Rússia diz que continuará negociando e Ucrânia sugere possíveis concessões

A Rússia sugeriu na segunda-feira que está pronta para continuar negociando com o Ocidente para tentar desarmar uma crise de segurança durante a qual acumulou um grande número de forças militares na fronteira com a Ucrânia, enquanto uma autoridade ucraniana disse que Kiev está preparada para fazer concessões.

Em uma conversa televisionada, o presidente russo, Vladimir Putin, apareceu perguntando a seu ministro de Relações Exteriores, Sergei Lavrov, se havia uma chance de acordo para abordar as preocupações de segurança da Rússia, ou se ele estaria sendo apenas arrastado para tortuosas negociações.

Lavrov respondeu: "Nós já avisamos mais de uma vez que não vamos permitir negociações intermináveis sobre questões que precisam de solução hoje".

Mas acrescentou: "Parece para mim que nossas possibilidades estão longe de serem exauridas… Nesse momento, eu sugeriria continuar".

Os Estados Unidos dizem que a Rússia pode invadir a Ucrânia "a qualquer dia agora", e o primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, classificou a situação nesta segunda-feira como "muito, muito perigosa".

A Rússia posicionou mais de 100 mil tropas próximas às fronteiras com a Ucrânia, mas negou ter planos para invadir, acusando o Ocidente, que enviou uma série de autoridades a Moscou e Kiev, de histeria.

Os governos ocidentais já prometeram sanções em uma escala sem precedentes no caso de uma invasão da Rússia, e o Grupo das Sete maiores economias ocidentais (G7) se juntou ao coro, alertando que "as sanções econômicas e financeiras terão consequências enormes e imediatas na economia russa".

O embaixador da Ucrânia no Reino Unido voltou atrás em comentários, nos quais havia sugerido que o governo de Kiev poderia flexibilizar suas intenções de ingressar na aliança militar ocidental Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) –uma das principais preocupações da Rússia– mas afirmou que outras concessões poderiam ser oferecidas.

"Nós não somos membros da OTAN agora e para evitar a guerra estamos prontos para muitas concessões, e é isso que estamos fazendo em negociações com os russos", afirmou o diplomata à BBC em um esclarecimento. "Não tem nada a ver com a OTAN, cuja adesão é consagrada pela Constituição."

O Kremlin afirmou que a eventual renúncia da Ucrânia de sua aspiração para se juntar à aliança militar ocidental poderia ajudar a abordar significativamente as preocupações da Rússia.

Moscou deixou claro que vê a busca da ex-República soviética por laços mais próximos com o Ocidente, principalmente com a OTAN, como uma ameaça direta.

EUA diz que via diplomática ainda está aberta para encerrar impasse da Ucrânia com a Rússia

Os Estados Unidos disseram que a diplomacia ainda pode resolver o impasse com Moscou em relação à Ucrânia, mas acrescentou que o risco de uma invasão russa é alto o suficiente para justificar a retirada de funcionários da embaixada dos EUA em Kiev.

O secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, falou após conversas no sábado com seus equivalentes no Japão e na Coreia do Sul, depois do alerta de Washington de que o Exército russo, que tem mais de 100.000 tropas posicionadas perto da Ucrânia, poderia invadir a qualquer momento. Moscou nega ter esse plano.

Reuniões e ligações telefônicas nos últimos dias entre o Ocidente e autoridades russas não produziram sinal de um avanço significativo, em semanas de tensões cada vez maiores.

O chanceler alemão Olaf Scholz deve se reunir com o presidente Vladimir Putin na terça-feira, mas uma fonte alemã disse que Berlim não espera "resultados concretos" dessas conversas.

Scholz deixaria claro que o Ocidente está unido e que qualquer agressão geraria "sanções dolorosas e consideráveis" sobre a Rússia, disse a fonte.

"A via diplomática continua aberta. A maneira para Moscou mostrar que deseja tomar esse caminho é simples. Deve diminuir, em vez de aumentar (as tensões)", disse Blinken, após suas reuniões no arquipélago do Havaí.

Em uma ligação de uma hora no sábado, o presidente norte-americano Joe Biden disse a Putin que o Ocidente responderia decisivamente a qualquer invasão à Ucrânia, acrescentando que isso produziria sofrimento generalizado e isolaria Moscou.

Uma autoridade sênior do governo Biden disse que a ligação foi substantiva, mas que não houve mudanças fundamentais.

O Kremlin disse que Putin falou a Biden que Washington falhou em levar em consideração as principais preocupações da Rússia e que não havia recebido "respostas substanciais" a elementos chaves das suas exigências de segurança.

Putin quer garantias dos EUA e da OTAN que incluem impedir a entrada da Ucrânia à OTAN, não instalar mísseis perto das fronteiras com a Rússia e reduzir a infraestrutura militar da OTAN na Europa para os níveis de 1997.

Washington considera que não há nem discussão sobre muitas dessas propostas, mas tem pressionado o Kremlin a discuti-las em conjunto com Washington e seus aliados europeus.

Rússia continuará diálogo com Ocidente, diz chanceler

A Rússia continuará seu diálogo com o Ocidente sobre questões de segurança e está pronta para conversações separadas sobre mísseis nucleares de alcance intermediário, disse o ministro das Relações Exteriores da Rússia, Sergei Lavrov, nesta terça-feira.

Falando após conversações com o ministro das Relações Exteriores da Polônia, Zbigniew Rau, em Moscou, Lavrov descartou como "terrorismo de informação" as informações de que a Rússia está planejando uma invasão na Ucrânia.

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