Fernando de Arruda Botelho – Um Mecenas da aviação

A missa será dia 19/04, às 12h00, na Igreja São Jose – Rua Dinamarca, 32 – Jardim Europa, São Paulo

Fernando de Arruda Botelho
Um Mecenas da aviação

 

Cosme Degenar Drumond

 
Na sexta-feira passada, 13 de abril, o aviador Fernando de Arruda Botelho (1948-2012) ganhou os ares do aeródromo de Itirapina, interior de São Paulo, para mais um voo local com uma de suas aeronaves antigas – o monomotor T-28 Trojan, pintado de verde-amarelo. Com ele estava o também piloto Sérgio Robattino. Mas não pousaram de volta: manobra acrobática mal-sucedida impediu o regresso dos dois.
           
Fernando era apaixonado pela aviação, sobretudo a clássica. Tinha uma bela coleção de espécimes do tempo do ronca. Venerava a cultura aeronáutica e os grandes pioneiros do ar, como Bartolomeu de Gusmão (1685-1724) e Alberto Santos-Dumont (1873-1932). Demonstrava ter a mesma coragem dos fantásticos precursores.

Durante um tempo, voou uma réplica do Demoiselle, avião esportivo de Santos-Dumont. No centenário de voo do 14-Bis, fez exibições aéreas no Brasil e no exterior com a aeronave. Quis até cruzar o Canal da Mancha com a rústica máquina. O controle do tráfego aéreo na região não permitiu.   

Para o vereador francês Jean-Pierre Guis, outro entusiasta da aviação, que o homenageou um dia após o desastre do Trojan verde-amarelo, Fernando era um piloto intrépido e passional. Guis o conhece em Paris, em 2006. Assistiu em Bagatelle a seus voos arrojados. Desde então, tornaram-se amigos.

Dias antes do trágico acidente em Itirapina, Fernando doara o Demoiselle para o Museu Sun`n Fun, dos EUA. Este era outro hobby que praticava: promover a cultura aeronáutica brasileira no exterior.

Conheci o Fernando. Não éramos amigos íntimos. Mantivemos uma relação de admiração e respeito um pelo outro. Em 2004, ele me procurou, ao saber que eu acabara de lançar um livro sobre a construção aeronáutica brasileira. Gostava de ajudar os novos escritores. Apoiou também cineastas e artistas plásticos. Ia aos lançamentos das obras e saía das sessões de autógrafos com um punhado de livros debaixo dos braços, comprados para presentear amigos e colaboradores. Formou uma esplêndida biblioteca que disponibilizava aos pesquisadores.

Ele também criou e desenvolveu projetos culturais sobre o tema aviação. A convite dele, fui o Ombudsman de uma edição do Broa Fly In, encontro e exposição sobre aviação que ele organizava anualmente em Itirapina. A edição deste ano, a 12ª, está comprometida, claro. Mas deverá ser realizada, em homenagem a ele.

Fernando era de fato um piloto ousado e sem limites. Passava mais tempo lá em cima do que aqui embaixo. Gostava tanto de voar que dizia: “Um dia, minha última viagem será voando. Partirei feliz”. E assim foi. Partiu num clássico da aviação militar usado em guerras na Indochina, no Camboja e no Vietnam. Ficam as recordações do Mecenas que idolatrava a aviação e os ícones da aeronáutica mundial.

Reza uma lenda que todo piloto desaparecido em acidente aéreo vê a “Casa Voadora” da Sagrada Família, milagrosamente retirada do solo por anjos e levada para a atual Croácia, em 1291. Da mesma forma, foi removida para Loreto, na Itália, em 1294. Fernando e Sérgio devem estar por aí, voando nas nuvens, monitorados pelo sagrado farol para descer no campo da eternidade.

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