A “kill mark” holandesa e o debate sobre os F-35 em combate real

Um F-35A holandês registrou a primeira destruição confirmada de um drone russo em missão da OTAN sobre a Polônia, ganhando a tradicional “kill mark”. O episódio marca o ingresso do caça de 5ª geração em combates reais reconhecidos oficialmente.

Ricardo Fan – Defesanet

Em 1º de outubro de 2025, surgiu no cenário militar-euroguro um registro que já começa a ganhar contornos simbólicos e operacionais: um F-35A da Força Aérea Real Holandesa (número de cauda F-027, pertencente ao 313º Esquadrão) ostenta uma marca (“kill mark”) dedicada a um drone russo abatido durante missão da OTAN sobre o território polonês.

Esse episódio, amplamente divulgado pelo Ministério da Defesa da Holanda, reacende debates muito ativos no meio aeronáutico e de defesa: até que ponto o F-35, ainda cuja reputação é parcialmente construída em exercícios e simulações, já acumula credibilidade em combates reais?

Quais são os precedentes — e os limites das confirmações oficiais? E, como contraponto mais distante, se há relação entre esse caso e episódios famosos como o abatimento de um balão espião chinês, ou reivindicações de F-35s israelenses.

O episódio na Polônia: a narrativa e as cautelas

Segundo relatos públicos, durante a noite de 9 para 10 de setembro de 2025, múltiplos drones russos — estimados por fontes em 20 a 23 — penetraram o espaço aéreo polonês, via Belarus, como parte de uma ofensiva coordenada contra áreas ucranianas.

A Polônia, acionando mecanismos de defesa aérea e cooperação com aliados da OTAN, mobilizou interceptações com F-16s locais e caças aliados, bem como sistemas de defesa terrestre (Patriot).

No bojo dessa mobilização, os F-35 holandeses, operando sob a missão de Air Policing reforçado da OTAN, realizaram interceptações de drones. O Ministério da Defesa holandês divulgou uma foto da aeronave F-027 com um símbolo de drone abaixo do trilho do canopy, como marca de abate, acompanhado de declaração de que armas foram empregadas.

A imagem mostrava um contorno que poderia remeter a um modelo tipo Shahed-/Geran (ou similar), embora não confirmado oficialmente.

Importante destacar que, embora a marca seja simbólica, esse seria o primeiro registro — público e reconhecido por autoridades aliadas — em que um F-35 teria abatido um drone russo no contexto de missão da OTAN.

No entanto, há pontos de incerteza:

  • Não está claro qual munição foi usada (canhão, míssil AIM-9X ou AIM-120, etc.).
  • Não se sabe com precisão se outro F-35 também teve abates ou quantos no total os drones atingidos representaram.
  • A marca de abate pode incluir um elemento simbólico ou representativo (por exemplo, representar “um drone russo”) em vez de indicar o tipo exato abatido.

Analistas apontam que o fato de um F-35 ostentar tal marca fortalece sua narrativa operacional, mas não elimina debates sobre provas e credibilidade em ambiente de guerra.

Confrontando com o caso do balão espião chinês e os F-35 israelenses

Balão espião chinês: foi abatido por um F-35?

Não. O episódio mais famoso de um balão chinês espionando o território americano ocorreu em fevereiro de 2023. Esse balão foi abatido por um F-22 Raptor da Força Aérea dos EUA, que disparou um míssil AIM-9X sobre o Oceano Atlântico, fora da costa da Carolina do Sul.

O balão era operado com altitudes estimadas entre 60.000 e 65.000 pés.

Esse engajamento é registrado como o primeiro “abate” aéreo para o F-22, segundo documentação oficial.

F-35 israelenses e abates confirmados

Também não há, até onde verificações abertas permitem, confirmação pública fiável de que F-35 israelenses tenham abatido aeronaves inimigas com “kill credit” nos moldes clássicos (em combates ar-ar). Algumas publicações e sites de defesa relatam que a força aérea israelense (IAF), que opera versões F-35I (“Adir”), teria interceptado drones iranianos em 2021 ou 2022, afirmando que dois desses UAVs foram abatidos por seus F-35s.

Contudo, esses relatos são divulgados pela mídia israelense ou por meios secundários e não parecem contar com documentos públicos claros ou detalhados validados por terceiros independentes.

Por exemplo, o artigo “Israel Shows The F-35’s First Aerial Kill In Newly Declassified Video” menciona que dois drones iranianos tinham sido interceptados por F-35I em voo de longa distância, embora não haja precisão nos dados de munição, local ou confirmação externa robusta.

Alguns observadores consideram essa reivindicação plausível, mas ela se diferencia do caso holandês, que ganhou reconhecimento explícito via imagem do Estado e divulgação oficial.

Assim, até o momento, o abate confirmado por F-35 mais documentado e reconhecido publicamente é o da aeronave holandesa sobre o drone russo — embora com ressalvas quanto à completa transparência dos detalhes.

O “primeiro kill confirmado” e o impacto simbólico

Se confirmado plenamente nos detalhes (munição usada, relatório de combate, confirmação de testemunhas ou sensores independentes), esse episódio holandês representa um marco simbólico: legitimar o F-35 como plataforma não apenas de dissuasão e superioridade em simulações, mas de combate real — ainda que contra alvos de menor porte como drones.

Do ponto de vista estratégico, ele pode:

  • Reforçar a justificativa de alocação do F-35 em missões de presença aérea na OTAN, especialmente no flanco oriental, onde desafios assimétricos (drones, voos não tripulados) têm papel crescente.
  • Servir como elemento de propaganda e moral, ampliando a aura de “caça de 5ª geração” em operação efetiva.
  • Impor desafios operacionais e logísticos: manutenção em campo, interoperabilidade de sensores, reabastecimento, regras de engajamento, coleta de dados pós-engajamento.

Por outro lado, a existência de um “kill mark” não elimina a importância do escrutínio técnico e do ceticismo próprio ao registro de abates em conflitos contemporâneos — especialmente quando drones, mísseis e interceptações múltiplas tornam o ambiente complexo.

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