segundo ele, não costumam ser tão óbvias.

"Em decisão recente, a Airbus North America, por exemplo, ganhou a concorrência da USAF para substituição da frota dos aviões de reabastecimento aéreo KC-135, mas não levou o contrato. Mesmo o Airbus tendo sido considerado superior ao avião da Boeing, o governo cancelou o processo e depois contratou a empresa americana", diz o executivo da Embraer.

A postura de cautela da Embraer também se baseia na própria experiência e no histórico de tentativas de venda do Super Tucano para os EUA. Em 1994, a empresa esteve perto de ganhar um contrato de US$ 4 bilhões para a venda de 720 aeronaves na categoria do treinador básico EMB-312 Tucano, versão anterior ao Super Tucano.

A vencedora do programa, batizado de JPATS, foi a Hawker, que se apresentou na competição com a parceira suíça Pilatus e o treinador PC-9. O modelo era fabricado pela Pilatus, mas o projeto foi vendido para a Hawker e transformado posteriormente no T-6, que atualmente está sendo modificado para a versão AT-6.

Na época, segundo conta um ex-funcionário da área de defesa da Embraer, a Força Aérea dos EUA tinha feito a mesma proposta para a Embraer, que se negou a repassar o projeto, tendo em vista as perspectivas comerciais do modelo no mercado internacional.

A parceira da Embraer no JPATS, a americana Northropp, também acabava de ganhar um grande contrato de venda de aeronaves para o governo americano e esse foi um dos motivos alegados para a vitória da Hawker, pois as compras do governo não poderiam beneficiar apenas uma empresa.

Um ano depois do JPATS, e em meio ao complicado processo de privatização da Embraer, o Super Tucano chegou a ser anunciado oficialmente como vencedor do programa de treinamento básico de pilotos da OTAN (Organização do Tratado do Atlântico Norte) e da Força Aérea Canadense. Novamente o modelo foi preterido, mas desta vez por influência do governo do Canadá, devido ao contensioso que existia na época entre a Embraer e a Bombardier, na área de aviação comercial.

Independentemente do histórico de dificuldades que envolveram a inserção do avião brasileiro no maior mercado mundial de defesa, as equipes da Embraer estão confiantes na conquista do contrato, avaliado em US$ 250 milhões.

Embora não seja americana, a Embraer possui a seu favor o fato de que o avião tem mais de 70 fornecedores de serviços e de componentes em 21 Estados americanos, que correspondem a uma cadeia de fornecedores superior a 1200 funcionários nos EUA.

"Mais de 80% do Super Tucano está de acordo com a Lei do "Buy American Act", que exige um conteúdo americano superior a 50%, para os produtos comprados fora dos EUA", comentou uma fonte do setor de defesa. A Embraer, segundo a fonte, também é considerada uma das três maiores compradoras mundiais de peças, conjuntos e componentes aeronáuticos de empresas americanas para os seus jatos comerciais e executivos.

"Se ganhar o contrato da USAF, a empresa vai construir uma fábrica nos EUA e gerar 50 novos empregos", afirmou a fonte.

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