Kristinn Hrafnsson: “O WikiLeaks não quer ser único”

LETÍCIA SORG

Quando divulgou o vídeo Assassinato colateral, que mostrava soldados americanos atirando em civis na Guerra do Iraque, o WikiLeaks incomodou o governo dos Estados Unidos e passou a ser alvo de uma investigação por vazamento de dados sigilosos. Julian Assange, fundador do site, afirma que é vigiado pela espionagem americana. Ele alega que o processo por violência sexual movido contra ele por duas suecas é uma tentativa de silenciá-lo.

A organização teme que sua possível extradição para a Suécia possa abrir um precedente para levá-lo aos EUA. Kristinn Hrafnsson, porta-voz do WikiLeaks, diz que a ideia de vazamento de documentos já se disseminou e vai continuar – com ou sem Assange.

QUEM É
Jornalista islandês de 49 anos, conheceu o WikiLeaks em 2009, quando fez uma reportagem sobre a falência do sistema financeiro de seu país. Trabalha no site desde o ano passado

O QUE FAZ
Como porta-voz do WikiLeaks, ajuda a filtrar e divulgar o material enviado por fontes anônimas

ÉPOCA – Como o senhor avalia o resultado das ações do WikiLeaks até agora?
Kristinn Hrafnsson – O WikiLeaks existe desde 2006 e saiu praticamente do anonimato para se tornar uma fonte de informações importantes sobre corrupção e injustiça cometidas por empresas e governos. Ele também revitalizou o jornalismo investigativo. Mostrou a possibilidade de usar caixas postais eletrônicas para receber documentos e ferramentas como bases de dados.

ÉPOCA – Vários sites nos moldes do WikiLeaks estão surgindo pelo mundo. O que o senhor acha disso?
Hrafnsson – No geral, acho muito positivo. Porém, há problemas, como o fato de alguns sites não oferecerem a proteção necessária para o anonimato das fontes, condição fundamental no modelo do WikiLeaks. Um dos casos é o Wall Street Journal, que está tentando imitar nosso sistema, mas não dá o suporte técnico e legal para quem entrega as informações. Hoje temos mais de 20 sites que seguem os preceitos do WikiLeaks, como o BrusselsLeaks, o EnviroLeaks, Balkan Leaks, OpenLeaks. O objetivo do WikiLeaks é difundir a ideia, não ser o único competidor nesse mercado – mas as pessoas têm de avaliar os projetos e decidir quais são confiáveis.

ÉPOCA – Osoldado americano Bradley Manning foi preso sob a acusação de ser a fonte do vazamento das informações sigilosas do Exército ameri-cano. Isso fere a credibilidade da organização?
Hrafnsson – É preciso ter cuidado ao falar de Manning. Ele é supostamente a fonte de parte do material sobre a guerra no Afeganistão, mas Julian disse que nunca havia escutado seu nome até ele ser mencionado na mídia. Julian sempre dizia que a melhor maneira de proteger uma fonte era não saber quem ela era, e esse é um dos ideais do WikiLeaks. Se ele é mesmo a fonte, é um dos maiores denunciantes das últimas décadas.

ÉPOCA – Recentemente, o governo brasileiro cogitou manter alguns documentos sob sigilo eterno sob a alegação de que sua divulgação poderia causar danos. O que o senhor acha disso?
Hrafnsson – Não devemos acreditar na repercussão negativa de uma informação sigilosa sem antes ouvir argumentos concretos. É claro que pode haver consequências negativas. Mas devemos nos perguntar também quais são os prejuízos de guardar segredos. Por causa do segredo, foi fácil iludir a população sobre as armas de destruição em massa no Iraque, o que justificou a invasão do país.

ÉPOCA – Há quem diga que a organização colocou a vida de informantes afegãos em risco ao divulgar, sem censura, documentos sobre a guerra no país.
Hrafnsson – Dos 90 mil documentos sobre a guerra no Afeganistão, 15 mil não foram divulgados dentro da política de minimizar danos. Apesar desse cuidado, alguns poucos nomes foram mencionados. Mas nenhuma pessoa sofreu qualquer dano por causa disso.

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