1968 – A Ofensiva do TET – 1ª Parte – A preparação

1968 – A Ofensiva do TET
30 janeiro a 23 setembro 1968

1ª Parte – A preparação


Fernando Diniz
In memorian

A ofensiva do TET (et Mau Than) foi uma campanha militar de três fases lançada pelas forças combinadas da Frente Nacional de Liberação do Vietnam do Norte (NLF) ou Vietcong e o Exército do Povo do Vietnam (PAVN) durante a Guerra do Vietnam (1955-1975). O propósito destas operações, enormes por sua magnitude e ferocidade, era atingir os centros de controle tanto militares como civis por toda a Republica do Vietnam (Vietnam do Sul) e deflagrar um levante geral entre a população, que levaria ao colapso o governo de Saigon, encerrando assim a guerra com um único golpe devastador.

As operações tornaram-se conhecidas como Ofensiva do Tet por coincidirem com o feriado anual vietnamita de 31 de janeiro. Por razões ainda desconhecidas, as principais ondas de ataque abateram sobre as unidades dos I e II Corpos na manhã do dia precedente ao feriado. Apesar de pesados, estes ataques não despertaram nos comandos sul-vietnamitas nenhum alarme sobre o que estava por vir. Quando na manhã seguinte as maciças operações do NLF-PAVN se iniciaram, tornou-se logo claro que era algo a nível nacional, com cerca de 80mil homens atacando mais de 100 cidades e vilas, incluindo 36 capitais provinciais, 5 cidades autônomas, 72 cidades provinciais e a própria capital Saigon. Foi a maior operação militar conduzida por qualquer dos dois lados até então na guerra.

Os ataques iniciais apanharam as unidades aliadas de surpresa, porém muitos foram rapidamente rechaçados, causando enormes perdas às tropas Vietcong. As exceções foram os intensos combates que se travaram em torno da antiga capital imperial de Hue que duraram um mês, e o cerco da base norte-americana de Khe Sahn, que durou dois meses, tendo sido chamada por alguns de “ Diem Bien Phu” norte-americana.

Embora a ofensiva acabasse num enorme desastre militar para os atacantes, chocou tanto os militares como o publico norte-americano, que havia sido levado a crer que, em razão das vitórias anunciadas pelos aliados, o inimigo não poderia ter esta força e determinação para lançar uma operação de tal magnitude.

A maioria dos historiadores concorda em que a primeira fase terminou em junho. A segunda teria iniciado em maio e durado um mês, e a terceira iria de 17 de agosto até 23 de setembro.

O planejamento do Grande Levante Geral (Tong Cong Kich), como era conhecida a Ofensiva do Tet no Vietnam do Norte, foi iniciado em Hanói no inicio de 1967, seguindo durante um ano inteiro de preparações e estudos.

Historiadores concordam que a decisão de lançar tal ataque foi o resultado de uma constatação entre os líderes políticos e militares norte-vietnamitas do gradual declínio da capacidade americana de vencer a guerra, e da capacidade do Norte de absorver os maciços bombardeios aéreos que eram lançados contra seu território.

A decisão pôs fim a uma década de amargas discussões no seio do Partido Comunista Norte-Vietnamita entre duas correntes:
 

– uma que pregava a coexistência quase pacífica e a anexação do Vietnam do Sul por meios políticos. Era liderada pelo teórico do Partido Truong Chinh e o líder militar Vô Nguyen Giap.
– a outra facção, que pregava o estilo de chinês de anexação pela força era liderada pelos irmãos Le
Le Duan, Primeiro Secretario do Partido, e seu irmão Le Duc Tho.


No meio da década de 60 os “ linha-dura” haviam assumido a direção da guerra contra o Sul.

A base do plano de ataque criado pelo Gen. Nguyen Chi Thanh era a idéia que tinham os norte-vietnamitas de que o povo sul-vietnamita já não agüentava mais nem a corrupção e incompetência militar de seus líderes civis e militares, bem como a presença cada vez maior de tropas norte-americanas em seu território, e que estaria pronto para um levante geral. Bastava apenas uma fagulha para iniciar o incêndio que iria derrubar os odiados líderes sulistas e permitir que o sofrido povo sul-vietnamitas recebesse de braços abertos seus irmãos do norte…

Gen. Nguyen Chi Thanh

Após apresentar ao Politburo seu plano e vê-lo aprovado, Thanh compareceu a uma recepção, onde embebedou-se e sofreu um ataque cardíaco, vindo a falecer. O comando passou então para o General Giap, o homem que já havia derrotado os franceses em Diem Bien Phu. Entrava em cena o maior estrategista da Guerra do Vietnam.

A primeira fase seria precedida por ataques diversionários em várias áreas fronteiriças, o que atrairia a tenção das forças do sul e os afastaria dos alvos principais que eram as cidades e vilas escolhidas. O ataque principal seria então lançado contra estes alvos e contra bases militares aliadas, especialmente as de operações aéreas, como Da Nang, que eram o flagelo dos norte-vietnamitas. Acreditavam que sem apoio aéreo, as tropas aliadas seriam presa fácil para os fanáticos vietcong e os bem treinados soldados do PAVN.

Especial atenção seria dada à base norte-americana de Khe Sahn, cuja segurança imobilizva consideráveis forças norte-vietnamitas de suas funções de ataque.

Porém, Giasp considerava essencial neutralizar Khe Sahn para garantir suas linhas de suprimento. O que ele não sabia era que os US Marines de Khe Sahn não estavam dispostos a colaborar com seu plano…

O esforço do Vietnam do Norte em preparar suas tropas foi enorme. Envolveu, por exemplo, rearmar todo o NLF com os novos fuzis de assalto AK-47 recém chegados da URSS e China, bem como a farta distribuição de lança-mísseis portáteis B-40, conhecidos como RPG.

Os serviços de Inteligência do Vietnam do Sul e dos EUA estimavam a força inimiga em cerca de 323.000 homens, sendo 130.000 PAVN regulares, 160.000 NLF e outros 33.000 como tropas de suporte e serviços.

Sinais de que alguma coisa sem precedentes estava sendo preparada não passaram desapercebidos entre os comandos aliados. Documentos e prisioneiros capturados por unidades aliadas, e observações de forças SOF davam conta de um grande aumento na atividade inimiga no Laos, conhecido santuário do NLF, e também no próprio Vietnam do Norte.

Gen. William Westmoreland – CO MACV USA Gen. Vô Nguyen Giap – CO PAVN Army

Ainda assim, os aliados foram surpreendidos pela magnitude e ferocidade dos ataques iniciais, pois como sempre, os comandos superiores tendem a negligenciar as informações dos serviços de inteligência, por julgá-las “ exageradas e alarmistas”.

Durante o verão de 1967, uma patrulha dos Marines topou com um ataque pesado de tropas do PAVN que seria deflagrado contra Khe Sahn. Quando a luta terminou, 940 PAVN e 155 Marines haviam morrido.

Em outubro, um batalhão do ARVN alojado na capital provincial de Song Bhe achou-se sob súbito ataque de todo um regimento PAVN.

Dois dias depois, outro batalhão PAVN atacou uma base de Forças Especiais americanas em Loc Ninh, iniciando uma batalha que durou dez dias, envolvendo unidades da 1st Cav americana e da 18th ARVN Division, deixando no final 800 PAVN mortos.

Alguma coisa muito grande estava por acontecer…

Em 28 de janeiro de 1968 onze NLF foram capturados na cidade de Qui Nhon. Com eles foram encontradas duas fitas com discursos que incitivam o povo sul-vietnamita a “ ocuparem Saigon, Hue e Da Nang”. Imediatamente o ARVN foi colocado em alerta total. Porém o Gen. Westmoreland, CO das tropas americanas no Vietnam, não demonstrava a mesma preocupação, e suas unidades não foram alertadas.

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