Violência dá o tom na Venezuela

Janaína Figueiredo


O tudo ou nada de chávez

Depois de o próprio presidente Hugo Chávez ter admitido que sua vantagem sobre o candidato da oposição, Henrique Capriles Radonski, não é folgada, a campanha para as próximas eleições presidenciais da Venezuela, marcadas para 7 de outubro, entrou na reta final. E commuita rispidez, na disputa política mais acirrada desde que o líder bolivariano chegou ao poder, há mais de 13 anos. Enquanto Chávez e seus aliados falam em riscos de guerra civil e crise econômica caso o candidato opositor consiga derrotá-lo nas urnas, incidentes ainda isolados aumentaram o clima de medo no país – onde a violência é apontada pelos venezuelanos como o maior problema a ser enfrentado. Somente no domingo, seis pessoas foram feridas em Zulia, baleadas, durante uma votação simulada pelo Conselho Nacional Eleitoral (CNE) em todos os estados venezuelanos.

Segundo denunciou o vereador Freddy Gómez, da oposição, seguranças do prefeito do município Francisco Javier Pulgar, o chavista Luis Ruda, atiraram contra um grupo de campanha opositor. A mãe de um dos feridos também responsabilizou o prefeito chavista pelo ataque. Na véspera, Chávez – cuja candidatura estaria estagnada, segundo algumas pesquisas – apelara para o discurso do medo e intimidação.

– (Caso a oposição ganhe) Talvez não aconteça uma guerra civil, mas o país mergulharia numa crise política, econômica e social – afirmou o presidente. – Aconteceriam coisas piores do que as que ocorreram nos anos 80 e 90, décadas catastróficas para o povo venezuelano.

"Risco de perder nunca foi tão grande"

No último fim de semana, pela primeira vez nesta campanha, Chávez reconheceu que enfrenta uma disputa apertada com o adversário:

– Estamos ganhando as eleições, não digo com comodidade, mas estamos ganhando.

Segundo analistas locais ouvidos pelo GLOBO, trata-se, de fato, da campanha mais difícil para Chávez desde que chegou ao poder, em fevereiro de 1999. Algumas pesquisas falam em empate técnico. Outras apontam até a liderança de Capriles. As mais confiáveis confirmam o cenário traçado por Chávez: uma vantagem não muito ampla para o governista Partido Socialista Unido da Venezuela(PSUV).

– O risco de perder o poder nunca foi tão grande para o presidente, o que não quer dizer que ele será derrotado – disse Luis Vicente León, diretor da empresa de consultoria Datanálisis. – O discurso do medo é uma das principais armas do presidente que, mais uma vez, apareceu em sua campanha. Chávez sempre a utiliza quando a situação se complica.

Mas o especialista venezuelano aponta, ainda, outro fator de complicação para o governo:

– Capriles é o melhor candidato que a oposição já teve na era Chávez.

O nervosismo entre os chavistas está crescendo. A campanha de Capriles tem sido elogiada por vários analistas venezuelanos, que destacam o fato de o candidato opositor estar percorrendo todo o país, visitando pequenas cidades que há anos não eram incluídas na agenda dos políticos locais

Paralelamente a isso, por outro lado, Chávez enfrentou uma sucessão de tragédias que provocaram comoção nacional. Entre elas, o incêndio na refinaria de Amuay, da estatal Petróleos da Venezuela (PDVSA), a queda da ponte sobre o rio Cúpira, que ainda provoca demoras de até 16 horas para quem precisa viajar para as regiões central e oriental e um confronto entre grupos armados na prisão de Yare, ao Sul da capital, que deixou ao menos 25 mortos e 43 feridos.

– Nós vemos um Chávez irritado com os números e com a realidade – observou Carlos Romero, professor da Universidade Central da Venezuela (UCV).

A jornalista Gloria Bastidas acredita que a Venezuela vive "uma sensação de conflito latente" que provoca temor entre a população.

– Alguns setores da oposição estão eufóricos e falam na possibilidade real de triunfo de Capriles, o problema é que ninguém imagina Chávez entregando o poder – assegurou Gloria.

As principais empresas de consultoria do país estimam que o percentual de indecisos ainda supera os 20%, dado que mantém o suspense em relação ao resultado final desta eleição. Na opinião do professor da UCV, o candidato opositor tem a seu favor o desgaste do governo chavista e as consequentes demandas sociais insatisfeitas, principalmente os dramas da insegurança, desemprego e inflação.

Já Chávez, apontou um estudo realizado pela Universidade Católica Andrés Bello (Ucab), conta com o poder econômico do Estado e, também, com a fidelidade dos milhões de venezuelanos favorecidos por seus programas sociais – uma parcela da população que teme perdê-los com a eventual chegada de um governo opositor.

– Entre as mulheres chavistas o medo de ficar sem o assistencialismo de Chávez é muito grande – explicou Caroline De Oteyza, da Ucab.

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