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Financiamento de “ponta de lança” no Leste Europeu é novo desafio para OTAN

"Os detalhes serão trabalhados nas próximas semanas", afirmou o secretário-geral da Otan, Anders Fogh Rasmussen, após a reunião de cúpula da Otan no País de Gales, ao responder sobre quantas tropas irão compor a nova força de reação rápida e quem iria arcar com os custos adicionais. Quando se trata de dinheiro, os funcionários da aliança rapidamente ficam monossilábicos. Não só com relação a este último projeto, mas também com relação a gastos de defesa como um todo.

Há muitos anos que a nação que lidera a Otan, os Estados Unidos, reclama que a grande maioria dos aliados europeus vem reduzindo seus orçamentos militares. Um alto diplomata da Otan observa que apenas os EUA, Reino Unido e, em certos casos, a França, dispõem de tecnologia de ponta e armas com capacidade para realizar ataques aéreos em todo o mundo.

O objetivo dos 28 países da aliança deveria ser gastar cerca de 2% de seus respectivos PIBs com defesa. No entanto, apenas quatro aliados alcançaram esta meta no ano passado, segundo um estudo interno da Otan: Estados Unidos, Reino Unido, Grécia e Estônia. A Alemanha gastou 1,3%. A meta orçamental "mágica" de 2% do PIB foi agora, mais uma vez, estabelecida na cúpula no País de Gales. Entretanto, segundo a declaração final da cúpula, ela só deverá ser alcançada em dez anos.

A "obrigatoriedade" de se gastar anualmente a quota, como esperada pelo secretário-geral da Otan, foi excluída às pressas pelos chefes de Estado e de governo do rascunho do documento final da cúpula. Segundo fontes das delegações, sobretudo Canadá e Alemanha resistiram à ideia. A formulação que ficou foi "temos como meta alcançar". É uma diferença diplomática sutil, mas importante. Especialmente os Estados Unidos, de acordo com um diplomata Otan, teriam ficado novamente decepcionados com a decisão.

Durante entrevista coletiva, o presidente Barack Obama deixou sem resposta a pergunta de um jornalista que queria saber se ele ficou satisfeito com os compromissos financeiros de seus aliados. O presidente dos EUA disse apenas que um aumento nos gastos de defesa já é necessário somente considerando o financiamento dos projetos atuais, envolvendo, por exemplo, o trabalho de inteligência e de defesa antimísseis.

Para a nova força de intervenção multinacional e para encurtar o tempo de resposta das unidades existentes da chamada Nato Response Force (NRF), os Estados-membros, que vão fornecer essas tropas em regime de rotatividade, também precisarão gastar mais. Fontes ligadas ao comandante supremo da Otan na Europa, general americano Philip Breedlove, afirmam que os mais recentes planos da aliança exigirão 60 milhões de dólares ao longo dos próximos dez anos.

O secretário-geral da Otan, Anders Fogh Rasmussen, disse que não é possível se esperar agora dez anos para levantar esse dinheiro. "Os custos vão incorrer já neste e no próximo ano", previu. Diplomatas afirmam que quem quiser deixar claro para a Rússia que a Otan está pronta para se defender, deve ser capaz de demonstrar que pode gastar.

A Otan registra há anos um aumento nos gastos da Rússia com suas as forças armadas. "Eles reformaram e atualizaram maciçamente", avalia um oficial da Otan, durante uma conversa reservada. De acordo com o Instituto Internacional de Estudos da Paz de Estocolmo (Sipri), Moscou gasta 4,1% de seu PIB em defesa. Os EUA gastam 3,8% e são, em números absolutos, com folga, os líderes mundiais neste aspecto, com 618 bilhões de dólares.

Orçamento da aliança é reduzido

O primeiro-ministro britânico, David Cameron, foi o primeiro a anunciar compromissos concretos. Ele quer contribuir com 3.500 homens para a nova "ponta de lança". A chanceler alemã, Angela Merkel, apenas conseguiu definir concretamente durante a cúpula o envio de 60 soldados, especificamente, para atuarem em um quartel-general da Otan na Polônia.

O ex-general da Otan Harald Kujat disse em entrevista à DW, que as Forças Armadas alemãs encolheram demais. Ele acredita que a tropa não precisa de mais reformas, após ter sofrido seis reformas nos últimos anos, e sim uma correção de curso. Ele afirma que é necessário corrigir o rumo para ser capaz tanto de defender com forças terrestres convencionais, como de participar de missões internacionais com armamento mais leve.

Na sede da Otan em Mons, cresce a esperança de que a ameaça representada pela política russa faça crescer a disposição de se aumentar os gastos militares. O presidente dos EUA, Barack Obama, já colocou sobre a mesa, antes da cúpula em Newport, durante uma visita a Varsóvia em junho, um bilhão de dólares para aumentar a prontidão militar no Leste Europeu. Ele afirmou no País de Gales que pretende financiar a contribuição americana para a nova "ponta de lança" a partir dessa mesma fonte.

Diplomatas da Otan observam que a aliança tem um orçamento comunitário relativamente pequeno. Diferentemente da União Europeia, não há contribuições obrigatórias neste clube da defesa. "Os custos são suportados por aquele sobre o qual eles caem", é a regra simples na Otan: "costs lie where they fall". Isto tem como consequência que muitas vezes a disposição de avançar nem sempre é grande, de acordo com diplomatas da aliança. "Quem diz primeiro sim, tem que pagar", afirmam.


Financiamento contínuo

De acordo com informações da imprensa canadense, a ministra alemã da Defesa, Ursula von der Leyen, tentou tirar um pouco do calor de negociações antes da cúpula, dizendo que a qualidade das despesas era tão importante quanto a quantidade de dinheiro gasto. De acordo com a resolução da cúpula, 20% das despesas com defesa devem supostamente ser destinados a novas armas e investimentos, mas apenas a alguns Estados-membros podem conseguir isso. A maior parte do dinheiro será usada para despesas com pessoal e gastos pecuniários associados.

A luta sobre financiamento vai certamente continuar na Otan. Quase todos os secretários-gerais da organização tentaram liberar mais recursos dos Estados-membros. A "partilha de encargos" tem sido uma preocupação nos últimos 25 anos, pelo menos. "Parte do meu trabalho é, infelizmente, correr com a sacolinha de coleta", disse certa vez o então secretário-geral Jaap de Hoop Scheffer. Talvez o novo secretário-geral, Jens Stoltenberg, que toma posse em 1° de outubro, tenha mais sorte na coleta.

 

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